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O Desbunde da Plaenge
O Desbunde da Plaenge
por Solon Saldanha*
Um funcionário da Plaenge, construtora e incorporadora que tem sede no Paraná e está edificando dois edifícios de alto padrão no bairro Petrópolis, em Porto Alegre, arriou suas calças e mostrou a bunda para moradores próximos de um destes empreendimentos, que protestavam contra o corte de um guapuruvu em terreno onde a obra está sendo feita. Além de submeter as pessoas a uma visão realmente dantesca, ele também arrancou os cartazes que estas haviam colado nos tapumes buscando que houvesse sensibilização suficiente para que desistissem da medida.
Segundo os moradores, a posição onde a árvore se encontrava em nada atrapalhava o trabalho, sendo possível imaginar que a sua preservação poderia ser garantida, se existisse um mínimo de boa vontade. Além disso, eles pontuaram que o guapuruvu era “uma das maiores e mais bonitas árvores ainda existentes em Porto Alegre”. Também afirmaram que ele era saudável e ficava florido na primavera, embelezando o local. Nos dias que antecederam a derrubada, pelo menos 52 registros de posição contrária à decisão foram postados no Instagram da empresa. Nas respostas, esta afirmou que a ação teria como objetivo “mitigar danos ao muro de divisa e às edificações lindeiras”, o que não deu para entender, uma vez que os vizinhos já estavam lá há muitos anos, em um convívio harmonioso com a espécie vegetal.
O guapuruvu é uma árvore nativa que se encontra nas regiões Sudeste e Sul do Brasil. Adulta, atinge de 20 a 30 metros de altura, com seu tronco ficando com 60 a 80 centímetros de diâmetro na altura do peito. Quando utilizada em plantio para recuperação de áreas degradas, ele vive em torno de 40 a 50 anos. Mas, em ocorrências naturais chegam a 70 anos ou mais. Se lê em publicações especializadas uma descrição que aponta para ter “flores grandes, vistosas, amarelas. Tronco elegante, majestoso, cilíndrico e reto, casca de cor cinzenta característica. E floração nos meses de outubro, novembro e dezembro”. Como curiosidade, é a árvore símbolo de Florianópolis, a capital de Santa Catarina. Por lá existe, por exemplo, grande presença sua na Costa da Lagoa da Conceição. Em todo o litoral ainda se encontram canoas antigas feitas com sua madeira, que é leve e resistente.
Desbundar foi um verbo muito utilizado durante os anos 60 e 70 e tinha vários significados. Um deles seria o de adotar um estilo de vida nada convencional aos costumes, valores e ideias vigentes. Mas, também servia para apontar comportamento libertino; causar impacto; proceder de forma atípica; ser deslumbrado; ou ainda perder o controle de si sob efeito de álcool ou de drogas. O tal funcionário não estava nem bêbado, nem drogado. Talvez se possa identificar sua ação desrespeitosa como sendo decorrente daquela sensação trazida pelos “pequenos poderes” sugeridos por Michel Foucault. Afinal, naquele momento ele se sentia com autoridade suficiente para rasgar clamores impressos e silenciar os protestos não os considerando. Ou, ainda, queria apenas agradar seus patrões. Que, aliás, até agora não se pronunciaram pedindo desculpas a quem teve que suportar, além da dor pela perda do guapuruvu, aquele traseiro diante dos seus olhos.
E, uma curiosidade para se concluir: a julgar pelo que está escrito nos tapumes, o nome do condomínio que começa a ser construído será Verdant. Traduzindo para o português – as construtoras todas adoram colocar nomes estrangeiros nos prédios –, é Verdejante. Pois iniciaram se desmentindo, ao colocar abaixo um dos símbolos verdes do bairro.
Publicado originalmente no Blog Virtualidades O DESBUNDE DA PLAENGE – Virtualidades
*Jornalista
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