Por LÉA MARIA AARÃO REIS*

*Balanço tétrico. Mais de 40 mil palestinos foram mortos em Gaza (incluindo mais de 16.400 crianças) desde o início da guerra de Israel contra o Hamas, diz o Ministério da Saúde do território ocupado nesta quinta-feira, dia 15 de agosto. É mais um marco sombrio no conflito que dura dez meses. Os números crescentes dão uma ideia do sofrimento diário e da desnutrição atual em Gaza. Ou seja: fome.

*Dentro desse quadro, mais um drama recente no massacre perpetrado na Faixa de Gaza pelo Estado de Israel com armas compradas na indústria militar dos seus parceiros ocidentais. Gêmeos recém-nascidos morrem em um ataque enquanto seu pai emitia certidões de nascimento. A mulher de Mohammad Abu Al Qumsan, uma farmacêutica, acabara de dar à luz os filhos. Entre as vítimas desse bombardeio morreu também um bebê de nove meses. Informações do Ministério da Saúde de Gaza.

*Há poucos dias, no dia 9 de agosto, foi celebrado o Dia Internacional dos Povos Indígenas instituído pela ONU. No Brasil, há pouco a celebrar. A data lembra a garantia de condições minimamente dignas aos povos indígenas de todo o planeta, garantia à sua cultura e autodeterminação, garantias que passam distantes por aqui onde as celebrações da data foram raras. Por isso, é necessário reforçar a informação da estreia nos cinemas, hoje, dia 15 de agosto, do belo filme O Contato, convidando o espectador a refletir sobre os povos originários da região Cabeça de Cachorro, onde está a cidade São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, cenário do documentário que é uma homenagem ao ambientalista Bruno Pereira, assassinado em 2022.

*Chega aos cinemas o filme japonês Família, com o ator Koji Yakusho, protagonista de Dias Perfeitos. O tema interessante traz como pano de fundo a imigração de brasileiros para o Japão. Os dekasseguis já são mais de 300 mil pessoas no país onde esse termo significa ‘trabalhador migrante’ ou ‘trabalhador estrangeiro’ residente no Japão, com ou sem ascendência japonesa. No filme, o foco está nos trabalhadores de fábricas, que enfrentam longas jornadas de trabalho e recebem salários baixos em relação ao alto custo de vida no país.

*No próximo domingo, dia 18, a atriz Fernanda Montenegro vai celebrar 95 anos de idade e 80 anos de carreira com a leitura de trechos do livro A Cerimônia do Adeus, de Simone de Beauvoir, no Auditório do Parque Ibirapuera. A apresentação, gratuita, será no auditório e terá exibição simultânea no gramado do parque. Diz Fernanda: “A aproximação com a obra de Simone de Beauvoir vem desde quando eu tinha 20 anos. Essa fundamental feminista é uma personalidade referencial na minha geração.”

*Sobre a “era dos grandes velhos”. Do escritor e jornalista pernambucano Uraniano Mota: “Nesta semana, fui surpreendido pela notícia dos 82 anos de Caetano Veloso. Oitenta e dois, como assim?! Mas, por cima da surpresa, recebi outra; os demais criadores da nossa música popular estavam acima de 80 anos: Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Milton Nascimento, Chico Buarque, o mais novo, com 80 anos e 50 dias.”

*No caso de Gilberto Gil, ele anuncia as datas de sua última turnê, Tempo Rei. Estreia em março de 2025, percorrerá nove cidades do Brasil, e irá aos Estados Unidos e Europa. Tempo Rei é uma referência à canção homônima de 1984, que dialoga com Oração ao Tempo, de Caetano Veloso. Gil pensa em encerrar as turnês e essa é a comemoração da sua obra musical e uma “transição para uma fase mais espiritual da carreira”, como ele diz. O roteiro: março, dia 15 de 2025, em Salvador, na Casa de Apostas Arena Fonte Nova. Em seguida, Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Curitiba, Belém, Fortaleza e Recife, onde se encerra no dia 22 de novembro do próximo ano.

*Mais um ano de parceria da Editora Tabla com a Mostra de Cinema Árabe Feminino na sua quarta edição. Início, amanhã, dia 17, no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, onde serão exibidas 27 obras dirigidas por mulheres do Oriente Médio e Norte da África. Alguns dos temas dessas produções: a luta pela libertação, a resistência feminina em situações de violência e a batalha pela preservação da memória de situações de diáspora e de exílio. A Mostra vai passar por Niterói, Cine Arte da UFF (20/08), por Duque de Caxias, FEBF/UERJ (21/08) e estará na Gomeia Galpão Criativo, dias 23 e 24 deste mês. Programação completa no Instagram: cinema_arabefeminino

*Na trama de Meu Filho, Nosso Mundo, que acaba de estrear nos cinemas, o personagem de Robert de Niro faz o avô de um menino Ezra, de 11 anos, diagnosticado autista, e a sua comovente relação com o neto. Na vida real, o ator é pai de um filho autista assim como o roteirista do filme, Tony Spiridakis, e o produtor, William Horberg.

