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Opinião

O “Marimbondo” da Rua da Praia

O “Marimbondo” da Rua da Praia

Artigo por RED
21/01/2024 05:30 • Atualizado em 23/01/2024 09:45
O “Marimbondo”  da Rua da Praia

De JORGE ALBERTO BENITZ*

O prédio onde ficava a Livraria Palmarinca, quando a conheci e comecei a frequenta-la, era na esquina da rua Vigário José Inácio com a General Vitorino. Um prédio inacabado e meio sombrio. Creio que havia lojas comerciais apenas no primeiro andar, onde ficava a Livraria. O resto, os andares acima do primeiro andar, estavam vazios. Nem reboco nas paredes havia. Portanto, só tinha o “esqueleto” da construção.

Para ir na Livraria era necessário subir uma escada meio balançante que muitos não tinham coragem de encarar. Um escritor famoso dizia que não a frequentava porque tinha medo que o prédio caísse quando lá estivesse. Outro motivo para os mais assustados e cautelosos não a frequentarem, era a fama de ser um antro comunista. Nela, na época de propriedade do Rui Gonçalves e do Hermes Duarte, se encontrava, além dos livros usuais existentes em qualquer livraria, livros marxistas e/ou de esquerda não- marxista e, suprema audácia visto que se estava em plena ditadura, até livros russos marxistas e técnicos importados.

No térreo existia uma barbearia e um boteco. Em uma das minhas idas na Livraria, passei antes neste Boteco para fazer um lanche. Sentado na banqueta da Lancheria, comecei a ouvir um sujeito se lamuriando dizendo que sempre se esforçou na vida e nunca conseguiu nada. Não me lembro de toda a conversa… Lembro apenas que era um samba de uma nota só de lamúrias e reclamações. Como faz um tempo enorme do ocorrido não recordo de toda a conversa. Só sei que não saiu deste rame rame choroso dele desafogando suas mágoas para o coitado do ouvinte. Não sei se era um dos garçons ou um cliente sentado ao lado dele que teve de aturar este chororô sem fim. De soslaio, vi quando ele saiu, que era um tipo ruivo, alto e espevitado, de chinelo de dedo. Talvez, por causa da erisipela que aparecia em uma das pernas. Mentiria se, depois de tanto tempo, lembrasse em que perna ele tinha as chagas da doença.

Voltando as impressões do encontro, pensei com os meus botões “Puxa! Coitado deste sujeito. Deve ser um pobre trabalhador que tem todo o direito de reclamar da vida. Eu devia me compadecer pelo sofrimento deste pobre homem e não ficar reclamando das lamurias feitas por ele. Afinal, ele parece ter todo o direito de externa-las mesmo publicamente”. Subi a Livraria e esqueci logo o assunto.

Passou um tempo, que não sei precisar, e encontro o dito cujo na rua da Praia. Assim que o vi, ouvi gritos de transeuntes “Marimbondo!”. Percebi que eram dirigidos a ele e o deixavam furioso. Tanto que respondia com palavrões e insultos. Logo fiquei sabendo que ele, aquele personagem que me comoveu por parecer um trabalhador sofrido e injustiçado na primeira vez que o encontrei em um boteco, era um conhecido e folclórico achacador que vivia mordendo amigos e mesmo desconhecidos na Rua da Praia, que para ganhar um cachê topava qualquer negócio, inclusive, fazer o papel de joguete dos riquinhos na época, que o contratavam para fazer pegadinhas especialmente para as mulheres da sociedade no tempo em que a Rua da Praia era a passarela da moda da cidade, como li em matéria escrita pelo jornalista Fernando Albrecht. Mais, disseram que ele nunca trabalhou na vida, vivia de achaques.

Para quem gosta de rotular, não é o meu caso, eis um típico lumpemproletário, conceito criado e descrito por Marx no “18 Brumário de Luís Bonaparte”, para descrever a ralé manipulada em benefício de Luís Bonaparte, por seus apoiadores. Em favor dele julgo que, a manipulação, a contratação dele pelos “mauricinhos” da época para cometer idiotices mais deve ser debitada na conta destes canalhas em fase de formação.


*Engenheiro, escritor e poeta.

Imagem em Pixabay.

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