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Opinião

Mais uma do “Grande” Victor Douglas Nuñes

Mais uma do “Grande” Victor Douglas Nuñes

Artigo por RED
14/09/2022 21:31 • Atualizado em 16/09/2022 00:59
Mais uma do “Grande” Victor Douglas Nuñes

De JORGE ALBERTO BENITZ*

Meu saudoso amigo Victor Douglas Nuñes, inspirador de muitos contos de meu livro Conversas de Livraria&Avulsas. Editora Palmarinca,  e grande estudioso da imigração alemã, sempre achou  que Adolf Eichmann enganou Hanah Arendt. Agora isso pode ser constatado após a divulgação das gravações do próprio Eichmann em 1957, na Argentina. Portanto, gravações que somente saíram a público após seis décadas como relatado na trecho do artigo do Jornal O Globo, de 05 de julho de 2022, transcritas do artigo de Isabel Kershner do New York Times – Tel Aviv , Israel,  “As fitas passaram por várias mãos privadas depois de serem gravadas em 1957 por um simpatizante do nazismo holandês, antes de acabarem em um arquivo do governo alemão, que em 2020 deu aos cocriadores israelenses da série – o produto r Kobi Sitt e o diretor Yariv Mozer – permissão para usá-las.”

Agora, com as gravações ficou claro que o Eichmann enganou a filósofa que caiu como um patinho na conversa mole do nazista. Hanah Arendt errou no exemplo escolhido para ilustrar sua tese, mas acertou ao criar a figura da banalidade do mal encarnada no homem unidimensional que, no caso, não tinha nada a ver com o nazista de carteirinha Adolf Eichmann. Tese com fortes influências heideggerianas, diga- se de passagem.

A propósito, em evento sobre a imigração alemã, ocorrido na Universidade do Vale do Taquari, Univates, Victor Douglas Nuñes, que estava, junto com Miguel Frederico Espirito Santo e Lothar Hessel, representando o IHGRS, ao se deparar com uma defesa não tão enrustida das ações de Hitler frente ao Tratado de Versalhes e a ênfase dos palestrantes, a maioria descendente de alemães, à perseguição feita pelo governo brasileiro ao uso da língua alemã nas colônias e a censura aos livros escritos em alemão, ousou ir contra o oba-oba reinante a cultura alemã, mesmo a do tempo de Hitler, criticando o nazismo e defendendo a politica de Vargas contra o enquistamento de comunidades que queriam viver isoladas e separadas do Brasil.

Foi por atitudes como estas que decidi escuta- lo com reverência  e respeito para aprender sobre nosso passado e pude assim me inspirar para recontar muitas de suas histórias sob a forma de conto no meu  livro. Posso afirmar que tive o privilégio de desfrutar de sua amizade e assim poder ter convivido com tão singular intelectual, amante da história,  que, além da lição de vida propiciado por sua camaradagem, seu conhecimento e atitudes cidadãs,  me proporcionou conhecer esta e muitas outras histórias do nosso Estado e, como no referido caso, até do mundo.

Ele, Victor, que gozava até de si mesmo, como demonstra este episódio em que eu estava junto com ele. Estávamos indo em direção ao Instituto Histórico e Geográfico do RS, na rua Riachuelo, quando passamos por um conhecido dele que o saudou com um elogio “Grande Victor Douglas Nuñes!”`; ao que ele, de pronto, respondeu “O que restou dele”.

*Engenheiro, escritor e poeta.

Foto da capa do livro de Jorge Alberto Benitz citado no artigo.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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