Opinião
Quem é o jovem eleitor?
Quem é o jovem eleitor?
De ELIS RADMANN*
O conceito de jovem eleitor está associado à galera de 16 e 17 anos, que tem o direito de votar mas, como o voto é facultativo para essa faixa etária, podem escolher se fazem ou não o título eleitoral.
O jovem eleitor precisa ser duplamente motivado. Primeiro a fazer o seu título eleitoral e depois a ir votar no dia da eleição. Nas eleições gerais de 2022, 2,1 milhões de jovens eleitores estavam com o título na mão, mas apenas 1,7 milhão compareceram às urnas, representando um aproveitamento de 80%. Em termos de representação, as mulheres também foram a maioria dentre o jovem eleitor.
Durante a pandemia, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) liberou a emissão do título de forma on-line, por meio do autoatendimento do eleitor através do Título Net, o que motivou muitos jovens eleitores a se cadastrarem, influenciados pelos movimentos de suas bolhas nos grupos de WhatsApp.
O jovem eleitor é “nativo digital”, ele nasceu e cresceu no meio da tecnologia e pertence à geração Z. Essa galera não se preocupa tanto com protocolos e valores sociais e morais, é desprendida de carimbos, e irá aderir ao processo eleitoral se avaliar que faz sentido votar em algum candidato que defenda alguma causa, algum tema que lhe chame a atenção.
O jovem eleitor, assim como os demais eleitores, não se interessa muito por política, pelo menos não pela maneira como o sistema político funciona. Seu interesse é nichado, se interessa por pautas, por temas que façam parte de suas bolhas. Podem aderir a uma causa, assim como facilmente podem ativar a cultura do cancelamento, cancelando ou detratando um político ou um partido. Só se preocupam com temas que façam sentido para sua vida. Trata-se de uma geração com essência mais individualista e com aceitação de outras individualidades, onde cada um pode ser único.
O desinteresse por política é cultural, até porque estes jovens são reflexos da cultura política vigente. Eles aprenderam dentro de casa e na escola que “político é tudo igual”, que “todo político é ladrão” e por aí vai.
A diferença desta geração para as outras é que ela está empoderada. Se alguém cita o nome de um candidato, ela pergunta para IA (inteligência artificial) ou dá um Google e, rapidinho, tem um juízo de valor sobre o candidato. Em muitas entrevistas realizadas pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião, é comum essa gurizada “dar um Google” durante a entrevista para formar a sua opinião e responder a pesquisa.
Os candidatos estão tentando se conectar com o jovem eleitor, mas “saída, não é chegada!” Para dialogar com esse público, o candidato terá que ter o comportamento e o desempenho de influencer. Deve ter capacidade de narrativa e ser bom de foto e vídeo. Mas não adianta tentar ser um “líder charme” para este jovem eleitor. Como um bom influencer, o candidato terá que mostrar que tem um conteúdo sequencial, que sua “história” faz sentido com uma causa ou pauta, demonstrando que o que está postado no feed tem conexão com a realidade.
*Cientista social e política. Fundadora do IPO – Instituto Pesquisas de Opinião. Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado.
Imagem em Pixabay.
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