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Opinião

Octávio Dutra – Poucas lembranças

Octávio Dutra – Poucas lembranças

Artigo por RED
07/08/2023 05:25 • Atualizado em 08/08/2023 08:58
Octávio Dutra – Poucas lembranças

De ADELI SELL*

Para falar da música de Porto Alegre, deveria haver um grande capítulo a este músico exemplar. Porém, poucas lembranças ficaram dele e praticamente não se fala nos seus inúmeros feitos.

Ele dá a denominação de uma pequena rua no Bairro Menino Deus, ligando a Avenida Padre Cacique com a Rua Silveiro.  Nada mais encontrei, a não ser este livro de 2000: Octavio Dutra na história da música de Porto Alegre.

Quem fez seu resgate foi outro músico, pesquisador, Hardy Vedana. Livro financiado pelo Funproarte com a edição de Gilmar Eitelvein, outro grande conhecedor da arte musical.

Neste livro de resgate temos a orelha escrita pelo jornalista Kenny Braga e o Prefácio de Danilo Ucha, já falecido.

A obra contém letras, partituras, fotos que o autor conseguiu com parentes de Octávio Dutra.

Podemos dizer que foi ele o primeiro ou um dos primeiros a fazer jingles na capital, isto que estamos no início do século XX. Ficou famoso o das cervejas Oriente e Negrita, fabricadas pelos Bopp, antiga Cervejaria Continental, aquela ali onde temos o Shopping Total.

Fez incursões no teatro. Era a arte mais em voga antes do cinema. Teve apresentações no nosso Theatro São Pedro.

Quando iniciou sua incursão na música foi com o violão, tido como um instrumento maldito, de vagabundos. Mas fez do dedilhar do violão músicas que iam da valsa às mazurcas. Do violão, que era maldito, foi para o Carnaval, que também era uma arte das periferias. Formou um grupo carnavalesco feminino, As Batutas.

No Carnaval teve dos seus maiores sucessos, algo que não se lembra praticamente quando se lê sobre as festas carnavalescas e dos seus grupos em Porto Alegre. Foi na década de 20 certamente o mais famoso. Seu grupo era “Os Batutas”, do qual participava seu irmão, Arnaldo.

Isto merece um estudo maior, não presente neste livro que comento.

Era um homem de comando. Formou um grupo musical “O terror dos facões”, uma provocação, porque com ele estavam os melhores, outros eram “facões”, músicos (digamos assim) “meia boca”. Tinha uma legião de alunos.

Aos 16 anos lançou a primeira música, a Valsa n° 1. Teve gravações começando pelo centro do país. Sempre se
negou a deixar a capital. Nasceu e morreu aqui (1884/1937). Vida curta: 52 anos.

Em seguida gravou com a nossa A Casa Elétrica. Também incursionou nesta gravadora pelo regionalismo.

Para poder sobreviver, pois não eram tempos de “direito autoral”, abriu uma escola, foi carteiro, entre outras atividades.

Teve alguns baques na vida, como a morte do pai que era jurista, a quem dedicou uma música, bem como seu irmão Arnaldo, morto muito jovem, que além de parceiro seu, era médico e jornalista.

Uma vida curta, porém profícua. Hardy lista resumidamente em quatro páginas as principais datas de sua vida.

Um livro esgotado. Para tê-lo só em bibliotecas e catando em sebos. Merecia uma edição mais bem acabada pela nossa Secretaria de Cultura. Não percamos as esperanças.


*Escritor, professor e bacharel em Direito.

Foto em acervo virtual da UFPEL.

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