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Novos caminhos para o PT: a necessidade de enfrentar as desigualdades em um Brasil em transformação

Novos caminhos para o PT: a necessidade de enfrentar as desigualdades em um Brasil em transformação

Politica por RED
15/10/2024 18:00 • Atualizado em 14/10/2024 22:03
Novos caminhos para o PT: a necessidade de enfrentar as desigualdades em um Brasil em transformação

Por ALEXANDRE CRUZ*

O Partido dos Trabalhadores (PT), ao longo das últimas décadas, estabeleceu-se como uma força política representando os trabalhadores e os movimentos sociais. No entanto, as rápidas transformações da sociedade e do mercado de trabalho exigem uma atualização constante. Novas categorias de trabalhadores emergem, como os ligados às plataformas digitais, ao mesmo tempo em que as pautas de raça, gênero e classe estão mais interligadas do que nunca.

Recentemente, a prefeita de Contagem, Marília Campos, reeleita no primeiro turno, fez uma crítica ao partido, sugerindo que o PT deveria se afastar dos discursos identitários e focar em pautas mais amplas. Embora esse ponto de vista levante uma questão importante sobre a estratégia partidária, há uma dimensão crucial que precisa ser considerada: raça, classe e gênero estão intimamente conectados. Por fim, desqualificar uma pauta identitária pode ser um erro estratégico, especialmente quando se considera que a inclusão de mulheres no governo vai além de uma simples representação de gênero. Ela aborda questões interligadas de desigualdade social e econômica. A verdadeira força do discurso político reside na capacidade de integrar lutas identitárias e de classe, reafirmando que a justiça social é um conceito multifacetado que deve ser abordado de forma holística. Uma política que considere a diversidade das identidades é, portanto, essencial para a construção de um futuro mais inclusivo e democrático.

Dados do IBGE mostram que a pobreza no Brasil atinge de forma desproporcional a população negra. A fome, por exemplo, não é distribuída de maneira homogênea, afetando majoritariamente pessoas negras. Isso demonstra que, ao falar de desigualdade, é impossível dissociar questões de classe das questões de raça. O capitalismo, de fato, perpetua a miséria, mas ele faz isso de maneira estratificada, afetando certos grupos de forma mais severa. Assim, os discursos identitários não podem ser tratados como uma “moda”, mas como uma necessidade para reconhecer e combater múltiplas formas de opressão.

A interseccionalidade, um conceito que ajuda a entender como diferentes formas de opressão se sobrepõem, é essencial para qualquer análise séria sobre desigualdade no Brasil. O desafio para o PT é adaptar-se a esse novo contexto social e econômico, onde a precarização do trabalho afeta de maneira particular mulheres, negros e outros grupos marginalizados. Ignorar esses aspectos significa deixar de lado uma parte vital da base social que o partido historicamente representou. Nesse contexto, a inclusão de representação negra nas estruturas de governo se torna igualmente fundamental, não apenas refletindo a riqueza e a complexidade da sociedade brasileira, mas também servindo como uma mensagem poderosa para reduzir abstenção em Porto Alegre.

Se o Partido dos Trabalhadores quer realmente renovar suas lideranças e manter sua relevância, ele precisará encontrar uma maneira de conciliar a defesa das classes trabalhadoras com o reconhecimento das desigualdades específicas que grupos identitários enfrentam. Esse equilíbrio será fundamental para dialogar com as novas realidades sociais e econômicas que emergem no Brasil do século XXI. O futuro do PT depende, portanto, da sua capacidade de ouvir, aprender e agir em prol de uma política que reconheça e celebre a diversidade das experiências e lutas que compõem nosso país.

 

*jornalista político

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

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