Opinião
Não há espaço para ruptura: seja no Brasil, seja na Itália
Não há espaço para ruptura: seja no Brasil, seja na Itália
De ALEXANDRE CRUZ*
No domingo passado, a eleição sinalizou que Giorgia Meloni seria a nova primeira ministra da Itália. Ela carrega o mesmo discurso do provável presidente que irá sair aqui no Brasil. O discurso dos costumes. Contra o aborto. Defensora da “família natural”. Ataque aos gays, aos imigrantes. O contraditório é que a Itália possui uma Constituição antifascista, mas vence uma fascista. Com apoio do violador de menores, proprietário da televisão italiana e espanhola, que um dia já foi primeiro italiano, Silvio Berlusconi. Eleito senador. Amparado por outro nome fascista e agente do Vladimir Putin, Matteo Salvini.
A guerra na Ucrânia acelerou a volta do fascismo na Itália. Ao mesmo tempo, não podemos ser reducionistas ao afirmar que a guerra foi o principal motivo da regressão democrática e o apogeu do fascismo. Desde 1994, a extrema direita italiana tem se fortalecido. Os governos fascistas na Europa já não são exceção. Temos Polônia, Hungria e surge na Suécia e Itália. Próximo passo: Espanha. Putin tem alianças, amizades políticas com estes fascistas destes países, principalmente com Berlusconi e Salvini.
Mas, isso significa que a Meloni sacará a Itália da OTAN? De modo algum. Sem chance. Giorgia Meloni é inteligente suficiente para não cometer esse movimento que acarretaria problemas tanto dentro como fora da Itália, principalmente diante dos Estados Unidos. Logo, essa aliança liberal com o fascismo não é novidade. Tivemos exemplo na América Latina. O Chile do Pinochet com Chicago Boys é um exemplo notório. O objetivo é enfraquecer a democracia, mas não creio que seja só isso. Senhores e senhoras, estamos vivendo um processo de transição de uma Nova Ordem Mundial diante da aliança China e Rússia. Karl Marx afirmou que a violência é uma espécie de parteira da história. Onde o velho não morreu e novo ainda não nasceu, disse Antônio Gramsci. Teremos ruptura na Itália? Mesmo com a diminuição da democracia, não surgirá ruptura na Peninsula a ponto de sair da OTAN ou da União Europeia.
A capa da Isto É desta semana me chamou atenção a foto do Luis Inácio Lula da Silva cujos dizeres informavam: Lula não assusta mais. Segundo a revista, o candidato do PT e de nove coligações foi aplaudido pela FIESP e Bovespa. A pergunta que se faz e que o título do meu artigo já responde: não ocorrerá ruptura do modelo econômico. Claro que na administração petista o Estado será presente. Provavelmente um modelo parecido dos dois primeiros mandatos do Lula. Ao mesmo tempo, não podemos romantizar pensando que o governo do PT fará o mesmo que fez naquela época na próxima eventual administração lulista. Os tempos mudaram. A conjuntura é outra. O cenário mundial está diferente. A esquerda demonstrou que pode ganhar a eleição. Mas não consegue constitucionalizar as suas conquistas. A ideologia é um terreno de combate. Há que avançar. Via relato. Via trabalho militante. E isso a direita faz muito bem com os seus veículos de comunicação.
Então, teremos ruptura no Brasil? Resgataremos a democracia, não plena, mas ocorrerá. No entanto, a ruptura do modelo econômico se deve muito na correlação de força interna e externa. Com o cenário que se apresenta, não, não haverá ruptura.
*Jornalista.
Imagem em Pixabay.
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