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Opinião

Os efeitos da estiagem e a sua superação

Os efeitos da estiagem e a sua superação

Artigo por RED
16/03/2023 05:25 • Atualizado em 18/03/2023 00:25
Os efeitos da estiagem e a sua superação

De ROGÉRIO PORTO*

De forma recorrente, o Rio Grande do Sul enfrenta crises na produção agropecuária e agroindustrial provocadas pelas estiagens. No ano passado, Antonio Sartori (Diretor da Brasoja) estimou as perdas, em soja, em 43 bilhões de reais, e em 115 bilhões as perdas totais do setor. Neste ano, ele estimou as perdas, em soja e milho, em 31 bilhões de reais, e as totais em mais de 100 bilhões.

Isso significa insegurança, intranquilidade, perdas expressivas de arrecadação, redução drástica das demandas por bens e serviços e perda de competitividade.

A solução óbvia é fugir da dependência das chuvas de verão, tradicionalmente escassas e adotar a irrigação como técnica de produção.

Além da iniciativa de introduzir essa técnica, é necessário criar uma política de Estado de acumulação de água em reservatórios construídos, seja em drenagens perenes e intermitentes (barragens), seja em drenagens efêmeras (açudes).

Durante muito tempo, prevaleceu a opinião de que a água era um bem escasso e, portanto, o seu uso tinha que ser evitado e, quando fosse impossível de impedir o seu uso, ele tinha que ser pago.

A água não é um bem escasso porque o cilco hidrológico é fechado e se estima que, pelo menos nos últimos trinta milhões de anos, ela é a mesma sobre a superfície da Terra.

O Brasil conta cm pouco mais de 7% da área territorial da Terra, mas conta com 15% de suas águas superficiais, com três dos cinco maiores aqüíferos do Mundo, inclusive com o maior deles, O Rio Grande do Sul apresenta a maior densidade hidrográfica das Américas (talvez do Mundo), com rios, arroios, sangas, lajeados, restingas, de todo o tipo. Falar em escassez de água é, nessas condições, ridículo.

Acumular água, mesmo afetando Áreas de Preservação Ambiental, é ambientalmente recomendável, recuperando a cobertura vegetal no entorno dos alagues, e ofertando água abundante para a manutenção e proliferação da vida silvestre e a promoção da produção agro silvo pastoril.

Dada a conformação geomorfológica do Rio Grande do Sul pela qual a maior parte das drenagens nascem em terras altas e a agricultura se desenvolve em coxilhas onduladas a suave onduladas ou em várzeas, é possível associar a política de geração hidrelétrica com a política de irrigação.

Um zoneamento de possíveis alternativas, de acumulação de  água em reservatórios, é necessária.

Assim, em todas as zonas de drenagens muito encaixadas e de produção agrícola familiar, deve-se preferenciar a acumulação de água em reservatórios de pequeno porte.

Na zona de coxilhas onduladas e suave onduladas, deve-se adotar uma política de reservatórios pequenos associados a reservatórios de maior porte.

Nas zonas de agricultura em várzeas devem ser considerados todos os tipos de reservatórios, incluindo barragens de maior porte..

A associação entre geração de energia, com reservatórios de maior porte nas terras altas, e irrigação, pode ser feita criando derivações, à jusante, nas terras baixas.

De qualquer modo, é necessário criar uma política de Estado e chamar a participação da iniciativa privada.

Acumulando água abundante (as chuvas são escassas de dezembro a março no Estado), é possível adotar uma política de produção irrigada que aumenta a produtividade de todos os recursos produtivos envolvidos, integra as cadeias produtivas, cria segurança e aumenta a competitividade.


*Geólogo, professor universitário e consultor.

Foto: Divulgação Sema/RS (Secretaria Estadual do Meio Ambiente).

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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