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Opinião

Na tragédia das enchentes, a dispersão de substâncias tóxicas

Na tragédia das enchentes, a dispersão de substâncias tóxicas

Artigo por RED
19/10/2023 05:20 • Atualizado em 20/10/2023 08:54
Na tragédia das enchentes, a dispersão de substâncias tóxicas

De ROBERTO CARBONERA*

As enchentes devastadoras dos rios das Antas e Taquari, para além de provocar dezenas de mortes, milhares de desabrigados e perdas patrimoniais incalculáveis, expuseram outras questões críticas, talvez, pouco percebidas. Entre estas questões, destaca-se a dispersão de substâncias tóxicas, em especial, de agrotóxicos. O que isto significa sob o ponto de vista dos riscos à saúde e ao meio ambiente? Será feito um inventário sobre o volume destas substâncias carregadas pelas águas?

De acordo com relatos, as águas provocaram perdas milionárias de recursos através da dispersão de estoques de agrotóxicos adquiridos para o plantio de futuras lavouras. Desta forma, as águas levaram centenas, quem sabe, milhares de litros e kg de agrotóxicos para os rios e lagos. Para além das perdas de agricultores, seguramente, houveram perdas por revendas e casas de comércio. Que riscos isto representa?

Quanto à toxicidade ao ser humano e animais, os agrotóxicos são classificadas em seis categorias: Categoria 1 – Extremamente Tóxico, faixa vermelha; Categoria 2 – Altamente Tóxico, faixa vermelha; Categoria 3 -Moderadamente Tóxico, faixa amarela; Categoria 4 – Pouco Tóxico, faixa azul; Categoria 5 – Improvável Causar Dano Agudo, faixa azul e Não classificado, faixa verde. Isto significa que existe a probabilidade de produtos extremamente, altamente ou moderadamente tóxicos terem sido carregados pelas águas. Neste sentido, cabe uma pergunta, que implicações podem surgir devido ao consumo de água contaminada por este produtos?

Da mesma forma, os agrotóxicos possuem classificação do potencial de periculosidade ambiental, sendo que a Classe I – significa um Produto altamente perigoso ao meio ambiente; Classe II – Produto muito perigoso; Classe III – Produto perigoso; e Classe IV – Produto pouco perigoso ao meio ambiente. Ou seja, para além dos riscos à saúde humana e animal, a dispersão de agrotóxicos apresentam elevados graus de periculosidade ao ambiente.

Estes episódios servem para nos alertar sobre as seguintes questões: quanto aos locais de armazenamento de agrotóxicos, seja por revendas ou comércio, em locais seguros de catástrofes desta natureza. Como fazer isto, é um desafio. Quanto ao armazenamento na unidade de produção, também, deve ser em local seguro. Como obter isto? Isto se agravou nos últimos anos com o retorno do “pacote agrícola”, ou seja, são realizadas “promoções” que envolvem a aquisição de sementes, fertilizantes e agrotóxicos antes da realização dos plantios. Isto vai contra o manejo racional de uso destes produtos, pois deveriam ser adquiridos somente os estritamente necessários.

Por fim, pela dimensão da tragédia, cabe a realização de um inventário para estimar a magnitude do volume de substâncias tóxicas que foram dispersas pelas águas. A partir de então, estabelecer novos parâmetros de fabricação, comercialização e armazenamento a fim de preservar o ambiente e a saúde das populações.


*Dr., Prof. de Agronomia e do Mestrado em Sistemas Ambientais e Sustentabilidade da Unijuí – Ijuí/RS.

Imagem em Pixabay.

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