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Opinião

O castilhismo e as esquerdas

O castilhismo e as esquerdas

Artigo por RED
13/02/2023 04:55 • Atualizado em 14/02/2023 08:48
O castilhismo e as esquerdas

De ADELI SELL*

Nota explicativa:

Ao longo das semanas trato aqui de resgates, de memórias, numa luta contra o esquecimento.

Trago à reflexão um tema eminentemente político também como resgate de Memória, numa visão de que é preciso fazer um revisionismo historiográfico no Rio Grande do Sul.

Fatos e ideologia

Quem com ferro fere, com ferro será ferido.

Às vezes com uma adaga de prata, cortando a jugular, como foram nossas degolas.

Só de saber da violência de 1893/5 e da guerra de 1923, as esquerdas gaúchas que prezam a Paz deveriam questionar o ideário castilhista.

Foi o roubo eleitoral de Borges de Medeiros que deflagrou a revolta dos assisistas em 23, como foi a ditadura de Júlio de Castilhos que fomentou a Guerra Civil de 1893/5.

Mesmo assim, as esquerdas tem o castilhismo como o exemplo de um Estado inovador e civilizatório contra as elites
rurais.

Será verdade tudo isso?

Há um pouco de verdade, mas a maior parte é mito mesmo. Sem querer defender os interesses do atraso nos pampas, nem bancar maragato de lenço vermelho, é necessário rever a História contada pelas elites.

O castilhismo construiu um Estado e líderes autoritários.

Getúlio Vargas, mesmo sendo o “pai dos pobres”, tirou do seu caminho e perseguiu Flores da Cunha, um antigo castilhista como ele. Como tirou de seu lado Lindolfo Collor e Maurício Cardoso, que hoje estariam na ala esquerda de qualquer governo progressista.

Brizola das brizoletas e da Legalidade é um exemplo de progressismo, porém dirigiu sua facção política de forma caudilhesca, motivo também do seu descenso.

Em 1980 surge o Partido dos Trabalhadores, que se opõe às posturas caudilhescas e constrói um partido pela base, com instâncias democráticas de decisão.

E, assim, contra a visão dominante aqui e também contra o coronelismo e os acordos das elites, formamos um partido de esquerda sui generis.

Isso tudo deixou os outros partidos de esquerda numa ação quase residual.

No entanto, de quando em quando, surgem em nosso meio visões e atitudes tipicamente castilhistas nas quais líderes se colocam num estado acima da militância e suas vontades. Esquecem que a esquerda mais ortodoxa de tradição stalinista ou maoista mudou radicalmente, quase sumiu, que o PT não vai regredir, ceder posição para visões de cima para baixo. São 43 anos de duro aprendizado, continua tendo rebeldia na base, continuamos sendo o partido democrático, cobrando atenção de nossas direções.

O nosso futuro!

Se o PT chegou até aqui arrastando milhões, devemos nos precaver com os tempos que trazem para o nosso meio estas visões de cima para baixo, autoritárias, pois estão na contramão de nossa História.

Em continuando a ser um partido democrático e de militância, estaremos mais dia menos dia soterrando os resquícios castilhistas de nosso meio


*Escritor, professor e bacharel em Direito. Militante do PT Porto Alegre – adeli13601@gmail.com

Imagem de Júlio de Castilhos em Wikipedia.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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