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Opinião

O circo e a política

O circo e a política

Artigo por RED
02/10/2022 06:00 • Atualizado em 02/10/2022 22:44
O circo e a política

De JOÃO PEDRO CASAROTTO*

Publicado originalmente em 2015.

O homem serve a pipoca e responde que não sabe até quando o circo ficará naquele local, pois depende do volume de público pagante que for aparecendo dia após dia.

Iniciada a sessão, ele reaparece apresentando as atrações, empurrando equipamentos, segurando a corda dos trapezistas, abrindo e fechando a cortina e supervisionando todos os acontecimentos.

A vendedora de algodão doce reaparece como acróbata e contorcionista.

O vendedor de refrigerantes reaparece consertando a arquibancada, apresentando-se como palhaço e dirigindo uma das três motos que circulam veloz e harmonicamente dentro da esfera de aço na atração conhecida como o globo da morte.

No aparelho do trapézio voador dois sobem até as plataformas fixas.

Em um lado, o aparador – trapezista forte que se pendura de cabeça para baixo na barra pendular – balança o seu corpo em um movimento de vai e vem. No outro lado, o volante – trapezista leve e ágil que realiza os voos livres – balançando-se na sua barra toma altura e velocidade.

Ao atingir a velocidade e o ângulo praticados em longos anos de treinamento, o volante, largando a barra pendular, lança-se ao ar, dá três saltos mortais e, ao descer, encontra as mãos do aparador que o segura firmemente. No retorno, o volante solta-se das mãos do aparador e gira sobre si mesmo no ar e vai ao encontro da sua barra, que lhe é lançada no tempo certo pela colega que lhe dá assistência.

Quando se apresentam ao público no fim da sessão, toda a equipe transpira sincronia, companheirismo, cumplicidade e confiança.

Neste trabalho não há espaço para o individualismo, o egocentrismo, a falta de atenção e a falta de solidariedade. Todos eles sabem muito bem o quanto é doloroso quando o público fica em silêncio, pois isto significa descontentamento e a ausência de futuro público pagante.

O mundo do circo nada tem a ver com o mundo da má política onde vemos sobrepor-se o individualismo ao coletivo e o egocentrismo à solidariedade. Somos injustos e desrespeitosos quando afirmamos que os que praticam a má política estão fazendo um espetáculo circense.

Quem dera a política fosse um circo onde os atores buscam, à exaustão, a preparação perfeita para prestar um excelente serviço aos pagantes fazendo com que estes lancem suas mãos à frente para brindá-los com ruidosos aplausos, mesmo quando algum movimento saiu errado e o ator humildemente o recomeçou.

Definitivamente, no mundo da política, precisamos de mais circo onde tudo depende da aclamada aprovação do distinto público.

*Especialista em operações financeiras, finanças e dívidas públicas e Auditor-Fiscal do RS, aposentado.

Imagem em Pixabay.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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