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O entrelaçamento de “Ainda Estou Aqui”, Fernanda Torres e o 8 de janeiro na defesa da democracia

O entrelaçamento de “Ainda Estou Aqui”, Fernanda Torres e o 8 de janeiro na defesa da democracia

Artigo por RED
08/01/2025 18:00 • Atualizado em 08/01/2025 03:16
O entrelaçamento de “Ainda Estou Aqui”, Fernanda Torres e o 8 de janeiro na defesa da democracia

Por CARLOS EDUARDO BELLINI BORENSTEIN*

O entrelaçamento de “Ainda Estou Aqui”, Fernanda Torres e o 8 de janeiro na defesa da democracia

A conquista do Globo de Ouro de melhor atriz por Fernanda Torres no filme “Ainda Estou Aqui” representa mais do que uma vitória do cinema brasileiro, da cultura e da arte nacional. Estamos diante de um fato com grande peso histórico.

Fernanda Torres foi consagrada como a primeira atriz brasileira a vencer o Globo de Ouro ao interpretar brilhantemente Eunice Paiva – esposa do deputado Rubens Paiva – que travou um enfrentamento com a ditadura militar desde 1971, quando seu marido foi sequestrado, torturado e morto pela ditadura militar.

Nos anos posteriores ao sequestro e assassinato de Rubens Paiva pelo regime autoritário, Eunice lutou pelo reconhecimento da responsabilidade do Estado na morte de seu marido. O caso foi investigado pela Comissão Nacional da Verdade, em 2011, que confirmou o assassinato de Rubens Paiva após 40 anos de seu desaparecimento.

A conquista do Globo de Ouro ocorre apenas dois dias antes do país celebrar a vitória da democracia contra a tentativa de golpe da extrema-direita ocorrida em 8 de janeiro de 2023. Nesse dia, o país assistia atônito a depredação da Praça dos Três Poderes, tendo como alvo central dos golpistas o Palácio do Planalto e principalmente o Supremo Tribunal Federal (STF).

No atual contexto histórico, o presidente Lula, como demonstra o pós 8 de janeiro, é a grande liderança política na defesa da democracia. Além de ter derrotado Jair Bolsonaro nas eleições de 2022, Lula tem sido um ator central na retomada de uma mínima normalidade institucional do país. Apesar dos limites e contradições do governo Lula 3, o presidente tem conseguido retomar o diálogo com o STF e parte dos governadores, o que foi interditado durante os anos Bolsonaro.

Mesmo com as divergências existentes na relação com o Congresso Nacional, temos um ambiente de respeito às divergências e busca de construção de consensos mínimos. Lula também tem conseguido viabilizar um governo aliancista, atraindo forças de centro como o PSD e MDB, além de parte da direita democrática organizada no União Brasil e Republicanos.

Outro aspecto importante diz respeito ao relacionamento com as Forças Armadas. Mesmo que parte das Forças ainda resistam a Lula, o relacionamento é mais construtivo do que era em 2023. Soma-se a isso o avanço das investigações contra quem tentou realizar um golpe de Estado.

Apesar do destaque que parte da imprensa e do governo dá aos números positivos da economia, a grande marca governo Lula 3 passa por uma simbologia política. O que isso quer dizer? Lula tem conseguido, mesmo diante de um cenário bastante complexo, retomar o diálogo institucional.

A retomada desse diálogo se conecta com a mensagem do filme “Ainda Estou Aqui”. Mais do que a busca por punição, o grande legado do filme passa por não deixar que o período autoritário seja esquecido ou revisado. A memória desse passado se vincula com os desafios enfrentados pelo governo Lula na retomada da normalidade institucional em meio aos constantes testes a que a democracia brasileira está sendo submetida.

Assim, por uma coincidência histórica, o 6 de janeiro de 2025 se entrelaça com 8 de janeiro de 2023, tendo Lula, um dos poucos líderes remanescentes da geração que foi protagonista na luta contra a ditadura militar, em uma posição de destaque na defesa da democracia no campo progressista.

Nesta defesa da democracia – que será um embate permanente, já que a extrema-direita, em que a defensiva estratégica, segue ativa no país – a arte, a cultura e o cinema, como demonstra o impacto do filme “Ainda Estou Aqui”, e o Globo de Ouro de Fernanda Torres, também adquire sua centralidade. Não por acaso, a arte, a cultura, o cinema e o conhecimento científico são alvos centrais dos regimes autoritários.

 

 

 

 

 

*Carlos Eduardo Bellini Borenstein

Doutorando em Ciência Política na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Bacharel em Ciência política (ULBRA-RS). Especialista em Ciência Política (UFRGS). Tem MBA em Marketing Político (Universidade Cândido Mendes).

Foto de capa: Divulgação; Eduardo Simões/Arquivo pessoal.

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