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Opinião

Quem dá golpe num domingo?

Quem dá golpe num domingo?

Artigo por RED
22/07/2023 12:00 • Atualizado em 23/07/2023 22:10
Quem dá golpe num domingo?

De EDELBERTO BEHS*

Depois de prestar depoimento à Polícia Federal, em Brasília, na quarta-feira, 12 de julho, o ex-presidente Jair Bolsonaro foi entrevistado por repórteres, sem mandar calar a boca de ninguém. Agora inelegível e fora do poder, ficou mais civilizado no trato com a imprensa.

O depoimento versou sobre a reunião que Daniel Silveira agendou com o então presidente, levando o senador Marcos Do Val na garupa, pois ele teria uma bomba importante a apresentar.

“Do que tratou a reunião”, perguntaram repórteres a Bolsonaro? “Sobre nada”. Então, o presidente da República abre 20 minutos da sua agenda para tratar sobre “nada”!

Não foi sobre o golpe? “Que golpe? Ninguém dá golpe em domingo”, emitiu o inelegível. Ou seja, golpe em domingo não faz parte da liturgia de insurgentes brasileiros. Domingo, gente, é dia de reza…

Insurgentes? Que absurdo! Quem estava em Brasília no domingo, 8 de janeiro, foram pessoas com bíblia debaixo do braço que sequer tinham um canivete no bolso.

Eram todos santos e santas, que vinham cantando aleluias, glória a Deus pelas avenidas de Brasília, quando resolveram dar uma passadinha pela Praça dos Três Poderes.

Daí veio o capeta soprar no ouvido daquele pessoal, tentando aquela gente santa: “Invade aí. É o Poder Judiciário que funciona nesse prédio, não sabiam? Peguem a cadeira do Xandão e a joguem no lixo”.

Xô, Satanás!!! Não nos tentem!!!

– Mas gente, vejam só, aqui é o Congresso Nacional. Entrem, quebrem as portas e janelas. Esses parlamentares merecem!

– Xô, Satanás! Não nos tentem! – e continuaram caminhando e cantando…

-Bah, não percam agora. Esse é o Palácio do Planalto. Aí mora o meu companheiro, um vermelho, amigo de Cuba. Não me importo se arrebentarem esse lugar, porque esse cabra está fazendo concorrência comigo.

Alguns não se aguentaram e se deixaram tentar. Se é para derrubar esse demônio que está sentado na cadeira do presidente, “vamos lá, vamos salvar o Brasil do comunismo”.

Alguns fiéis se deixaram contaminar pelo capeta. Saltaram fora daquele grupo de santos e santas e quebraram vidros, cadeiras, mesas, relógio, destruíram obras de arte na casa dos três poderes da República.

Mas descobriu-se, depois, eram os infiltrados…

Lá do Norte, de onde a turminha do capitão copiou a ação golpista, o pastor James Cusick, da Global Outreach Ministries Church, seu filho Casey, e David John Lesperance foram considerados culpados por júri por participarem da invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, no dia 6 de janeiro de 2021. Os três foram presos e acusados em junho de 2021. Por enquanto, os três estão sob fiança e sua sentença está marcada para 12 de outubro, informou o Florida Today.

Pastores e crentes estão com algumas narrativas e rezas esquisitas, de quebrar e arrebentar quando os resultados de urnas e decisões judiciais não correspondem às suas expectativas. Servem a políticos que são camaleões religiosos, e esquecem do Jesus que pregou o mor e a paz. Lá como aqui!

O Brasil passou quatro anos nas mãos de uma pessoa com tal desequilíbrio cognitivo. Ele e sua turminha insultam a inteligência de brasileiros e brasileiras contando historinhas, algumas acompanhadas de lágrimas para enternecer os corações.

E daí, essa turma de fiéis resolveu expelir demônios. E eis que algum saltaram e foram quebrar vidros, cadeiras, relógio histórico no chão, destruir obras de arte, na casa dos três poderes da República. Eram os infiltrados…

Nas mãos de uma pessoa com tal desequilíbrio cognitivo o Brasil passou os últimos quatro anos. Imaginem. Ele e sua turminha, como o senador Rodrigo Marinho, Mourão, insultam a inteligência de brasileiros e brasileiras contando historinhas, algumas acompanhadas de lágrimas para enternecer os corações.

A outra leitura que se pode fazer dessa maravilhosa narrativa do 8 de janeiro é de que foram evangélicos, com Bíblias debaixo do braço, que promoveram toda aquela quebradeira. Imagens do dia mostram pessoas se dirigindo à Praça dos Três Poderes – não dá para ver se tinham Bíblias embaixo do braço -, mas que certamente foram as mesmas que provocaram aquela balbúrdia como tentativa de impulsionar um golpe.

Não emplacou porque militares conscientes de suas atribuições e responsabilidades não embarcaram nessa canoa furada, que tinha, segundo documentos apreendidos na casa do ex-ministro da Justiça, até minuta redigida para “legitimar” a posse do presidente derrotado nas urnas.

Seja qual a versão que se for assumir, além das duas propostas (a narrativa é tão fantástica que dá margem a outras interpretações), fica evidente o perigo que o país correu com mandatários desse calibre manipulando as cordas da política, da educação, da saúde, da economia em quatro anos de governo. Xô, ilusionistas!


*Professor, teólogo e jornalista.

Imagem em Pixabay.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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