Opinião
Roboas chegam à zona
Roboas chegam à zona
De EDELBERTO BEHS*
Juvenal ouvira no rádio ou lera entrevista, não se lembrava mais como chegou à informação, de que até 2030, indicam previsões, 800 milhões de humanos serão substituídos por robôs. Esse dado vinha martelando o seu cérebro há dias.
Não se aguentou e consultou um desses nerds da computação. A informação procede? – indagou.
– Tem toda a probabilidade de se materializar, recebeu como resposta. Saiu mais encucado ainda. Como será o futuro do seu negócio? Ele era dono do maior e mais sofisticado cabaré da cidade.
Já não dormia direito, só com esse detalhe na cabeça. Voltou a procurar o nerd, desta feita com uma pergunta direta:
– É possível substituir as profissionais da casa por robôs? Sim, robôs, que fariam carícias, gemeriam e dariam aquele suspiro final no ato de gozar.
O nerd prometeu analisar a possibilidade. Dias depois, deu o veredito: sim, seria possível construir robôs em substituição às moças da casa. Quantos robôs necessitaria, todas deveriam ser da mesma altura, magras, cinturas finas, pernas grossas, da mesma cor?
Não, respondeu Juvenal. Quero variações, inclusive robôs que gozariam em inglês, alemão, italiano, francês e, claro, português… As profissionais de lata deveriam vir com um botão anexado numa das laterais onde o cliente faria as escolhas: quanto tempo de carícias, minutos até alcançar o clímax, e em que idioma seria a transa.
Bom, rebateu o nerd, tudo é possível. Mas como não se trata de uma produção em série, mas individualizada, o custo aumentaria substancialmente. Juvenal não teve dúvida: o preço é o de menos, se as profissionais, que estão sujeitas à dor de cabeça, menstruação, falta de disposição, possam ser substituídas.
Depois, seria “A” novidade em toda a região, robôs no cabaré para satisfazer a libido de homens vorazes e sedentos de uma noitada prazerosa. Ou seriam roboas? A nomenclatura não importa, desde que sejam boas, sempre disponíveis, sem exigir participação nos lucros, sem carteira assinada, férias, talvez só uma carga de eletricidade a cada final de noite. A trabalhadora ideal, segundo concepção de muitos empregadores.
Juvenal encomendou 25 roboas. Pagou uma nota. Levou-as ao cabaré e apresentou-as às profissionais, que não foram dispensadas de imediato, porque o dono da casa queria primeiro se certificar da eficácia das novas moçoilas. Lá estavam roboas de minissaia, saiotes, blusas bem decotadas…
As mulheres que trabalhavam na casa há anos ficaram indignadas e não aceitaram a intromissão das profissionais de lata. Ameaçaram chamar o sindicato, o Procon, o delegado de costumes, o padre, o juiz de paz… Armaram um banzé danado.
Sob a liderança da Luciene, a trabalhadora mais antiga, fizeram uma reunião rápida e tiraram uma proposta: a partir de agora elas só transariam com robôs machos e não aceitariam mais clientes humanos. E, se dispensadas, abririam sua própria casa.
Apresentaram a proposta a Juvenal, que ficou tremendamente surpreso. Elas inverteram o jogo, admitiu Juvenal. E refletiu: se mantiverem a ameaça, elas vão humilhar os tradicionais clientes da casa, mexer com a masculinidade deles. Isso não vai acabar bem. Isso será um escândalo na sociedade das pessoas de bem.
Juvenal pediu um tempo para dar uma resposta. Continuou não dormindo direito, aliás, agora pior ainda, pois essa humilhação do machismo acabaria com o lucrativo negócio dele. Mas o que fazer com as roboas, que estavam prontas para entrar em ação, bastando dar-lhes uma carga elétrica?
Antes de abrir a casa, na noite seguinte, Juvenal reuniu as meninas e concordou em cancelar a introdução das roboas. A partir do dia seguinte cidadãos passaram a ouvir, sem nada entender, gemidos em alemão, italiano, francês, inglês e português das novas agricultoras na colheita de milho na fazenda do Juvenal.
*Professor, teólogo e jornalista.
Imagem em Pixabay.
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