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Opinião

Retrospectiva da economia brasileira em 2023

Retrospectiva da economia brasileira em 2023

Artigo por RED
31/12/2023 05:30 • Atualizado em 01/01/2024 23:11
Retrospectiva da economia brasileira em 2023

De FERNANDO NOGUEIRA DA COSTA*

Minha expectativa para o próximo ano é todos os economistas previsores, em nome de O Mercado, mais uma vez, errarão em suas previsões de ano novo.

Pontos Positivos: 

inflação acumulou no ano de 2023 (até outubro) 3,75%. O IPCA acumulado nos últimos 12 meses atingiu de 4,82% contra o IPCA acumulado de 2022 de 5,78%.Resultado de uma inflação inercial pouco abaixo de 6% aa, há 20 anos, exceto 2015 com 10,67% e 2021 com 10,06% “fora-da-curva”, devido a choques de preços administrados, “descongelados” para realinhamento de preços relativos, e a choques cambiais.

inflação do Brasil, no ano corrente, se assemelha à do Uruguai (4,96%), Peru (3,64%), México (4,26%), e fica abaixo da Colômbia (10,48%). Fica acima da dos Estados Unidos (3,2%) e da Zona do Euro (2,4%). Na comparação com o BRIC, fica abaixo da Rússia (6,7%), iguala à da Índia (4,87%) e acima da inflação na China (-0,2%).Foram superados os problemas de quebra das cadeias produtivas e comerciais globais, devido ao distanciamento social causado pela pandemia.

O PIB cresceu em todos os trimestres, atingindo 3,1% no terceiro trimestre de 2023. O crescimento econômicono Brasil acompanha o consumo das famílias (62% do PIB) e os serviços (67% do valor adicionado).

Nas atividades econômicas, a taxa (%) acumulada nos últimos quatro trimestres (contra os quatro trimestres imediatamente anteriores) foi de 2,8% em Serviços, diante 14,4% em Agropecuária (6,7% do VA) e 2% na Indústria (26,3% do VA). Essa desindustrialização contínua talvez possa ser atribuída à Maldição do Pato Amarelo, patrocinado pelo golpismo da FIESP contra a presidenta reeleita democraticamente.

Por sua vez, a Conquista do Cerrado, graças à tecnologia da EMBRAPA, o financiamento do BNDES das compras das máquinas agrícolas e o desenvolvimento nacional desta indústria. Tudo isso propiciou o Brasil se tornar olíder nas vendas externas de soja em grão, carne bovina, frango, celulose, café, açúcar, milho, em dados referentes à safra 2022/2023.

exportação cresceu, principalmente, devido a produtos agropecuários, extrativa mineral e petróleo. A importaçãocaiu, concentrada em máquinas e equipamentos, produtos químicos, derivados de petróleo e produtos farmacêuticos.

Na análise da demanda, a Despesa de Consumo das Famílias cresceu 3,7%, a Despesa de Consumo do Governo teve alta de 1,0% e a Formação Bruta de Capital Fixo caiu 1,1%. Já no âmbito externo, as Exportações de Bens e Serviços (10,3%) cresceram enquanto as Importações de Bens e Serviços (-0,1%) apresentaram variação negativa no período.

taxa de desemprego caiu para 7,6% no trimestre móvel encerrado em outubro de 2023, abaixo do mesmo período de 2022 (8,3%), segundo a PNADC-IBGE. Trata-se da menor taxa de desemprego para o trimestre encerrado em outubro, desde 2014, quando estava em 6,7%. Chegou a 13,9% em março de 2017 e atingiu 14,9% em março de 2021.

número de trabalhadores ocupados no paísultrapassou pela primeira vez a marca de 100 milhões, recorde na série históricaDesocupados diminuíram para8,3 milhões.

DLSP (Dívida Líquida do Setor Público) atingiu 60,0% do PIB (R$ 6,4 trilhões) em outubro de 2023. A DBGG – Dívida Bruta do Governo Geral (Federal, INSS e governos estaduais e municipais) – atingiu 74,7% do PIB (R$7,9 trilhões). No ano, o crescimento de apenas 1,8 p.p. na relação DBGG/PIB resultou sobretudo dos juros nominais apropriados (aumento de 6,4 p.p.) e do efeitoreducionista da variação do PIB nominal (redução de 4,7 p.p.).

Os investimentos em infraestrutura deverão crescer 19,6% em 2023. A alta reflete tanto a retomada expressiva dos aportes públicos, quanto um volume recorde de recursos privados, destinados a concessões e PPPs no país.

total de investimentos nos setores de transportes, energia elétrica, saneamento básico e telecomunicações deverá encerrar o ano em R$ 213,4 bilhões, chegando próximo ao pico vivido em 2014. Nos últimos anos, o país registrava uma queda brusca nos valores, devido à estagflação e aos cortes de gastos dos governos pela Lei do Teto. Sua revogação foi um ponto extremamente positivo!

