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Opinião

Sérgio da Costa Franco – Resgate

Sérgio da Costa Franco – Resgate

Artigo por RED
20/03/2023 05:25 • Atualizado em 21/03/2023 08:25
Sérgio da Costa Franco – Resgate

De ADELI SELL*

Porto Alegre e o Rio Grande do Sul nunca vão conseguir pagar sua dívida com Sérgio da Costa Franco.

Faleceu em outubro de 2022. E em 2022 Porto Alegre festejou seus 250 anos. Deveria ter sido o ANO SÉRGIO DA COSTA FRANCO. Não foi. Estava vivo. Isto eu registro. Isto eu cobro. E faço este RESGATE para que não se esqueça dele e de suas façanhas.

Sim, ele fez façanhas.

Nasceu em Jaguarão em 1928. Tem 29 livros publicados. Era de uma família de oito filhos. Com a morte prematura do pai, a mãe e filhos vieram para Porto Alegre, em 1935. Formado em Geografia e História. Lecionou. Estudou Direito. Tornou-se Promotor de Justiça.

Seu primeiro trabalho específico sobre Porto Alegre foi o livro que conta detalhadamente a História da Praça do Comércio e a formação da Associação Comercial, dando um quadro da economia e da história da cidade de então.

São clássicas obras como Porto Alegre – Guia Histórico; Porto Alegre ano a ano; A Velha Porto Alegre; Porto Alegre sitiada (um livro corajoso, tocante, verdadeiro); Dicionário Político do Rio Grande do Sul, entre tantas outras.

Porto Alegre ano a ano inspirou o economista e memorialista Paulo Timm a nos propor um Cronoletes, Porto Alegre 250 anos, um site com verbetes por ordem cronológica, acompanhando em parte o que o Sérgio da Costa Franco nos legou.

Em 1967, Sérgio lançou seu Júlio de Castilhos e sua época. Naquele momento, o nosso historiador via com maior ânimo a sua figura do caudilho positivista, que foi mudando um pouco ao longo dos anos, sendo mais crítico.

A guerra civil de 1893, que ele lança em 1993, no centenário daquela guerra que ficou conhecida como “das degolas”, ele tem uma visão bem mais crítica dos chimangos. Em minha opinião é o livro mais elucidativo daquele episódio. Não me esqueço dos livros Cinco Tumbas de Gumersindo Saraiva, de Ricardo Ritzel; Um tal Adão Latorre, de Nilson Mariano ou os escritos do casal Flores sobre este evento.

Em 1988 veio o icônico e mais completo livro sobre nós: Porto Alegre: guia histórico. Recentemente, consegui a 5ª. edição, ampliada e revisada, com uma bela capa, escolhida a dedo pelo autor. Louvo a Martins Livreiro e a Edigal pelo esforço de lançar muitas de suas obras.

Antes, 1967, tinha surgido: Porto Alegre ano a ano: uma cronologia histórica 1732/1950. Resta que nós tratemos de fazer seu complemento de 1950 até 2002, pelo menos, ano dos nossos 250 anos.

Muito foi escrito por viajantes e muito se escreveu sobre eles, e Sérgio nos legou Os viajantes olham Porto Alegre: 1890-1941.

Outro texto que nos trouxe luzes foi A pacificação de 1923: as negociações de Bagé. Sobre este episódio e Assis Brasil tem muitos escritos, mas restam elementos a serem estudados, sendo alguns deles apontados neste escrito.

Como bom historiador e Memorialista, nos deixou uma leitura obrigatória: As “califórnias” do Chico Pedro. Sem isso, não se entende como os farrapos foram derrotados na capital.

Na verdade, foi com Porto Alegre sitiada: um capítulo da Revolução Farroupilha: 1836-1840, e com o Califórnias que ficamos sabendo das razões “imperiais” da capital, ou melhor, por que razão os farrapos não tinham tanta razão como alguns alardeiam. Nunca foi um levante universalista. Apenas o jornalista Walter Galvani foi outro corajoso em abordar este tema.

Neste apanhado não esqueço grandes historiadores como Sandra Jatay Pesavento, Francisco Riopardense Macedo, e escritos como os do Juremir Machado da Silva, em textos dos jornalistas atuais.

Ainda temos o emblemático e despido de adjetivos Dicionário político do Rio Grande do Sul, 1821-1937. Até então havia livros que falavam de figuras da política local, mas muito que líamos eram textos laudatórios. Aqui, temos fotografias, sem retoques e poucos adjetivos.

Com estes elementos não esgoto a obra do mestre.

O livro Guia Histórico nos traz uma pesquisa em fontes primárias, como era de seu feitio, sobre os elementos fundantes da cidade, como agiam seus intendentes, a relação com o governo do Estado, com a União, com a Câmara Municipal. Aprendemos que a estrutura estatal em nenhum dos níveis se iguala com a atualidade. É também até agora é o “guia” mais completo sobre denominação de logradouros.

É claro que em termos numéricos há centenas e centenas de ruas a merecer estudos, para saber as razões das denominações. A precarização de dados como de registros sobre denominações nos arquivos públicos é grande, sendo o livro de Sérgio uma forma adequada, ágil e certeira de termos certos dados.

Estudos que faço há tempos já deram o livro Certas ruas de Porto Alegre e, em breve, por inspiração do mestre Sérgio da Costa Franco, poderei apresentar um apanhado sistematizado, com novos e velhos dados.

Que a Memória, sob a batuta de Kronos, não deixe que o Esquecimento nos atrapalhe.


*Escritor, professor e bacharel em Direito.

Imagem de divulgação da capa do livro de Sérgio da Costa Franco.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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