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Padre Júlio Lancellotti: “Somos soldados derrotados de uma guerra invencível”

Padre Júlio Lancellotti: “Somos soldados derrotados de uma guerra invencível”

Noticia por RED
30/12/2023 09:29
Padre Júlio Lancellotti: “Somos soldados derrotados de uma guerra invencível”

Convidado do programa TVGGN, pároco lembrou do envolvimento da Igreja Católica e explicou a origem do ódio às pessoas em situação de rua

No último programa TVGGN 20H do ano, o jornalista Luís Nassif contou com a participação do Padre Júlio Lancelotti, referência na luta contra a aporofobia e que mantém diversas ações em prol dos moradores de rua em São Paulo.

Uma das principais temáticas do programa foi a discussão sobre o papel da Igreja Católica na sociedade. Lancellotti contou histórias sobre o seminário, além dos ensinamentos que aprendeu ao longo das décadas dedicadas à religião.

Sobre a recente orientação do Papa Francisco para que os párocos possam abençoar casais homossexuais, Lancellotti afirmou que a ideia de que a Igreja deve acolher a todos é ainda mais antiga que a definição do líder do Vaticano.

“Dom Paulo [Paulo Evaristo Arns] colocava isso de maneira magistral: a Igreja tem de falar com todo o mundo”, afirmou o convidado.

Movimentos sociais

Lancellotti comentou ainda o papel da Igreja diante dos desafios da sociedade atual. Ele então lembrou a época em que estava no seminário, época em que viu várias freiras se mudarem para bairros periféricos para ficar junto com o povo.

“Eram muitas congregações religiosas femininas em que as freiras foram morar em bairros mais afastados do centro. Era a proposta de uma Igreja ligada ao povo, de uma igreja popular, das comunidades eclesiais de base, e uma grande movimentação dos anos 1960, dos movimentos populares. Muitos desses movimentos populares nasceram nas comunidades. As décadas de 1970 e 1980 foram muito frutíferas e agitadas por avanços, mas com muitos desafios”

Padre Júlio Lancelotti

O entrevistado da noite lembrou ainda o encontro do papa João Paulo II com operários no Estádio do Morumbi, em 1973, ocasião em que Waldemar Rossi denunciou, por meio da leitura de uma carta, as investidas da ditadura contra os sindicalistas. De tanta emoção, Rossi chorou sobre os ombros do santo padre.

João Paulo II também realizou uma missa campal no Campo de Marte, ocasião em que o povo clamava por liberdade e democracia ao cantar Para não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré, canção considerada um hino contra os militares.

Outros desafios

Para Júlio Lancelotti, nenhum momento histórico é melhor ou pior que os outros, pois cada um tem seus próprios desafios. “Nem tudo é sempre nítido como a gente sabe ver”, filosofou.

O padre observa, do alto dos 75 anos, que atualmente vivemos em muitas bolhas, diante de grande polarização e uma forma exacerbada do capitalismo neoliberal.

“Temos um documento do Papa Francisco que hoje é uma das poucas vozes no mundo que contesta o capitalismo e os grandes poderes estabelecidos, o armamentismo e tudo mais”, continua.

Além da crítica à especulação imobiliária, Lancellotti afirmou ainda que a lógica do neoliberalismo é o descarte, fazendo com que pessoas em situação de rua sejam alvo de ódio da sociedade.

“Nunca a população em situação de rua foi tão grande quanto é agora. Isso gera muita raiva, muito ódio, gera muita dificuldade de entendimento. Eu tenho muita clareza: quem está do lado dos rejeitados vai ser rejeitado também. Quem está do lado dos descartados será descartado também”, sentencia o pároco, que descreve sua atuação em prol dos mais vulneráveis como uma guerra invencível.

Publicado em GGN.

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

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