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Sem Anistia para Golpistas
Sem Anistia para Golpistas
Por MARCIA BARBOSA*
No Brasil, até o passado é incerto”. Esta frase dita pelo José Murilo de Carvalho imortal pela Academia Brasileira de Letras e Academia Brasileira de Ciências expressa uma verdade brasileira de que nossa memória enterra o passado inconveniente. Uma história não adequadamente registrada, é recontada com tons atenuantes, quase fantasiosos. A ditadura militar brasileira não foi nem tão branda como pregam e nem tão boa gestora como seus defensores tentam fazer as novas gerações acreditarem. A imposição de uma única forma de pensar, implica falta de diversidade e, consequentemente. uma baixa eficiência [1]. Afinal, como diria Nelson Rodrigues: “toda a unanimidade é burra”. Mas o regime repressivo foi além de sua homogeneidade destruidora da criatividade e inovação, ceifou vidas.
Recordar, mesmo memórias desconfortáveis é fundamental para não repetirmos os mesmos erros. Neste sentido, a Universidade Federal do Rio Grande o Sul no dia 10 de Dezembro constituiu a Comissão da Verdade Enrique Serra Padrós, não por acaso no dia Internacional dos Direitos Humanos. O nome da comissão é uma homenagem ao pesquisador já falecido que dedicou-se a estudar as ditaduras e suas violações de direitos humanos no Cone Sul. A comissão coordenada pela professora Roberta Baggio da Faculdade de Direito terá o papel não somente de reconstituir a história dos 41 docentes expurgados da UFRGS entre os anos de 1964 e 1969 [2], mas igualmente de encontrar outros nomes entre docentes, estudantes e técnicos-administrativos da UFRGS que foram perseguidos nos tempos da ditadura militar. A história destas pessoas que tanto lutaram pela democracia precisa ser recordada para nunca esquecermos o quanto tivemos que lutar para ter o direito ao voto e à voz.
Esta nossa frágil democracia continua a ser ameaçada como bem mostrou a tentativa de golpe em 8 de Janeiro de 2023. Em nome de uma pacificação, alguns sugerem um perdão àqueles e àquelas que tentaram usurpar o nosso voto. Para os pacificadores de plantão recordamos o refrão do Rappa: “paz sem voz não é paz, é medo”. É nosso maior instrumento de luta recontarmos a história dos perseguidos pela ditadura e bradarmos como o fizemos no dia 10 de Dezembro no Salão de Atos da UFRGS: “Sem Anistia”.
[1] Vivian Hunt Dennis Layton Sara Prince, Diversity Matters. https://www.mckinsey.com/insights/organization/~/media/2497d4ae4b534ee89d929cc6e3aea485.ashx
[2] Quem Somos: Expurgos na UFRGS .
https://www.ufrgs.br/expurgos/quem-somos/
*Marcia Barbosa é Professora do Instituto de Física da UFRGS.
Foto de capa: Marcelo Camargo/Agência Brasi
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