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Opinião

O ciclo político-eleitoreiro de Bolsonaro

O ciclo político-eleitoreiro de Bolsonaro

Artigo por RED
18/10/2022 01:38 • Atualizado em 19/10/2022 22:26
O ciclo político-eleitoreiro de Bolsonaro

De CHRISTIAN VELLOSO KUHN*

A pesquisa divulgada pela Datafolha na última sexta-feira (14) apontou um aumento de 8 pontos percentuais (p.p.) naqueles eleitores que consideram o governo Bolsonaro bom ou ótimo. Essa elevação foi mais representativa nas regiões em que o Auxílio Brasil foi concedido para um maior número de beneficiários, como na região Norte, onde a avaliação positiva de Bolsonaro cresceu 12 p.p.

Para o colunista do UOL José Roberto de Toledo, Bolsonaro deveria agradecer muito ao Paulo Guedes. “Se não fosse o Paulo Guedes, ele não teria essa taxa de ótimo e bom nessa altura do campeonato à custa de políticas eleitoreiras e um estelionato eleitoral”. Dentre essas medidas eleitoreiras, além do já citado Auxílio Brasil (que aumentou para RS 600,00 até o final do ano), podemos mencionar o limite de alíquota de ICMS para combustíveis, energia elétrica e outros itens, o perdão de até 90% de dívidas de indivíduos com a Caixa Econômica Federal (CEF), benefícios para caminhoneiros e taxistas, o valor dobrado de auxílio-gás, dentre outras bondades concedidas pelo governo. As três últimas, junto do Auxílio Brasil, compuseram a denominada PEC Eleitoral ou PEC Kamikaze.

A tentativa de um governo de influenciar o resultado das eleições, usando instrumentos de política econômica, não é um recurso inovador. A teoria econômica estuda esses fenômenos há pelo menos 50 anos, e convencionou chamar de ‘Ciclo Político-Econômico’. Basicamente, o governo induz os eleitores a votarem a favor da situação, geralmente estimulando o crescimento econômico no curto prazo, mediante a adoção de uma política econômica expansionista alguns meses antes das eleições, e promove ajustes contracionistas nos meses seguintes ao pleito eleitoral.

As estimativas atuais é que essas medidas econômicas adotadas pelo governo repercutam numa perda de recursos aos cofres públicos que podem chegar a mais de R$ 281 bilhões. Ainda, o orçamento de 2023 só tem dotado um valor de R$ 400,00 para o Auxílio Brasil. Considerando que o índice de inflação oficial (IPCA) é de 7,17% nos últimos doze meses até setembro, e a inflação de alimentos chega a 11,71% em igual período, pode-se imaginar a dificuldade ainda maior que os atuais beneficiários do Auxílio Brasil terão no ano que vem para manterem a sua sobrevivência.

É tão evidente essa intenção intrínseca por trás das ações implantadas recentemente na política econômica, que de acordo com a pesquisa Genial/Quaest divulgada em 17 de agosto desse ano, 62% dos eleitores consideram que essas medidas são, basicamente, para auxiliar a reeleição de Bolsonaro, enquanto que apenas 33% creem que foram criadas para ajudar as pessoas.

Por causa disso, em que pese estarem fazendo efeito na avaliação do governo vigente, não estão sendo suficientes para lograr a Bolsonaro uma virada nas pesquisas, haja vista seu altíssimo índice de rejeição. É bem possível que os eleitores brasileiros estejam mais conscientes de que a motivação da concessão dos benefícios recentes pelo governo seja muito mais em prol de si próprio, colaborando para a reeleição do atual presidente, do que voltada para o bem-estar da população mais carente. Resta torcer para que esta não se deixe levar por medidas de cunho eleitoreiro, sob pena de sofrer por mais quatro anos com a atual caquistocracia aporofóbica, dessa vez sob a forma de uma ditadura.


*Mestre e Doutor em Economia, autor de livros como Governo Figueiredo (1979-1985): política econômica e ciclo político-eleitoral. 

Imagem – divulgação na internet.

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