Opinião
Perguntas que o Brasil carrega como fardos
Perguntas que o Brasil carrega como fardos
De MOISÉS MENDES*
Não são poucas as dúvidas que os brasileiros carregam nas costas como fardos com toneladas de inquietações, desde muito antes de se iniciar o julgamento pelo Supremo dos terroristas do 8 de janeiro.
A primeira e mais recente interrogação, acionada pelo que se viu no STF na semana passada, pede resposta que deve ser oferecida logo adiante.
Se os manés que invadiram Brasília estão pegando até 17 anos de cadeia, o que pegarão os que estão acima deles na hierarquia do golpe?
Se há executores do que foi uma tentativa de golpe, assim definida nos enquadramentos do STF, também existem – e a PGR já dividiu esses compartimentos – os idealizadores, as autoridades ativas ou omissas, os financiadores e os incitadores.
O STF começou pelos réus mais facilmente enquadráveis. O sujeito que invadiu os prédios e promoveu quebradeiras, gravou vídeos falando em golpe, publicou nas redes e ainda fez ameaças às autoridades, esse não tem como escapar. Mas e os outros?
Entre os idealizadores, estão os ocupantes de altos cargos no poder, e no meio deles se escondem os que se acovardaram e deixaram a manada sozinha. Esses ocupam o quadrado das autoridades.
Os financiadores são muito mais do que os empresários de Sorocaba de médio porte que pagaram ônibus e mortadela. O que mais deve existir entre eles são laranjas que repassavam adiante o dinheiro recebido de gente mais graúda. E o grupo de incitadores reúne os acampados na frente do QG do Exército em Brasília.
Mas lembremos que no STF os agrupamentos são menos amplos do que na PGR, porque os réus agora em julgamento são os presos de 8 e 9 de janeiro por tentativa de execução do golpe (flagrantes do dia 8), por incitação (acampados presos no dia 9) e por financiamento-patrocínio dos atos (os presos dias depois da invasão a Brasília).
Não há idealizadores-planejadores entre esses réus, nem autoridades, considerando-se que nesse grupo da ponta da pirâmide os únicos suspeitos presos e/ou depois libertados até o momento são os oficiais PMs de Brasília, Mauro Cid e Anderson Torres.
A partir de agora é que o funil se estreita. Quem idealizou, planejou e financiou o golpe ainda não é réu, porque nem indiciado é. Assim como os que deveriam ter agido como autoridade e se omitiram.
As dúvidas sobre a capacidade que o sistema de Justiça teria de alcançar todos eles vão inquietar e atormentar a cada condenação de um mané.
Porque seria ruim para todos, para as instituições, para a democracia e para o país, que alguma trava não deliberada impedisse o avanço dos julgamentos e das condenações para além dessa manezada.
Estamos à espera dos processos contra Bolsonaro, a família, os comandantes militares, os generais de pijama, os milicianos digitais e os grandes financiadores, enquanto o Supremo fragiliza o entorno desse núcleo com a imposição de penas pesadas.
Espera-se que se feche de fora para dentro, com o julgamento da maioria de golpistas sem envolvimento na idealização e planejamento dos atos terroristas, o cerco em torno da minoria que empurrou os figurantes de 8 de janeiro para a invasão.
É do Ministério Público e do Supremo a missão de tirar das costas de todos nós os fardos com dúvidas que não podem se transformar em falta de confiança e em desesperança. Que o MP e o STF não tenham tanta pressa e também não sejam tão pacienciosos.
*Jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim).
Publicado no Blog do Moisés Mendes.
Foto: Joedson Alves/Agência Brasil.
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