?>

Opinião

Que fazer?

Que fazer?

Artigo por RED
06/10/2022 14:06 • Atualizado em 07/10/2022 11:59
Que fazer?

De SELVINO HECK*

Todas e todos acreditávamos, até porque as pesquisas o indicavam, que a eleição presidencial terminaria no primeiro turno, Lula eleito presidente. O clima de vitória estava no ar, a militância lutadora e sonhadora acesa, pelo menos em Porto Alegre e arredores.

Não foi o que aconteceu no Rio Grande do Sul, onde a aposta na eleição de Olívio Dutra, o Galo Missioneiro, senador era unanimidade. O que aconteceu? O General Mourão foi eleito senador com boa margem.

Será preciso buscar explicações por um longo tempo. Não estamos em tempos normais. As eleições de 2022 não estão sendo normais e previsíveis. Há várias razões e explicações, algumas visíveis. Há outras, subterrâneas, cujo entendimento e compreensão será preciso explorar e entender mais adiante.

Por exemplo, é necessário olhar as redes sociais e o mundo digital, com sua capacidade de convencimento e suas mentiras, com muito cuidado. Não há ainda, por parte da maioria, seja de analistas, seja de gente comum do povo como eu, quase analfabeto digital, capacidade de entender qual é mesmo seu grau de influência, saber como de fato operam na cabeça e no coração das pessoas, de que forma mentira e verdades são produzidas e disseminadas.

Há um mundo e realidade, obscuros, quase secretos, ainda por serem estudados em profundidade. Disseminam-se, não só o ódio e a intolerância reinantes, também a violência, a incapacidade de discernir o bem e o mal, o certo e o errado. Não são mais o rádio e a televisão a darem um rumo, a produzirem um pensamento, a induzirem a uma decisão. Os meios de comunicação tradicionais, especialmente para os mais velhos e antigos como eu, seguem agentes de comunicação que fazem parte da vida e do cotidiano, mas não é deles que vem a última palavra.

Estamos em tempos de guerra em todos os sentidos. A racionalidade das últimas décadas perdeu-se no espaço. Não se sabe qual racionalidade, ou já foi produzida, ou está em construção. Famílias estão divididas como nunca se viu, não só por pensamentos diferentes, utopias opostas, mas dominadas pelo ódio, onde um não pode se enconntrar com o outro com tranquilidade, antes de se abrir a baixaria, a incompreensão, o não diálogo.

Não havia este sentimento, esse distanciamento quase total ante divergências sabidas e conhecidas, que nunca foram impedimento para o churrasco comum na casa de um ou de outro, a festa solidária por alguma comemoração. Agora, por vezes, prefere-se não convidar membros da família para estarem junto. Pior. Festas e comemorações podem não só acabar em discussões amargas, afastamentos, mas em ataques pessoais, ou até em tiros e mortes.

São tempos difíceis, muito difíceis, que vão permear o segundo turno da eleição presidencial de 30 de outubro. Não é possível saber neste momento com exatidão, a poucos dias da realização do primeiro turno, como serão as próximas três semanas, e como comunidades, o Brasil e seu povo chegarão em 30 de outubro.

Que fazer numa hora e num tempo destes? Arrisco algumas ideias e palpites:

1. Acreditar menos nas pesquisas eleitorais, como se estas fossem ou dessem a palavra final. Ouvir, sim, mais o que diz a voz das ruas, a opinião de familiares, vizinhos e membros de igrejas. Assim saber quais são as necessidades e ansiedades da população expressas ao vivo e em cores. Pesquisa, quando muito, é um indicativo, nada mais.

2. Não acreditar tanto nas redes sociais para conquistar ou mudar votos, achando que as ´verdades´ expressas nos aplicativos vão decidir o voto, em vez das mentiras divulgadas aos milhões todos os dias. Redes sociais ajudam, influem, mas não são suficientes para decidir o voto em Lula presidente.

3. Saber, e se convencer definitivamente, que a direita conservadora e escravocrata brasileira, sempre presente e dominante, está muito, muito viva. Apropriou-se de igrejas, comunidades, religiões. E tem muitos recursos e dinheiro, e vai usá-los sem pudor. Não há, pois, eleição ganha por antecipação.

4. Conversar, conversar e conversar com eleitoras e eleitores. Diálogo, diálogo, diálogo. Explicar porque votar em Lula e Alckmin, ganhar seu coração. Serão 3 longas semanas, 23 dias muito longos. Felizmente, o primeiro turno da eleição das nossas vidas mostrou que a militância lutadora, sonhadora está acesa, as democratas e os democratas estão unidos.

5. Procurar se aproximar de todas e todos sem preconceito, entender suas razões, e tentar convencer, na boa palavra e nas melhores propostas, o voto em Lula. Ampliar a unidade o máximo possível.

Será fácil? Nada está sendo ou será fácil, mas é o que se precisa fazer. Todas as democratas, todos os democratas precisam ser chamados, convocados a se unir, a estar junto, antes que o caos seja vitorioso. Em 30 de outubro, há de vencer quem acredita na vida, na paz, na justiça, num ´outro mundo possível´, urgente e necessário.

O futuro é quase imprevisível, em tempos de ódio e intolerância nunca antes vistos, com violência poucas vezes vivida no cotidiano, e com guerra no mundo, que parece nunca terminar. Mas a boa luta, na esperança, haverá de prevalecer.

Muito, muito trabalho, pois, pela frente. Tudo mais terá de esperar o 31 de outubro, Lula e Alckmin já eleitos, quando um novo tempo vai se abrir no Brasil e iluminar o mundo.


*Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990).

Imagem em Pixabay.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

Toque novamente para sair.