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Por Mais Paulo Freire Nas Escolas
Por Mais Paulo Freire Nas Escolas
“POR CÁTIA CASTILHO SIMON*
A educação tem sentido porque mulheres e homens aprenderam que é aprendendo que se fazem e se refazem”, Paulo Freire.
Em meados de outubro do corrente ano participei do Seminário Boas Práticas Pedagógicas, promovido pela Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa do RS, coordenada pela Deputada Estadual do PT, Sofia Cavedon. Fui convidada a mediar uma mesa que tratava de atividades que envolviam livro e literatura nas escolas estaduais.
Um dos relatos foi da EMEF Milton Alves de Souza – Sarandi- “Cartas da Paz: o relato de uma linda história” com autoria de Fernanda Damiani Pinto e da secretária de Educação, Loreni Lucia Pasquetti Ortollan. A proposta de trabalho partiu da leitura de “Cartas a Povos Distantes”, do escritor pernambucano Fábio Monteiro. O referido livro sensibilizou os alunos do 8º ano (2022) e 9ª ano (2023) levando-os a buscar conhecer outras vivências fora do país. A professora não pode comparecer ao encontro e enviou um vídeo compartilhando os passos do projeto de trabalho, bem como sua alegria por ver os alunos conectados com princípios caros ao desenvolvimento humano, entre eles a empatia, a solidariedade.
O relato de experiência da troca de cartas do encontro, imediatamente, me lembrou uma linda ação desenvolvida por duas professoras da RME de Porto Alegre, em meados dos anos 90, na administração popular do PT. Jane Mari de Souza e Ana Claudia Sousa Zatt publicaram o livro Mapas da Cidade – autoria, identidade e cidadania (1999), cartas trocadas entre alunos e as professoras das escolas Marcírio Goulart Loureiro, na Vila Nova e Gilberto Jorge, bairro Ipanema visando conhecerem-se mais e também a cidade em que viviam.
Em ambas as experiências estão evidenciadas a necessidade de ouvir e olhar outros e outras, e buscar conexões. A literatura, o respeito ao diferente podem ser catalisadores dos melhores sentimentos. Lembro da minha transição para a adolescência ao ler Anne Frank e sucumbir. Um livro pode ser um divisor de águas, e sobre eles os reacionários e fascistas agem.
Vários relatos do encontro reafirmaram a importância do livro e da literatura desde a tenra infância, alcançando até mesmo pessoas privadas de liberdade física. Não bastassem as limitações econômicas que fazem do livro quase um objeto de luxo aos professores/as, alunos/as e às escolas, ainda lidavam com o fato das escolas estaduais terem suas bibliotecas fechadas pelo atual governador, Eduardo Leite. Disseram todos e todas, no encontro, que não desistiriam de reverter tal situação.
Chegamos ao final da manhã convictos da necessidade de mais Paulo Freire nas escolas para espraiar construções de autonomia e cidadania. Foi consenso entre os relatores quanto à mudança que a leitura provoca nos alunos ampliando sonhos e horizontes. Apuraram também o desejo constante dos alunos e professores por mais livros, levando-os a buscar obras diversas e desafiadoras.
Saí feliz da atividade, constatei a firmeza dos objetivos voltados para o desenvolvimento da autonomia e da cidadania, nos moldes freireanos. Ficou evidente o quanto aqueles grupos de trabalho estavam comprometidos com a realidade que os envolvia. Assumiam uma postura contra aquilo que Freire chamou de “ideologia fatalista”, compreendiam o processo socioeconômico e mostravam clareza quanto aos princípios e conceitos a serem trabalhados no cotidiano escolar.
Priorizar a educação, a cultura é escolher a mudança frente à inércia, é ter esperança em tempos obscuros, é iluminar caminhos que dissiparão o sonambulismo e apatia social. Encontros como estes desmentem os fatalistas, a realidade pode mudar pela ação consciente e cidadã de protagonismos na educação e na cultura.
*Cátia Castilho Simon é professora aposentada RME/Porto Alegre, escritora e poeta.
Foto de capa: Cranchi/Estadão Conteúdo/Arquivo
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