?>

Curtas

MP investiga manifestações discriminatórias e discurso de ódio de alunos de escolas particulares de Porto Alegre

MP investiga manifestações discriminatórias e discurso de ódio de alunos de escolas particulares de Porto Alegre

Eleições 2022 por RED
07/11/2022 11:06 • Atualizado em 07/11/2022 11:08
MP investiga manifestações discriminatórias e discurso de ódio de alunos de escolas particulares de Porto Alegre

Instituições de ensino lançaram, ainda na semana passada, notas de repúdio às condutas dos estudantes envolvidos e disseram que aplicariam as punições cabíveis.

O Ministério Público (MP) do Rio Grande do Sul abriu, na última sexta-feira (4), uma investigação para apurar casos de manifestações discriminatórias e discurso de ódio de estudantes de escolas particulares de Porto Alegre. Alunos do Colégio Farroupilha xingaram, em grupos de WhatsApp, bolsistas que declararam apoio ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No Colégio Israelita, estudantes fizeram ofensas classistas a apoiadores de Lula em vídeos nas redes sociais.

Após os casos virem à tona, as escolas lançaram notas de repúdio às condutas dos estudantes envolvidos. O Núcleo de Estudos Judaicos da UFRGS também se manifestou. (Leia as notas no final da matéria).

Relembre o caso

Uma estudante bolsista do Colégio Farroupilha foi alvo de agressões verbais e ameaças após comemorar a vitória de Lula em um grupo de WhatsApp formado por alunos da instituição. Além das ofensas, as mensagens mencionavam que a aluna perderia sua bolsa de estudo e deixaria a escola.

No caso do Colégio Israelita, estudantes gravaram um vídeo ironizando a diferença entre a vida de pessoas de maior e menor poder aquisitivo, além de mencionar eleitores do PT, pessoas negras e pessoas consideradas gordas.

Orientação do MP

A Promotoria Regional de Educação da Capital requisitou às escolas a identificação formal dos alunos envolvidos e quais medidas estão sendo tomadas.

“A mantenedora também foi informada para a ciência e medidas cabíveis, que é a 1ª Coordenadoria Regional de Educação, e também já foram enviadas informações sobre esse expediente ao Núcleo do Ato Infracional, porque em tese as condutas dos adolescentes envolvidos configuram ato infracional, que nada mais é do que crime se fossem maiores de idade”, diz a promotora Ana Cristina Ferrareze.

O Ministério Público reforça que atitudes assim podem refletir posturas familiares. Por isso, vai convocar uma reunião com as escolas envolvidas nos episódios.

Nota do Colégio Farroupilha:

“O Colégio Farroupilha repudia discursos ou ações que disseminem qualquer tipo de intolerância, violência ou discriminação e espera a mesma postura de todos que fazem parte da comunidade escolar. A conduta inaceitável de alguns estudantes não representa os valores da instituição e, por isso, houve a imediata aplicação das penalidades previstas no Código de Conduta e Convivência da escola.

Lamentamos que o atual momento de tensionamento vivenciado pela sociedade reflita no ambiente escolar. Nessa perspectiva, nos comprometemos a trabalhar fortemente para que a boa convivência, o respeito às diferenças e a ética sigam priorizados em nossa prática pedagógica.”

Nota do Colégio Israelita Brasileiro:

O Colégio Israelita Brasileiro traz a público seu firme repúdio a manifestações com teor discriminatório e preconceituoso praticadas por alunos desta instituição. Nos solidarizamos com todas as pessoas que foram e se sentiram ofendidas.

Estas ações em nada refletem nossos princípios filosóficos e nossa prática pedagógica. Nenhuma escola é uma ilha. Estamos inseridos em uma sociedade que se encontra em parte contaminada por dinâmicas disfuncionais. Mas vamos agir.

O discurso de ódio não será tolerado. Dentro da legislação e dos nossos regulamentos, serão aplicadas as penalidades cabíveis. No entanto, muito mais do que punir, sabemos que nosso papel é educar e formar seres humanos capazes de colaborar para a evolução da sociedade.

O CIB, ciente da gravidade do momento que estamos atravessando, compromete-se a usar da melhor maneira as ferramentas que possui para por em prática um programa ativo de resgate das boas relações e da ética. Estas ferramentas são nossos valores, nossa capacidade educadora, nossa crença na tolerância e na convivência entre diferentes.

Estamos atentos. Estamos mobilizados. Em conjunto com nossa comunidade escolar, temos certeza que faremos nossa parte para superar esta situação e que aprenderemos rodos com ela.

Nota do Núcleo de Estudos Judaicos da UFRGS:

“Manifestamos profundo repúdio ao episódio de racismo, classismo, elitismo e xenofobia por alunas e alunos do Colégio Israelita de Porto Alegre. Somos judeus antifascistas, democratas, frutos da educação judaica e dos seus valores de justiça social e acreditamos ser imprescindível que haja uma profunda reforma nas organizações judaicas do RS, que não podem permanecer omissas diante de manifestações de cunho fascista.

A educação judaica tem como fundamentos a Memória e a História. O impedimento da regressão à barbárie, o “Nunca Mais” pretendido no ensino do Holocausto – tão fundamental na Educação – se torna uma tarefa complexa, pois não podemos reduzir o Nazismo ao que ocorreu entre 1941 e 1945. Tomar Auschwitz apenas como um campo de extermínio não permite inseri-lo na História, apenas reforça o congelamento dessa memória no tempo e no espaço – o que nega a possibilidade de relação entre o passado e o presente.

A sacralização da memória de um trauma não permite a interlocução histórica do evento e sua discussão. Portanto, apoiamos uma educação comprometida com o imperativo do “Nunca Mais”, cujo foco esteja nas origens de um movimento que desembocou no genocídio organizado. Guetos e campos de concentração foram o resultado de um fenômeno maior, iniciado muito antes de tijolos e arames farpados.

Precisamos de letramento social, racial e de classe diante da complexidade do contexto bárbaro do Brasil. Para isso, a comunidade judaica necessita ampliar e fortalecer o diálogo com movimentos sociais populares e grupos minorizados. É um trabalho ético desfascistizar a sociedade.

Estaremos atentos aos desdobramentos do caso e esperamos que consequências cabíveis mediante a situação sejam colocadas aos envolvidos.

Ao mesmo tempo, reiteramos que traumas coletivos não são uma escola de Direitos Humanos. O compromisso com a Memória é de todos. Dito isso, é fundamental refutarmos práticas e discursos antissemitas como resposta ao caso, lembrando os perigos da generalização e dos estereótipos, alinhados exatamente ao conteúdo do vídeo.”

Imagem – reprodução RBS TV.

Toque novamente para sair.