Opinião
O Brasil é o meu país!
O Brasil é o meu país!
De BENEDITO TADEU CÉSAR*
Saio para minha caminhada matutina e passo por bairros de classe média alta em Porto Alegre. Vejo dezenas de bandeiras brasileiras desfraldadas nas varandas dos apartamentos de 200, 300, 700 metros quadrados, em edifícios com saguões de entrada de 7, 12, 15 metros de pé direito e em carrões novos e seminovos que passam velozes tremulando ao vento bandeirolas verde amarelas.
Hoje, vi até um carro de passeio com uma bandeira gaudéria pendurada no seu lado direito.
No meu passo cadenciado, fico refletindo e não chego à conclusão sobre o que faz esses meus conterrâneos se sentirem mais brasileiros do que eu para adotarem a bandeira do Brasil como seu símbolo eleitoral.
Pago mais impostos do que eles, pois sou assalariado, com desconto na fonte, e não recebo dividendos de investimentos de capital ou pró-labore de empresas e nem tenho aplicação na Bolsa de Valores, o que me daria isenção sobre a renda auferida.
Trabalhei 39 anos ininterruptos e hoje recebo uma aposentadoria que está há seis anos sem qualquer reajuste, o que reduziu cerca de 40% do meu poder de compra, mas isso não me faz amar menos meu país e seu povo.
Minha família ampla, como a de todas as gentes, é composta por pessoas heterossexuais, bissexuais e, claro, homossexuais e, o que é o melhor, apesar de todos os percalços e desencontros comuns à vida, todos, todas e todes têm fortes laços de afeto.
Preocupo-me com aqueles que têm menos do que eu e, principalmente, com aqueles que mal têm como sobreviver. Faço campanhas para combater a fome, que foi violentamente agravada pela pandemia, e pela ausência de políticas públicas capazes de possibilitar uma vida digna para o conjunto da população brasileira.
Como professor universitário, dediquei minha vida a preparar as novas gerações e a pesquisar formas de melhorar a vida coletiva e desenvolver o país e, hoje, participo de movimentos em defesa da democracia.
Mesmo assim, vejo as bandeiras verde e amarelas exibidas como símbolo de uma parte apenas dos brasileiros e ouço as acusações feitas a quem discorda de seus portadores: “gaysista”, “comunista” ou destruidor da moral tradicional.
Será o amor à pátria exclusividade daqueles que pagam menos impostos, têm mais propriedades, estudaram em escolas caras e podem manter seus filhos em escolas ainda mais caras ou enviá-los para estudar no exterior?
Que amor à pátria é esse que procura intimidar a todos, todas e todes que têm menos posses e têm sentimento de amor a seu país, ainda que o sinta de formas diferentes, reivindicando dele um maior cuidado com os que mais precisam?
Tenho a suspeita de que o nacionalismo propagado pelos que assumem essa postura é do mesmo tipo daquele que alimenta todas as guerras, sempre realizadas às custas da vida dos que quase nada possuem e que são utilizados para defender a vida e a propriedade dos que se dizem mais nacionalistas e mais moralistas do que os demais.
*Cientista político, professor aposentado da UFRGS e integrante da coordenação da RED.
Imagem da Bandeira do Brasil no site do governo federal.
As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.
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