*Chile: Anatomia de um Golpe, trabalho lançado em edição digital pela Revista Diálogos do Sul. Trata de detalhes e implicações políticas, sociais e econômicas do sombrio 11 de setembro de 1973 chileno, onde testemunhas oculares relatam as atrocidades cometidas. Textos de analistas que acompanharam de perto os acontecimentos. Entre eles, o jornalista Paulo Cannabrava Filho, editor da Revista Diálogos do Sul. Ele cobriu parte da campanha para as eleições presidenciais chilenas de 1970.

*Atenção: termina no próximo dia 24 a festejada exposição Funk: Um grito de ousadia e liberdade, principal mostra do Museu de Arte do Rio, este ano. É a apresentação da história do funk, sua sonoridade, a matriz cultural urbana e periférica, a sua dimensão coreográfica, e com as comunidades, os desdobramentos estéticos, políticos e econômicos. Programa imperdível. Em paralelo, foi um sucesso a exposição Bloco do prazer, encerrada sábado passado. Que retorne.

*Ninguém Disse que Seria Fácil, livro de autoria de Valerio Arcary com prefácio de Mauro Iasi, é apresentado como “uma reflexão crucial para a militância socialista em tempos de desafios. Oferece uma visão pessoal sobre a luta política, destacando a importância da subjetividade, relacionamentos e valores no ativismo. Um guia para enfrentar a complexidade da luta e manter o ideal revolucionário nas adversidades”. Edição de 2022, leitura mais do que oportuna (Editora Boitempo).

*Bom programa: até o dia 01 de setembro, o espetáculo Atrás do Véu, com Michelle Raja Gebara e direção de Bruce Gomlevsky, no Sesc Tijuca, RJ.

*História agrária da revolução cubana – dilemas do socialismo na periferia, de Joana Salém Vasconcelos, é um estudo sobre a saga da reforma agrária em uma sociedade de origem colonial presa ao círculo vicioso do subdesenvolvimento. Trabalho fundamentado em documentação e também em entrevistas com técnicos e lideranças que participaram diretamente do processo histórico cubano (Editora Alameda).

*Livro da autora canadense Margaret Atwood nas principais estantes de livrarias do Rio de Janeiro. Chama-se Tig & Nell e outros contos, lançado em julho passado. Lembrando que um dos livros de maior sucesso da escritora é The Handmaid’s Tale, de 1985, traduzido para o português como O Conto da Aia e desde então publicado em sucessivas edições e transformado em famosa série no streaming.

*Dia 14 de agosto, às 19h, a inauguração do Cine FAAP reformado, com som e imagem em alta definição. É uma das raras salas digitais localizadas em uma instituição de ensino superior no país. Projeção 2K com sistema DCP, projetor Christie Laser e som Dolby Digital 5.1. Em Salvador, na UFBA, há outra sala dessas, e em Recife, na UFPE.

*O programa é perguntar que fim levou o Programa de Redução de Agrotóxicos (Pronara), cujo anúncio oficial estava previsto para o dia 4 de julho último, em conjunto com o Plano Safra, foi adiado para doze dias depois e até agora silêncio? A sociedade aguarda, há dez anos, que o Brasil lance esse programa com o objetivo de diminuir o uso de agrotóxicos, e até aqui nunca foi posto em prática. Qual a causa de uma suposta intransigência do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa)? Ou da sua submissão às empresas de indústrias químicas e aos grupos do agronegócio, conforme notícias difundidas?

*No próximo dia 28, em seguida à apresentação da peça Prima Facie, em Brasília, monólogo com Débora Falabella, haverá debate com a ministra do TSE Carmen Lucia e o ex-ministro Carlos Ayres Britto, e com a diretora do espetáculo, Yara de Novaes. No teatro Unip. A peça é da inglesa Suzie Miller e já foi montada em vários países (Alemanha, EUA, Austrália, Nova Zelândia, Turquia) com grande sucesso. O tema: a violência sexual contra a mulher e uma reflexão sobre o sistema judicial nessa área.

*Dos 348 atletas palestinos inscritos para participarem dos Jogos Olímpicos de Paris, apenas oito deles foram à França. Duzentos e quarenta e cinco, do futebol, morreram assassinados em bombardeios. Mais trinta e três treinadores e 70 membros de sindicatos desportivos. Pergunta da agência turca Anadolu, que publicou a notícia: A África do Sul, no passado, foi cortada das Olimpíadas por causa do apartheid que então assolava o país. Por que Israel não?