Opinião
Quem foi o KGB?
Quem foi o KGB?
De ADELI SELL*
Ah, se fosse “A” KGB muitos saberiam, até o Google resolve: Comitê de Segurança do Estado (Komitet Gosudarstveno Bezopasnosti – em Russo).
Porém, “O” KGB é outro papo. Poucos sabem, menos ainda o conheceram. KGB foi uma figura ímpar daqui, poucos sabiam que seu nome era Miguel Marques. Mas KGB era, sem dúvida, conhecido na esquerda. Eu o conheci.
Morreu num acidente de carro em Curitiba em 1993. Mas graças ao trabalho do Laboratório de História Oral da UFRGS, das diligentes Maria Luiza Martini e da Regina Weis, em entrevistá-lo pouco antes de sumir e morrer; E graças também ao selo Unidade Editorial da Prefeitura Municipal de Porto Alegre temos um livreto saído em 1997. Aí vão meus respeitos a Ana Meira e a Marion Kruse Nunes da equipe da municipalidade.
As entrevistadoras, especialistas no tema da História Oral, tiveram muitos cuidados para tentar apanhar quem foi Miguel Marques, mais conhecido como KGB. Nalgum momento das entrevistas as autoras talvez tenham se dado conta que havia o KGB, como havia mitos em torno dele, como poderiam estar diante de uma “persona”.
Por algumas respostas insistentes, com algumas repetições, a gente tem a impressão de que KGB estaria num palco, para se mostrar. De um lado, ele mostrou e foi captado pelo livro, pois toda uma história de um caboclo que sai dos rincões do Rio Grande do Sul está ali, passando por várias atividades laboriosas, até no Exército. São certos os relatos de como tomou contato com o PCB, sua imprensa, com seus dirigentes.
KGB não é um apelido fortuito… Miguel Marques foi capturado pelo partidão, em especial por Stalin, pois sempre foi um estalinista assumido. Ele era ortodoxo e não escondia isso de ninguém. Está no livro o que ele era na realidade.
Porém, a partir de um momento, ele confessa que começou a beber aos 40, com uma bagagem de leituras focados numa posição político-partidária, o estalinismo, ele constrói sua figura, debocha da sociedade, vivendo dela e dos amigos, pois não fica claro quando ele deixou seus trabalhos formais. Era conhecido como alguém que sempre “mordia” alguém e pela sua trajetória era sempre ajudado.
Mas este é um lado que mereceria um estudo, o que interessa é o que fica das entrevistas, creio que muito difíceis, pois se vê KGB escorregadio como “muçum ensaboado”.
KGB quando adentra o terreno da filosofia, da filosofia política, da sociologia é mais “persona”, pois quer mostrar uma consciência que outros não têm, aí a sua profunda soberba, arrogância com as entrevistadoras. Ele tinha uma boa bagagem de leituras, mas nunca foi de um “coletivo” de ações e debates, era um homem de ação. Mesmo sendo ortodoxo “marxista” ela tinha lá suas grandes quedas para o anarquismo.
É um livro para se ler, guardar, pois nos dias que correm, do neoliberalismo, da modernidade líquida, é bom mostrar que houve outro mundo que não o atual.
*Escritor, professor e bacharel em Direito.
Imagem: divulgação.
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