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República Brasileira: 135 Anos Da Proclamação
República Brasileira: 135 Anos Da Proclamação
Por LINCOLN PENNA*
O Brasil tem apenas dois partidos. O de Tiradentes, partido da autonomia e da independência; e o de Silvério dos Reis, partido da subordinação e da entrega de nossos recursos. Este remonta a Calabar e continua até hoje solidamente instalado no poder.
(Barbosa Lima Sobrinho).
Dia 15 de novembro de 1889 foi proclamada a República. Sua instauração foi feita com um vocábulo comum às comunicações da monarquia. Proclamação era no antigo regime nada mais do que um comunicado formal, oficial. Daí, à implantação do regime da coisa pública, da cidadania em substituição ao dos súditos de sua majestade, pouca coisa verdadeiramente mudou para a frustração dos autênticos republicanos.
Assim, Rangel Pestana, Silva Jardim e tantos outros propagandistas do movimento em prol da República não tiveram o que comemorar, por razões diferentes, a chegada da nova ordem que eles acalentaram como militantes de uma causa que deveria passar a limpo a nossa história. Ideário de uma geração nascida em grande parte ainda durante o segundo reinado (1840-1889), entenderiam naqueles momentos imediatamente anteriores à queda do império, que os jovens cadetes, alguns já membros da oficialidade do exército oriundos da Escola Militar tinham a primazia de tomar a iniciativa para que o regime que preconizavam viesse a acontecer.
Havia no passado não tão remoto assim iniciativas regionalizadas que visavam a adoção do republicanismo já em funcionamento ou em processo de substituição da dita “colonização” espanhola em várias áreas coloniais da América. Também nesses movimentos que antecederam à nossa República houve lutas que associavam o combate à escravidão com a defesa da República. Se considerarmos a existência de quilombos de escravizados que fugidos de seus algozes lutavam pela liberdade e os mocambos espalhados pelo território brasileiro, e teremos já iniciada a longa transição com vistas ao republicanismo.
Pena que essas experiências foram muitas delas objeto da repressão colonial e neocolonial, como de resto até hoje os seus descendentes pretos sofrem com a praga do racismo encrustado em nossa pálida cultura política, própria de uma elite dominante avessa a toda e qualquer mudança, justamente porque não tem qualquer compromisso com a nação que se fez à sua revelia, ou seja, em relação ao povo que se constituiu apesar de tudo.
Mais do que comemorar os 135 anos de existência da República é dever de cidadania rememorar o passado que sob certos aspectos não passou, ou seja, não foi inteiramente suprimido. Dentre esse passado que permanece sem ter sido removido está a enorme desigualdade social que faz padecer os mais vulneráveis herdeiros dos contingentes que foram submetidos à escravização, no contexto de uma escravocracia que se modernizou, mas que não se alterou a ponto de termos a possibilidade de mencioná-las somente como fato histórico, já que é realidade em nossos dias. E assim será caso não tomemos o dever histórico de mudar essa realidade.
República e democracia ou bem convivem harmoniosamente ou uma delas ou as duas passam a ser meras fantasias sem colorido algum. Mais do que proclamar um regime é preciso praticar os seus fundamentos, do contrário vamos fazer de conta que estamos num regime cuja existência em nada combina com ele. E para reverter essa situação é necessário que as novas gerações entendam ser indispensável a participação cidadã nos rumos dessa hipotética república em minúsculo, dado ser ela incompatível com as promessas que levaram muitos brasileiros a darem a vida por um destino digno ao nosso povo.
O partido de Tiradentes pode estar adormecido, silencioso, mas não batido de todo, não obstante as inúmeras tentativas de cancelá-lo da vida política nacional. Ele se manifesta nas pequenas comunidades resistentes à opressão, se faz presente nos bairros populares, nas vielas das favelas das grandes metrópoles e, sobretudo, no despertar crescente dos que entendem não tardiamente que a sobrevivência passa pela luta coletiva dos que têm sido fustigado, explorado, massacrado, porém, não se curvaram a esse designo que as classes dominantes tentam impôr.
*Lincoln Penna É Doutor em História Social; Conferencista Honorário do Real Gabinete Português de Leitura; Professor Aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional (MODECON); Vice-presidente do IBEP (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos).
Foto de capa: Arquivo TV Brasil
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