Os aportes públicos reverteram a contínua queda do período 2015-2022 e atingiram R$ 47,7 bilhões, aumento de 44% na comparação com 2022. A maior parte das obras ainda vem do setor privado com R$ 165,7 bilhões investidos, o maior nível já registrado na série histórica.

Segundo projeções da ABECIP, a concessão de novos empréstimos para aquisição da casa própria deve fechar 2023 com o terceiro melhor volume da história, atrás apenas de 2021 e 2022. Foram financiamentos habitacionais para comprar imóveis usados.

Pontos Negativos:

A taxa acumulada nos últimos 4 trimestres contra 4 trimestres anteriores (sem sazonalidade) da construção de imóveis novos foi de apenas 0,5%. Houve decréscimo da ocupação na construção civil.

Mesmo com seguidos superávits no balanço comercial, devido à exportação de commodities, o balanço de transações correntes do Brasil só esteve superavitário de 2003 a 2007. Grande parte do agronegócio, apesar de impulsionar as exportações, é de propriedade estrangeira, bem como multinacionais possuem a maior parte da indústria aqui instalada. Em consequência, há grandes remessas de dividendos e juros para o exterior. Somam-se aos pagamentos de serviços como viagens e transportes.

Na conta financeira do balanço de pagamentos, a entrada líquida de Investimento Direto no País (IDP) segue em patamar superior ao déficit esperado para as transações correntes. É um círculo vicioso desnacionalizante.

montante dos juros nominais pagos no setor públicoconsolidado somou no acumulado em doze meses, R$ 720,1 bilhões (6,80% do PIB) em outubro de 2023, ante R$ 573,2 bilhões (5,88% do PIB) nos doze meses até outubro de 2022. Um crescimento de ¼ de trilhão de reais no último ano com a política monetária de fixação de juros reais disparatados em relação ao resto do mundo.

resultado nominal do setor público consolidado, incluindo o resultado primário e os juros nominais apropriados, foi deficitário no acumulado em doze meses. Esse déficit nominal alcançou R$ 834,3 bilhões (7,88% do PIB). Logo, subtraindo deste valor os juros pagos pela fixação do Banco Central do Brasil ao longo desse período, sobra apenas R$ 114,2 bilhões de déficit primário no ano corrente de ajustes da “herança maldita”.

Em outubro de 2023, o volume financeiro aplicado pelos 70.580 grupos econômicos por domicílio (157.352 contas) do Private Banking atingiu R$ 1,979 trilhão (US$ 401 bilhões ou 373 bilhões de euros). O crescimento no ano corrente foi de 6,38%.

Para comparar, as 132,6 milhões de contas do Varejo Tradicional acumularam R$ 1,871 trilhão ou R$ 14.103 per capita e as 15,4 milhões de contas do Varejo de Alta Renda, R$ 1,619 trilhão ou R$ 105.283 per capita. A média per capita das contas (CPF) do Private Bankingatingiu R$ 12.579.690,39.

A economia brasileira continua presa na armadilha da estagdesigualdadeestagnação no fluxo de renda e concentração no estoque de riqueza financeira.

Quanto à concentração de renda, em relação aos salários dos conselheiros de Administração no Brasil, umlevantamento indica: quase 80% recebem um pagamento mensal entre US$ 2.033 e US$ 6.097. A faixa salarial por sessão está entre US$ 2.000 e US$ 6.100, e a faixa salarial mensal está entre US$ 2.000 e US$ 6.000, independentemente do volume de negócios da empresa e para quase todos os setores. O ranking dos quinze CEOs mais bem pagos no Brasil, em 2021, ia de R$ 21 milhões a R$ 59 milhões, ou seja, de US$ 4 milhões a US$ 12 milhões anuais.

Perspectivas para 2024:

Minha expectativa para o próximo ano é todos os economistas previsores, em nome de O Mercado, mais uma vez, errarão em suas previsões de ano novo. Afinal, há uma contradição lógica nesse ente sobrenaturaladorado pelos neoliberais: apesar de ser onipresente, não pode ser ao mesmo tempo onipotente e onisciente!

Se O Mercado soubesse a respeito do futuro incerto, devido a ser resultante de decisões descentralizadas, descoordenadas e desinformadas umas das outras (mesmo porque decisões cruciais ainda não foram tomadas), seria onisciente. Porém, deixaria de ser onipotente por não ter o poder de mudança do já anunciado antes… Senão falharia em sua previsão.

Prefiro, então, jamais fazer previsão a respeito de um futuro ignorado por todos!

Expresso apenas meu desejo de Boas Festas e Feliz Ano Novo!


*Professor Titular do Instituto de Economia da UNICAMP. Ex vice-presidente da Caixa Econômica Federal (2003-2007).

Imagem em Pixabay.

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