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Opinião

Os braços do fascismo brasileiro: uma análise efêmera

Os braços do fascismo brasileiro: uma análise efêmera

Artigo por RED
03/08/2023 05:30 • Atualizado em 04/08/2023 09:17
Os braços do fascismo brasileiro: uma análise efêmera

De ADRIANO VIARO*

Muito se tem falado sobre o fascismo brasileiro. Nomenclaturas à parte (neofascismo, bolsonarismo, teocracia-fascista, nazibolsofascismo, fascismo à brasileira, fascismo pós-moderno, etc.), os signos que identificam a guinada (e a manada) fascista brasileira são muito bem definidos, demarcados e pautados. Grosso modo, existem braços que servem de alicerces para o fomento e robustecimento da ideologia de extrema-direita em nosso solo.

Primeiramente, é mister identificar a presença do neopentecostalismo como fundamento de ideia conservadora no campo dos costumes. Estas igrejas não pautam a política e sequer se preocupam com questões que envolvam salários, empregos, economia, cesta-básica, educação, saúde e segurança. Elas cumprem o papel de militância e policiamento dos formatos de família e da manutenção constante da subserviência da mulher e da proibição de orientações religiosas. Aqui, neste espaço de debate, aparecem questões como drogas, aborto e feminicídio como sendo catastróficas do ponto de vista da preservação da comunidade de deus.

Os evangélicos crescem para além das expectativas apontadas ao longo das décadas. Embora o último censo ainda não tenha apresentado nenhum recorte por preferência dogmática, pesquisas já apontam que o crescimento em relação ao ano de 2010 é de 42 milhões para 63 milhões de evangélicos. Levando em consideração a última eleição, que revelou mais de 50% dos votos de evangélicos para os campos de direita e extrema-direita, podemos apontar que o crescimento acende o amarelo-piscante para o crescimento do conservadorismo no país. E para isso não podemos esquecer que os índices de natalidade da comunidade evangélica giram na casa de 50% a mais do que os não evangélicos. Ou seja, se reproduzem mais, engajam mais e ainda possuem poder de conversão entre os demais atores de nossa sociedade.

Em segundo lugar, temos a comunidade ruralista. O meio rural brasileiro se solidifica em valores misóginos e heteronormativos. É de conhecimento acadêmico que a chamada “modernização conservadora do meio rural” implicou em grande êxodo de mulheres para o setor urbano, visto que seu papel deixou de ser preponderante passando cada vez mais às questões domésticas; deste modo, a migração feminina busca maiores oportunidades e menos opressão. Outro fator preponderante, está na busca por formação educacional completa – algo historicamente negado às mulheres, sobretudo por questões culturais ligadas ao meio em si. Deste modo, tem-se a chamada “masculinização” do meio rural. Junto desse fenômeno, e atrelado às ligações dogmáticas presentes do demarcador analisado anteriormente, o meio rural se coloca de forma conservadora e até mesmo extremista no que tange à preservação de valores conservadores na sociedade brasileira como um todo. Um meio masculinizado e culturalmente patriarcal é facilmente cooptado por discursos conservadores.

Outro demarcador importante é formado pelas polícias militares. Levando em consideração a própria gênese dessa farda – criada ainda no século 19 para conter negros que começavam a ganhar suas alforrias e, deste modo, dar à população branca uma sensação de maior segurança em uma sociedade que criava a circulação livre de pessoas pretas -, não precisamos de grandes estudos para entender que o fascismo não só lança mão de polícias, como os próprios agentes dessas corporações se identificam com candidatos que preservam discursos conservadores nos costumes, e reacionários e extremistas na política – politica essa que sempre perde em prioridade para as questões de ordem moral, sobretudo quando vestem fardas. As polícias atuam de forma classista desde seu treinamento e, recentemente, com “parcerias” com igrejas neopentecostais “UFP” (Universal nas Forças Policiais), e com as pentecostais “policiais de cristo”. Inclusive com bíblias exclusivas para corporações. Ou seja, os itens demarcatórios do fascismo à brasileira se encaixam e dialogam entre si.

Por fim, a defesa irrestrita do armamento da população caracteriza o último braço deste movimento. Após criar alicerces moralistas de caráter religioso, de robustecer o meio rural com a sua masculinização e conservadorismo e, após vincular polícias com igrejas em um movimento de recrudescimento da própria gênese dessas corporações, a defesa das armas vem como forma de chancela da própria ideia de extremismo. Há uma crença que tolhe e castra movimentos progressistas. Há uma prática rural que pretende dominar economia – com seu abastecimento modernizado – e manter sua masculinização. Há policiamento e por último a liberdade de se armar. O neofascismo brasileiro tem alicerces capazes de mantê-lo no poder e/ou como ideia, independentemente de quem seja seu representante maior.


*Licenciado e Mestre em História, com especialização na área de História e Sociologia.

Imagem em Pixabay.

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