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Opinião

O exterminador do passado

O exterminador do passado

Artigo por RED
18/12/2023 05:30 • Atualizado em 20/12/2023 00:39
O exterminador do passado

De ADELI SELL*

Quem ocupou a cadeira de prefeito de 31 de março de 1969 a 08 de abril de 1975? O que ocorreu naqueles tempos?

Badalado por alguns como o homem dos viadutos, tripudiado por outros como o “destruidor maior de nosso patrimônio histórico e cultural”…

Resgatar Memórias, colocar o passado às claras é um dever. Cabe a mim que penso o presente de Porto Alegre olhar para o passado e tentar saber: por que razões somos a cidade da destruição?

Este prefeito se chamava Telmo Thompson Flores. Começou seu governo indicado pelo governo militar, no dia do aniversário do 5° ano do golpe ditatorial. Foi o ano do AI-5.

Apesar da opressão e repressão dos milicos, a Rua da Praia continuava fervilhando e as pessoas passeando elegantemente pelas pedras coloridas, exposto na capa do livro de Nilo Ruschel sobre a primeira via da capital.

Ele mandou tirar as pedras emblemáticas e marcantes da rua e colocou lajotas, que há alguns anos estão quebradas e que neste Natal de 2023 está intransitável.

No dia 8 de março de 1970 fez parar todos os bondes e em seu lugar entraram os ônibus poluidores, largando fumaças pelo ar. Hoje, mais uma vez, o sistema de transporte está falido.

Para fazer “suas obras” colocou por terra o enorme prédio do Mercado Livre que havia onde hoje é a Praça Sesquicentenário, ali na entrada da Estação da Trensurb.

Nessa época, também foi demolida a linda Estação Ferroviária Ildefonso Pinto, construída e inaugurada em 1927 para ser a estação inicial da estrada de ferro Riacho-Tristeza, que já existia desde o final do século 19, partindo das proximidades da Ponte de Pedra.

Dano irreparável à fisionomia da capital.  

Demoliu a antiga Estação Central da Viação Férrea de Porto Alegre, conhecida como Castelinho.

Foi por terra, por sua graça e obra, o prédio da 6ª Companhia de Polícia do Exército, local onde servia Carlos Lamarca, local de torturas no início da ditadura, local onde tudo indica que foi torturado e morto o sargento do Manoel Raimundo Soares, conhecido como o “Caso das Mãos Amarradas”. Era um prédio que por sua arquitetura deveria ser preservado e seria um local de Memória. Tentei localizar uma placa posta ali e não mais a encontrei.

Ele tentou demolir o Mercado Público, mas graças ao empenho da sociedade civil, de historiadores e arquitetos, e em especial do jornalista Walter Galvani, do Correio Povo, o mesmo foi preservado.

Quis demolir o majestático prédio Edifício Ely na Rua da Conceição, obra do arquiteto maior da cidade, Theodor Wiederspahn, mas os técnicos o convenceram que a elevada poderia ser feita em curva e assim foi feito.

Este homem foi o “destruidor do passado”. Não pode ser esquecido nem apagados os males que ele causou para o nosso patrimônio histórico e cultural.


*Escritor, professor e bacharel em Direito.

Foto: Museu Virtual Carris/Divulgação PMPA.

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