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Opinião

Mané e o mané

Mané e o mané

Artigo por RED
03/11/2023 05:35 • Atualizado em 05/11/2023 00:41
Mané e o mané

De SOLON SALDANHA*

Um dos grandes jogadores de futebol na atualidade se chama Sadio Mané e explodiu mundialmente com a camisa do Liverpool, da cidade inglesa de mesmo nome. Hoje jogando no Al-Nassr Football Club, de Riad, na Arábia Saudita, ele atua pela ponta-esquerda e tem ao seu lado no ataque ninguém menos do que o português Cristiano Ronaldo. Sadio foi o principal responsável por levar a seleção de seu país para a Copa do Mundo de 2018, na Rússia, bem como às finais da Copa Africana de Nações de 2019 e 2021, chegando com ela ao título naquela segunda oportunidade. Senegalês de nascimento, ao longo da última década sempre teve um salário altíssimo, com o seu contrato atual lhe rendendo algo em torno de 22 milhões de Euros por ano. Mesmo assim, jamais foi capaz de ostentar essa riqueza, adquirida através do seu talento e dentro de um sistema que valoriza ao extremo quem alcança o patamar de astro, na sua profissão.

Com dinheiro e influência, desde sempre Sadio Mané tem mantido uma série de ações em seu país natal, visando minimizar a pobreza e melhorar as condições de vida de seu povo. Construiu escolas e um hospital, foi generoso em contribuições financeiras quando do combate à Covid-19 e chegou também a fechar uma parceria com a empresa Oryx Energies para levar eletricidade para lugares remotos de toda a África Subsaariana. Ele construiu ainda um pequeno estádio e mantém generosa distribuição de roupas, sapatos e comida para pessoas que estão na extrema pobreza. Não bastasse isso ele assegura uma espécie de “Bolsa Família” por conta própria, doando 70 Euros por mês para famílias da região onde nasceu.

Ainda enquanto jogava no Liverpool, Sadio Mané tornou-se Embaixador Global da ONG Right to Play, conseguindo que ela criasse um primeiro projeto no Senegal. Inaugurado em 2022, esta iniciativa visa capacitar meninas para que se tornem agentes de mudança em suas próprias vidas e nas suas comunidades, com atividades esportivas. Os meninos, por sua vez, são estimulados para uma masculinidade mais positiva. Isso porque 23% das meninas e mulheres do país, entre 15 e 49 anos, já foram submetidas à mutilação genital, enquanto 38% estão casadas desde antes dos seus 18 anos.

Neymar Júnior despontou como um craque no Santos, aos 17 anos. E foi negociado com o Barcelona, onde formou um dos maiores ataques do futebol europeu, ao lado de Messi e Suárez, o MSN. Mas, a própria transação já foi envolta em algumas coisas nebulosas. Seu pai e também representante abriu uma empresa e através dela negociou com os espanhóis a preferência de contratação do filho, recebendo adiantado uma fortuna. Na prática, isso significou que o jogador lucrou muito mais do que o seu clube formador com a venda. Posteriormente se levantou a ocorrência de uma possível sonegação fiscal, tanto na Espanha quanto no Brasil. Por aqui isso foi resolvido anos mais tarde, com uma muito suspeita redução da dívida, em 95%, obtida junto ao CARF logo após ele ter anunciado seu apoio para o então presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro.

Dentro das quatro linhas – não as da Constituição – Neymar nunca escondeu sua obsessão em vir a se tornar o melhor jogador do mundo. Durante alguns anos via seu colega de clube, Lionel Messi, conseguir isso quase que em um revezamento com Cristiano Ronaldo, sem que ele próprio conseguisse esta glória. Por isso, acabou aceitando ir para o Paris Saint Germain, onde achou que seu caminho seria facilitado. Nunca conseguiu. Em ambos os países chegou a ser hostilizado pelas torcidas adversárias e pela imprensa especializada, que o chamavam de “cai-cai”, por seguidamente simular ter sofrido faltas. Neste momento está de fato lesionado, com a necessidade inclusive de passar por uma cirurgia no joelho. Com isso, desfalca o Al-Hilal – também de Riad, como o time de Sadio Mané –, que recém o contratou para duas temporadas.

Fora dos gramados, Neymar nunca jogou nada. E se notabilizou por uma vida de aparência e de muito marketing pessoal. Está sempre cercado pelos seus inúmeros “parças” (parceiros), alguns dos quais sustentados por ele, além de fazer questão de escancarar affairs com atrizes e modelos. Em apresentação recente, convocado para jogos da Seleção Brasileira, veio com um “look” que especialistas avaliaram, em programa televisivo, estar na casa dos R$ 320 mil a vestimenta. Isso além de um Rolex de R$ 250 mil no pulso. Por outro lado, jamais se envolveu em alguma causa social com a devida persistência e responsabilidade. No máximo ele marcou presença em campanhas pontuais, não sem antes seu staff checar o que isso poderia representar para a sua imagem.

“Por que razão eu deveria ter dez Ferraris, vinte relógios com diamantes, dois aviões? O que de bom estes objetos fariam a mim ou ao mundo?”, questionou certa vez Sadio, em uma entrevista. “Não tenho nenhuma necessidade de me exibir e prefiro que meu povo receba um pouco do que a vida deu a mim”, completou ele. O menino Ney – é assim que muita gente ainda o chama, como se ele fosse uma espécie de Peter Pan, condenado a jamais ser adulto –, por outro lado, nunca se pronunciou na vida de forma sequer parecida. O jornalista esportivo Mauro Cézar, um flamenguista chatíssimo que é crítico da postura do jogador, manifestou isso em várias oportunidades. Afirma que “as piadas, as músicas e as dancinhas são as mesmas dos 17 anos. Falta conteúdo, ele vive numa bolha”. E na bolha errada, como a história comprova amplamente, uma vez que isso não é de hoje. Antônio Lopes, quando técnico do Avaí, após um jogo entre seu time e o Santos, no início da carreira do camisa dez, ficou indignado porque o santista teria dito aos seus atletas que “era milionário e podia tudo”. Talvez também possa é um dia cair no ostracismo, por pouco ter deixado de importante na vida. No crepúsculo ele já está.

A denominação “mané” historicamente foi atribuída aos habitantes de ascendência açoriana, em Florianópolis. Com o tempo, se estendeu para todos os originários da capital de Santa Catarina. Mas – isso tem que ser esclarecido –, nunca teve um sentido depreciativo, ao contrário do que lhe foi atribuído em outros pontos do nosso país. Nestes, mané identifica um indivíduo de poucas luzes, parco entendimento, idiota mesmo. Ou, no mínimo, uma pessoa que é negligente e desleixada, alguém que pouco se aplica ao que faz. Mané é aquele que se acha o tal, mas no fundo não passa de um otário. Bem pertinho da capital catarinense fica Balneário Camboriú, um local que também passou a ser muito associado aos novos ricos e sua ostentação, com os maiores prédios de todo o Brasil sendo construídos à beira-mar, sombreando a praia. Neymar tem uma cobertura em um deles, onde realiza festas homéricas.


O bônus deixado pelo autor é o samba Malandro é Malandro, Mané é Mané, do inigualável Bezerra da Silva.


*Jornalista e blogueiro. Apresentador do programa Espaço Plural – Debates e Entrevistas, da RED.

Texto publicado originalmente no Blog Virtualidades.

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