Curtas
Prefeitura de Porto Alegre: direita monta frentão enquanto esquerdas não se definem
Prefeitura de Porto Alegre: direita monta frentão enquanto esquerdas não se definem
Tentando retornar ao poder na capital gaúcha após 20 anos, oposição ainda procura o seu candidato
Faltando um ano para as eleições municipais, o prefeito Sebastião Melo (MDB) largou na dianteira montando uma frente que engloba também PP, PL, PTB, pode atrair Podemos, PSD e Solidariedade, contando ainda com a possível adesão do Republicanos e, quem sabe, do PSDB. Este é o tamanho do problema que as esquerdas tem por diante na sua tentativa de voltar a governar Porto Alegre após 20 anos de ausência na prefeitura. Por enquanto, há conversas, mas não há candidatos ou candidatas definidos e tampouco alianças formadas.
Após uma sequência de derrotas – na última delas, Manuela d`Ávila (PCdoB) foi derrotada por Melo em 2020 – existe, ao menos, um panorama menos sombrio do que nas ocasiões anteriores. No ano passado, Lula (PT) voltou a vencer em Porto Alegre, algo que não ocorria desde 2002. Haddad e Dilma também amargaram derrotas na cidade que viu nascer o Orçamento Participativo e o Fórum Social Mundial e era cantada em prosa e verso como fortim vermelho de expressão internacional.
“Esquerda recuperou parte do terreno perdido”
Menos mal também, para a oposição local, que a aliança PT-PSOL-PV-PCdoB no mesmo ano foi igualmente bem votada para o governo estadual e o Senado. E emplacou os campeões de votos para a Assembleia Legislativa e a Câmara Federal, ambos do PSOL. Mas isso, por si só, não garante nada.
“A esquerda parece ter recuperado um pouco do terreno perdido. Mas, ainda assim, vai ser difícil vencer”, prognostica o cientista político Paulo Peres, da Ufrgs. Seu colega Benedito Tadeu César, oriundo da mesma universidade, joga outro balde de água ainda mais fria nas aspirações opositoras: “Se a esquerda continuar dividindo, marcando espaço para os partidos, o Melo e a direita ganham no primeiro turno”.
“Não basta unir a esquerda”
Peres entende que o PT deveria lançar candidato próprio “aproveitando o fator Lula, para tentar recuperar ainda mais espaço eleitoral na cidade”. Nada disso, porém, abala o favoritismo do atual prefeito, que abraçou o receituário neoliberal, as privatizações e o bolsonarismo com fervor, criticando as decisões do TSE que puniram deputados da ultradireita por divulgação de notícias falsas na campanha de 2022. Na época, definiu as ações da corte como “ditadura do Judiciário”.
César repara que, em 2022, houve uma articulação e, somente a partir daí, a esquerda foi bem sucedida. “Em Porto Alegre, na eleição para o governo do estado, o Pretto surpreendeu”, exemplifica. Pretto é o ex-deputado estadual Edgar Pretto (PT), que teve Pedro Ruas, do PSOL, como vice. Fez 32% dos votos. Mas, atenta, “o nome dele nem está colocado, parece que não é o seu projeto”.
De fato, são citadas no partido as deputadas Maria do Rosário, federal, e Sofia Cavedon, estadual. No PSOL, existem várias possibilidades, entre as quais a deputada federal Fernanda Melchionna e os estaduais, Luciana Genro e Matheus Gomes, este indicado pelo Movimento Negro Unificado (MNU). No PCdoB, há sempre a lembrança de Manuela d`Ávila, que, a princípio, não estaria disposta a concorrer, enquanto que, no PDT, aparece a ex-deputada estadual Juliana Brizola.
“Não basta unir a esquerda”, adverte César. Ele acha que, para ter chance de sucesso, a oposição precisa trabalhar como ocorreu na campanha Lula/Alckmin, atraindo o centro democrático. “Se isso existe, não sei”, admite. Mas, continua, “tem que procurar”.
Argumenta que, sempre que se fala na formação de uma frente, vem uma velha discussão. “Temos que fazer um programa conjunto e só depois falar em nomes. Cada partido quer impor o seu programa e não se chega a um acordo. Tem que achar o que é comum a todos e deixar as divergências para depois”, receita.
Já no espectro da direita, mas não alinhado, ao menos por enquanto, com o frentão do prefeito, o PSDB do governador Eduardo Leite tenta descobrir um postulante. Dispondo já de interessados no páreo, União Brasil e Novo devem disputar em faixa própria.
Conversas entre PT, PCdoB, PV, PSOL e PDT
“Achamos que o ritmo de construção interna e de diálogo com os partidos está razoável e muito mais adiantado do que em 2020”, assegura a presidenta estadual do PT, Juçara Dutra.
“A construção de alianças – prossegue – precisa ser consistente, preservar o que cada partido entende como essencial e isso demanda mais tempo. Já nos reunimos com os partidos da Federação da Esperança – PCdoB e PV –, iniciamos conversações bilaterais com PDT e PSOL e estamos agendando com o PSB”, adianta.
Juçara analisa que, apesar dos 20 anos de distanciamento das administrações de Olívio Dutra, Tarso Genro, Raul Pont e João Verle, a cidade “não perdeu a memória das experiências de participação social e de projeção internacional”. E lembra os novos sujeitos sociais e os desafios que emergiram nos últimos anos como as mulheres que organizam cozinhas comunitárias, as lutas pela melhoria do transporte coletivo, as mobilizações contra a violência sofrida pela juventude das periferias. “São exemplos de uma vitalidade social que demanda gestões públicas mais identificadas com as lutas e as representações populares”, acentua.
Considera que o alento trazido pelo governo Lula como “o resgate da imagem do país, a melhoria das condições de vida do povo e o respeito às instituições democráticas” terá reflexos no processo eleitoral.
Peres percebe três tarefas que a oposição tem pela frente: unificar a esquerda numa única candidatura; identificar logo um nome que tenha carisma e capacidade de atrair eleitores que não sejam petistas; e conseguir que Lula participe com a maior intensidade possível da campanha local.
“Lula será um fator relevante, o que favorece o PT local ou alguma candidatura que o partido decida apoiar”, ressalta.
Matéria do Brasil de Fato
Foto: Wikimedia Commons
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