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Opinião

Qual a conclusão que tiramos do conto “O Espelho e a Máscara” diante do episódio racista na Espanha?

Qual a conclusão que tiramos do conto “O Espelho e a Máscara” diante do episódio racista na Espanha?

Artigo por RED
24/05/2023 05:30 • Atualizado em 25/05/2023 09:35
Qual a conclusão que tiramos do conto “O Espelho e a Máscara” diante do episódio racista na Espanha?

De ALEXANDRE CRUZ*

Depois de um tempo sem escrever em razão de uma correria massacrante do trabalho que, inclusive, me fez lembrar do  brilhante escritor e filósofo Byung-Chul Han, que fala com muita lucidez  sobre a falta de tempo para analisar e pensar dentro do sistema capitalista, retomo a escrever para tratar de um tema tão triste como o que ocorreu na Espanha.

No conto O Espelho e a Máscara, Jorge Luis Borges  aborda a linguagem associada à inteligência.  Isso me remeteu ao que sucedeu no domingo passado no estádio de Mestalla, em Valência, na Espanha, cuja torcida que defende as cores do clube que leva o mesmo nome da cidade insultou em coro o jogador do Real Madri, Vinicius Júnior, que foi qualificado de mono, que em bom português significa macaco. Não foi a primeira vez que o atleta sofreu racismo nos estádios da Espanha, mas é a primeira que carrega algo inédito: a reação do jogador desnudou o país ibérico.

Provocou reações, que, digamos, dividiram aquele país. A repercussão  começou no final do jogo, quando o treinador italiano Carlos Ancelotti, lembrado para ser técnico da Seleção Brasileira, adotou postura digna e substantivada de atitude, com um rosto muito mais sério que o habitual na entrevista coletiva. Um jornalista abriu a coletiva com uma pergunta sobre uma avaliação do jogo do qual o Real Madri perdeu de um a zero para o Valência. Ancelotti respondeu com um questionamento, que circulou e viralizou na internet: Queres falar sobre futebol  ou abordamos outro tema? O repórter sem entender  o porquê deste questionamento e muito provavelmente apanhado de surpresa, insistiu na avaliação do jogo. Carlos Ancelotti, afirmou que não queria hoje falar sobre o jogo em razão do fato  grave e denunciou o racismo que aconteceu com seu jogador.

A repercussão foi além do gesto de inconformismo do jogador Vini. Não ficando somente na atitude, foi na fala do jogador sobre o racismo que sobrou para o presidente da Liga Espanhola,  Javier Tebas, seguidor do Vox, um partido de ultra direita, defensor do franquismo.  As máscaras caíram até em alguns nomes de esquerda como Gabriel  Rufián, da Esquerda República Catalã, que afirmou que o jogador cria motivos porque realiza provocações dentro do campo. Não está em questão a personalidade ou a postura do atleta, e sim de um crime  chamado racismo que busca destruir a dignidade humana de Vinicius. Este vírus letal que limita, confina e busca destruir a existência do negro em determinados espaços.

A força da resposta do Vinícius Júnior aos racistas foi muito mais contundente que as manifestações das ruas. Provocou até um incidente diplomático entre Brasil e Espanha. A postura de Vini impôs que a classe política espanhola declarasse sobre o episódio. Determinou que o governo de Pedro Sanchez saísse  da zona de conforto para se posicionar, embora na avaliação deste articulista, foi uma resposta tímida diante da monstruosidade dos fatos.  A Ministra de Igualdade, Irene Montero, do Podemos, foi um pouco mais forte na sua resposta que o presidente espanhol.  Lula, na entrevista coletiva no Japão, foi um presidente solidário ao atleta e solicitou que seus ministros cobrem da Espanha medidas duras contra os racistas. Eu conversei com o Fran, Secretário de Relações Internacionais da Izquierda Unida, e o Juan Pi, que foi vereador em Galapagar, e ambos condenaram o racismo. No final da conversa, coloquei a posição lamentável do deputado federal e líder da Esquerda Catalã, e o secretário da IU afirmou que eu tinha razão da crítica ao Gabriel Rufián… Mas Borges, sim, que tinha razão no conto O Espelho e a Máscara, cuja conclusão da minha leitura e interpretação adaptada para este artigo é de que a linguagem dos racistas refletem a mecanicidade mental  brutal animalesca de quatro patas que não condiz com a inteligência.


*Jornalista.

Imagem em Pixabay.

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