Opinião
Sim, o inferno existe
Sim, o inferno existe
De CLÁUDIO DI MAURO*
Há quem acredite que o inferno é um local definido para que os pecadores, após a morte, expiem, no resto dos tempos, o pecado de não terem vivido com base nos princípios cristãos. Mas, quais princípios cristãos? Dos pastores “vendilhões dos templos”?
Também há os que acreditam na existência de um local com o cognome de umbral, onde os viventes que desrespeitaram as normas que estabelecem o respeito a Deus passarão um longo tempo expiando suas faltas cometidas em outras vidas.
Enfim, o inferno existe para esses “crentes”, em modelos diferentes. Eles estão certos? Afinal, o inferno existe?
Nestes dias, temos a confirmação de que realmente o inferno existe e confina milhares de vidas humanas.
Temos visto a que situação seres humanos foram relegados, sujeitos a sofrimentos intermináveis, capazes de levá-los à morte, obrigados a beber água com mercúrio em consequência de atividades minerárias indevidas e com as quais há conivência governamental. Invasões e morte para usurpar seus lugares de vida, promovidas por garimpeiros e madeireiros, têm sido denunciadas constantemente.
São seres humanos que não são tratados como gente, mas como animais, embora nem a animais caiba infligir tanto sofrimento. São horríveis, produzidas por Mitos e seus asseclas, capazes de instituir o inferno.
Nesta semana, morreu a mulher Yanomami fotografada em suas horas finais de vida, transformada em pele e ossos, sem forças para ficar em pé, ostentando fraqueza completa e sendo levantada por outras pessoas para ser fotografada. Reprodução e exposição das imagens dessa mulher nos fazem identificar o inferno em que ela viveu e no qual estão confinados os povos Yanomami.
São mais de 500 crianças Yanomami mortas por inanição, neste país que é uma das maiores economias do mundo! Aqui, durante a pandemia de covid 19, ricaços ficaram ainda mais “trilionários”, enquanto milhares de pessoas morriam por falta de vacinas. Povos de nações indígenas foram condenados à morte pela tortura da fome e pela falta de atenção à saúde. Como pode haver tanta insanidade?
Precisamos de tantos sofrimentos humanos para cairmos na realidade? Precisamos conviver com o inferno?
Mas, se temos o inferno, claramente localizado, onde estão os demônios? Afinal, quem são os capetas?
Quem teria declarado que os Estados Unidos fizeram o certo ao exterminar os povos nativos pela ação de sua cavalaria, o que não aconteceu no Brasil? Ou seja, o inferno já esteve na América do Norte ou da América da Morte!
Quanta insensibilidade, típica daqueles que se entende como demônios, mas que se apresentam como salvadores da pátria! Pátria de alienados, insensíveis, alguns enganados por ideias e campanhas mentirosas.
Quem teria declarado que as nações indígenas não teriam demarcação de nem mais um centímetro de terra para nela viverem? Afirmações delirantemente aplaudidas por quase metade do eleitorado brasileiro.
Quem teria declarado que autorizaria, e de fato autorizou, a implantação da exploração minerária e madeireira em terras das nações indígenas? Matanças e extermínios de culturas!
Quem teria impedido que chegasse socorro para populações submetidas à covid 19? Mais uma demonstração de que o intento era exterminar do território brasileiro tais culturas ancestrais. Veja-se a gravidade dessa realidade!
Nessas decisões e outras, de igual naipe, estavam e estão expressas as regras para a manutenção do inferno.
Não há como desconsiderar que se trata intencionalmente de genocídio! Tudo em nome de Jesus Cristo, intermediado por “igrejas” e seus representantes. Tudo para garantir o economicismo que mantém o capitalismo. Lacaios do interesse econômico e financeiro.
Só esse exemplo já demonstra a diferença entre olhares e dedicação do governo nazifascista e os de um governo que enxerga os povos enfraquecidos e lhes diz, com Silvio Almeida: “Vocês Existem! Vocês são importantes para nós!!!”.
Chegou a hora de se acabar com esse modelo de inferno! Devemos oferecer nossa contribuição para essa transformação!
*Geógrafo e ambientalista, docente em Planejamento e Gestão Urbana, e também em Territorial e de Bacias Hidrográficas.
Imagem em Pixabay.
As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.
Toque novamente para sair.