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Realidade paralela de grupos antidemocráticos soma medo a teorias conspiratórias

Realidade paralela de grupos antidemocráticos soma medo a teorias conspiratórias

Eleições 2022 por RED
08/11/2022 15:32
Realidade paralela de grupos antidemocráticos soma medo a teorias conspiratórias

Matéria da Folha de São Paulo trata dos apoiadores radicais do presidente Jair Bolsonaro que pedem um golpe militar para impedir a posse de Lula em 1º de janeiro.

“Se os atos antidemocráticos diminuíram nas estradas, nos grupos bolsonaristas de Telegram eles encontram espaço e identificação de milhares. (…) O pedido por intervenção militar virou comportamento comum há uma semana, ancorado no que bolsonaristas entendem por apoios cifrados do presidente Jair Bolsonaro (PL), das Forças Armadas e da mídia estrangeira”.

Assim inicia a matéria da Folha que trata dos argumentos utilizados pelos apoiadores de Bolsonaro para as suas manifestações e pedidos de intervenção, que mais parecem sustentados numa realidade paralela.

Até mesmo após a publicação do vídeo de Bolsonaro no dia 02, dizendo que manifestações são bem vindas mas que é contrário a interdição das rodovias, os radicais fizeram a leitura de que o presidente teria apoiado a intervenção militar, e que o chefe do Executivo não pode apoiar publicamente as manifestações, mas que teria um plano junto com as Forças Armadas e que sua vontade é que a população permaneça na rua para ajudar o Exército a impedir que Lula tome posse.

O brasão do Exército na mesa em que Bolsonaro se pronunciou e até um erro de português no post de seu Facebook (o termo desobstrução saiu com um ‘s’ a mais, criando um SOS no meio da palavra) foram decodificados como um endosso pelos apoiadores, conta a publicação.

A matéria ainda traz que a indignação diante da derrota –não aceita, pois a crença geral é que houve fraude– intensificou o agrupamento dos bolsonaristas mais radicais em torno de teorias conspiratórias, que não ficaram restritas a fóruns fechados, como antigamente, mas expostas em grupos abertos de Telegram, nas redes sociais, em lives com milhares de visualizações e nas ruas.

Uma notícia falsa, sem nenhuma conexão com a realidade, apontou que o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), teria sido preso. A informação levou bolsonaristas a se abraçarem e a gritarem no centro de Porto Alegre. Uma mulher foi ao chão de joelhos, batia no peito e dizia: “o Brasil é nosso, o Brasil é nosso”.

São enviadas mensagens nas páginas oficiais das Forças Armadas, na esperança de que elas salvassem o Brasil de Lula. E qualquer filmagem de um militar em seu posto de trabalho é encarado como apoio.

A teoria mais nova é a comprovação da fraude eleitoral feita por uma auditoria argentina, alarde que correu como rastilho de pólvora na sexta-feira (4). Um relatório apócrifo de 70 páginas, que durante a semana foi atribuído às Forças Armadas, apareceu em espanhol em uma transmissão num canal argentino no YouTube (a live foi derrubada, mas juntou meio milhão de pessoas).

A Folha ainda destaca que acereja do bolo conspiratório foi quando o Facebook e o Instagram exibiram o rótulo “as eleições estão sendo apuradas” no lugar de “já foi divulgado um vencedor das eleições”. A crença é que as redes teriam alterado o status por algum motivo oculto, embora tenha sido uma falha técnica.

“Sempre existiu teoria da conspiração, mas Bolsonaro ajudou a criar uma esfera pública paralela. Como líder populista, conversa com vários segmentos –como o das ciências alternativas na pandemia, por exemplo–, e conseguiu agregar esses segmentos num nível mais alto. Eles tiveram respaldo, se fortaleceram e cresceram”, afirma  a antropóloga Letícia Cesarino (UFSC), que se debruçou sobre o estudo de desinformação política e de grupos de extrema-direita nos últimos meses.

Pablo Ortellado, coordenador do projeto Monitor do Debate Político do Meio Digital na USP, afirma que a coordenação desse levante foi subterrânea, de modo que pouco se falava disso no Twitter no primeiro dia, enquanto a história já pegava fogo em grupos de WhatsApp e Telegram. Ele não descarta, porém, articulação com a campanha.

“Foi um movimento sem cara, não vemos lideranças, influenciadores, é algo totalmente subterrâneo. Foi uma articulação vigorosa e oculta em grupos de WhatsApp e Telegram, mas ela não aconteceu de forma espontânea, é coordenada”, afirma.

Confira alguns argumentos elencados pela publicação:

A REALIDADE PARALELA DE GRUPOS ANTIDEMOCRÁTICOS

  • A ideia difundida é que o artigo 142 da Constituição Federal serviria para apoiar uma intervenção federal, solicitada por Bolsonaro para acalmar os ânimos da população. Para juristas, esse artigo serve justamente para impedir um golpe
  • Protestos teriam que durar no mínimo 72 horas para que as Forças Armadas atuassem
  • Bolsonaro estaria impedido de falar publicamente que apoia intervenção, portanto emitiria códigos, como o brasão do Exército em uma live e um erro proposital de português que gerou um SOS
  • É preciso inundar as redes oficiais das Forças Armadas com pedidos de ajuda, assim elas estão aptas a agir
  • A mídia internacional estaria ciente da fraude eleitoral no Brasil
  • A eleição teria sido fraudada, seja por problema nas urnas ou pelo suposto conluio político das autoridades e do PT
  • Alexandre de Moraes teria sido preso três dias depois do segundo turno
  • Relatório sobre fraude atribuído às Forças Armadas durante a semana passou a ser ligado a uma consultoria de direita argentina

 

Matéria completa publicada originalmente na Folha de São Paulo.

Imagem – reprodução Twitter.

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