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Opinião

Pesquisa de avaliação do governo Lula: saldo positivo e permanência da radicalização ideológica e de classe social

Pesquisa de avaliação do governo Lula: saldo positivo e permanência da radicalização ideológica e de classe social

Artigo por RED
20/03/2023 10:20 • Atualizado em 21/03/2023 14:58
Pesquisa de avaliação do governo Lula: saldo positivo e permanência da radicalização ideológica e de classe social

De BENEDITO TADEU CÉSAR*

Pesquisa IPEC (ex-IBOPE) realizada entre os dias 02 e 06 de março indica que a margem de 1,8 ponto percentual de votos favoráveis que garantiu a vitória de Lula sobre Bolsonaro foi superada, passados apenas 60 dias do início do mandato do novo Presidente da República.

Não obstante todas as bombas relógio deixadas por Bolsonaro e sua equipe, o governo Lula é avaliado positivamente por 41% do eleitorado, superando em oito pontos a avaliação obtida pelo governo passado em igual período, já que seu antecessor conseguiu apenas 34% de avaliação positiva em março de 2019.

No início de seu terceiro mandato, Lula supera em onze pontos percentuais o índice de aprovação obtido por Bolsonaro no final de seu governo. Hoje, 57% aprovam a forma como Lula governa enquanto apenas 46% aprovavam a forma como o ex-presidente governava em dezembro de 2022.

Ressalte-se que a melhor avaliação obtida por Bolsonaro ocorreu logo após a sua posse, no mês de janeiro de 2022, quando 49% aprovavam o governo que se iniciava. Depois disso, a pontuação máxima de aprovação do seu governo ocorreu em setembro de 2020, quando ela chegou a 40%, durante o início do pagamento do Auxílio Emergencial.

A aprovação de Lula hoje fica 8,4 pontos percentuais abaixo do total de votos recebidos por ele como candidato no primeiro turno eleitoral de 2022, o que parece indicar que parte do eleitorado não lulista que votou nele no primeiro turno, com a intenção de excluir o risco de uma vitória de Bolsonaro no segundo turno, mantém-se na expectativa de seu desempenho, ainda sem aprová-lo ou reprová-lo.

Joga a favor de Lula o fato de que a confiança nele depositada como presidente, de 53%, supera em mais de quatro pontos percentuais o total de 48,4% de votos que ele recebeu no primeiro turno de 2022, o que pode indicar que os efeitos nefastos da condenação imposta pelo ex-juiz Moro estejam se esvaindo.

Mantém-se, no entanto, a radicalização ideológica estabelecida na sociedade brasileira desde a metade da década de 2010 e que foi aprofundada durante o governo Bolsonaro. Assombrosos 44% dos eleitores acreditam que o Brasil corre o risco de se tornar um “país comunista”, sendo que 31% concordam totalmente com essa afirmação e outros 13% concordam em parte com ela.

Ainda que a pesquisa não tenha inquirido sobre o que os entrevistados entendem como “comunismo”, o que poderia revelar o grau de desconhecimento da realidade histórica brasileira e mundial dessa parcela do eleitorado, posto que tal sistema político e econômico deixou de existir desde o colapso da União Soviética e da queda do Muro de Berlim em 1990, o fato é que o número de adeptos dessa avaliação, que é ainda hoje fortemente difundida pela extrema direita mundial, se aproxima dos 49,1% obtidos por Bolsonaro no segundo turno da eleição de 2022.

A permanência da divisão social do eleitorado brasileiro revela-se também nos dados demográficos da pesquisa IPEC. É no Nordeste, em que Lula obteve o maior percentual de votos em 2022, onde ele obtém agora seu maior índice de aprovação, com 53%, e é no Norte/Centro-Oeste, que fez par com o Sul nos piores desempenhos eleitorais de Lula em 2022, onde hoje ele é mais mal avaliado, com 31%.

São também os que têm apenas até o ensino fundamental os que melhor avaliam o governo Lula, no total de 47%. Entre os que têm escolaridade de nível superior, 29% desaprovam o atual governo.

Os que recebem até um salário-mínimo são os que mais aprovam o governo Lula, somando 50% do total e os que têm renda acima de cinco salários-mínimos são os que pior avaliam seu governo, com 36%. Na mesma linha, 45% dos católicos, que foram os que mais votaram em Lula, aprovam agora o seu governo, enquanto 32% dos evangélicos, que votaram em sua grande maioria em Bolsonaro, o desaprovam.

Claramente, os recortes ideológicos e de classe social estão enraizados e não parecem caminhar para serem superados em um curto espaço de tempo, o que deve constituir preocupação para o governo Lula e para todos os que buscam a consolidação da democracia e da justiça social no Brasil.


*Cientista político, professor da UFRGS (aposentado), integrante da Coordenação do Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito e da RED (Rede Estação Democracia).

Foto de Lula compartilhada em suas redes sociais.

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