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Opinião

Nova Política Industrial: com Tecnologia Nacional e Inovação

Nova Política Industrial: com Tecnologia Nacional e Inovação

Artigo por RED
08/05/2023 10:46 • Atualizado em 10/05/2023 10:15
Nova Política Industrial: com Tecnologia Nacional e Inovação

De ADÃO VILLAVERDE*

O que o economista chileno e pesquisador da Universidade de Cambridge, J. Gabriel Palma, quis dizer na forma de metáfora, por propriedade e irreverência, quando sentenciou que alguns analistas de mercado “não sabem diferençar os potatos chips dos microchips”, tem um enorme significado para o tema do desenvolvimento com sustentabilidade para uma Nação na era em que vivemos. Além, é claro, de estar se referindo a opções de modelos industriais.

O que ele quis dizer mesmo foi que, do ponto de vista de uma estratégia de desenvolvimento industrial, existe uma distância enorme em se investir em empresas que têm como base o modelo low tech na sua dinâmica econômica, sem agregação inovativa; ou nas que vislumbram um caminho de novo tipo, alavancadas por uma lógica baseadas em high techs ou medium tecnhology, que necessitam investimentos em conhecimento, inteligência e domínio avançado de seus processos produtivos.

A primeira via, é apostar na exportação de commodities, seja pela venda de grãos in natura, seja pela obtenção de produtos obtidos pelo garimpo focado no extrativismo, ambos associados à lógica de venda de matéria prima sem agregação de valor, tendo como necessidade, para suprir sua demanda interna, a importação de produtos altamente intensivos em tecnologia.

A segunda, seria de apostar no domínio e na expertise de tecnologias mais complexas e mais sofisticadas, como elemento alavancador e organizador deste processo de novo modelo industrial, onde os ativos, sobretudos os intangíveis da inovação, seriam os componentes fundantes deste modelo de alavancamento do crescimento e do desenvolvimento. Hoje mais modernamente feito por missões de países e Nação, e não meramente com base nas lógicas corporativas setoriais, ainda que estas sejam importantes, como fizeram nas últimas décadas do século passado, os países nominados “tigres asiáticos”.

Mas esta segunda via não é fácil de se percorrer, e no caso brasileiro menos ainda, sobretudo por encontrar barreiras quase intransponíveis. Dentre elas se pode destacar o mindset do empreendedorismo tradicional do país, que faz a opção pelo caminho mais curto, o chamado mais fácil, pois o sistema industrial nacional se especializou nesta via reducionista, imediatista ou mesmo simplista, de baixa intensidade tecnológica, que prefere atingir objetivos imediatos e de curto prazo, “para ontem”, de preferência sem aplicação de recursos. Ao invés de investir naquilo que demanda conhecimento, necessita de curva de aprendizado, requer domínio, expertise e por decorrência, apostar na inovação, que pode conferir ao modelo industrial um fôlego de longo curso e bem mais consistente.

Superar esta zona de conforto de seu modelo é condição preliminar para que possamos mudar de lugar na escala produtiva de país, sobretudo na época da bradada revolução 4.0, que pode fazer país ingressar na chamada fronteira tecnológica da inovação, ainda que ali a concorrência seja enorme, de outra natureza e exija grande competitividade. Mas este deve ser sempre o desafio da Nação que pensa de forma magnânime, sobretudo aquela que assim o faz, em nome de seu povo e para ele, mas tomando decisões com responsabilidade, em base a evidências e com critérios.

Mas isto não acontece ao acaso, necessita ser edificado, se verificarmos hoje os sistemas produtivos mundiais que estão neste patamar, visualizaremos que seus investimentos em inovação são os maiores ativos para seu crescimento e desenvolvimento sustentável. E se perceberá ainda que o percentual de seu PIB que eles aplicam em pesquisa e desenvolvimento (P&D), são altamente significativos, sendo que alguns deles chegam a valores na casa de 5% destes índices. Que por decorrência jogam suas condições de renda percapitas e de riquezas de Nação, para níveis elevados das cadeias produtivas mundiais, que são as chamadas economias centrais ou em via de desenvolvimento. Portanto, há uma correlação muito forte e estreita entre investimentos em P&D, a complexidade do sistema produtivo e a sofisticação das empresas geradas pelo país, além de lhes conferirem ainda, maior quantidade de registros de patentes e propriedades intelectuais.

Logo, para se superar o modelo produtivo atual do país, cuja lógica é o atalho, o caminho mais curto ou mesmo o da simplificação, baseada na eterna reprimarização da economia, no extrativismo e nos commodities, para obtenção de resultados imediatos no “dia de amanhã”, será necessário que se mergulhe definitivamente em um modelo produtivo distintivo, em bases ao conhecimento, à P&D, à tecnologia nacional, à disrupção e à renovação.

Este sim será um caminho de fôlego para transformar os ativos intangíveis da inovação em valores às organizações e à sociedade, fundamentalmente para fazer o país crescer e se desenvolver, e por fim, fazer melhorar a qualidade de vida de nossa cidadania, que é a razão maior de nossa existência.


*Engenheiro e Professor de Gestão do Conhecimento e da Inovação – Escola Politécnica PUCRS.

Imagem em Pixabay

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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