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Opinião

Mais do que necessária: a memória histórica

Mais do que necessária: a memória histórica

Artigo por RED
12/07/2023 05:25 • Atualizado em 13/07/2023 09:37
Mais do que necessária: a memória histórica

De ALEXANDRE CRUZ*

Quando a opressão aumenta
Muitos se desencorajam
Mas a coragem dele cresce.
Ele organiza a luta
Pelo tostão do salário, pela água do chá
E pelo poder no Estado.
Pergunta à propriedade:
De onde vens tu?

Pergunta às opiniões:
A quem aproveitais?

Bertolt Brecht

Acredita-se que Bertolt Brecht, um dramaturgo alemão, tenha sido o criador do teatro dialético, um estilo comprometido e influenciado pela abordagem aristotélica. Brecht acreditava que o teatro e a cultura não deveriam ser neutros, pois eram alvos de perseguição por parte dos fascistas. No Brasil, também presenciamos episódios de hostilidade cultural durante o período de 1964 e, mais recentemente, durante a gestão de Jair Bolsonaro.

Na semana passada, um belíssimo comercial da Volkswagen chamou a atenção ao reunir as cantoras Maria Rita e sua falecida mãe, Elis Regina, que nos deixou há 41 anos. Além disso, o comercial utilizou a música Como nossos pais, de Antônio Carlos Belchior. Essa peça publicitária teve um impacto emocional profundo, despertando nossos instintos básicos. Essa característica é típica da indústria cultural, especialmente quando a arte é combinada com o contexto comercial. A propaganda utilizou uma comunicação persuasiva seguido de um apelo emocional, com o objetivo de influenciar o comportamento e as decisões de compra para a Kombi.

Até aí, perfeito para o entendimento da indústria cultural cunhada por Adorno e Horkheimer, da Escola de Frankfurt, que identificavam a padronização, alienação e homogeneização da cultura, reforçando os valores e normas de uma classe dominante. A crítica que surge diz respeito às ações de Maria Rita, filha de Elis Regina, e dos familiares de Belchior. Será que agiram corretamente diante do histórico desta empresa alemã, que colaborou com a ditadura brasileira?

Existem três perguntas éticas necessárias para responder a essa questão: Eu quero? Essa pergunta está alinhada com o desejo pessoal. No entanto, a ética vai além do desejo individual e considera o impacto sobre os outros e os princípios morais. Eu posso? Essa pergunta envolve autorização legal e capacidade de realizar algo. E eu devo? Essa pergunta está relacionada à moralidade, às obrigações e implica princípios éticos e valores pessoais para determinar se uma ação é apropriada ou correta.

Logo, a memória histórica está relacionada ao coletivo, à comunidade, e a canção de autoria de Belchior cantada por Elis Regina não diz respeito apenas aos familiares, mas sim a todo um povo. Retornando ao início do texto, a arte jamais pode ser neutra diante do perigo fascista. Este texto é uma singela homenagem a Zé Celso, que revolucionou o teatro brasileiro e desafiou a ditadura com suas peças teatrais, nunca adotando uma cumplicidade neutra diante dos elementos fascistas. Zé Celso, presente!


*Jornalista.

Imagem de Bertolt Brecht – reprodução.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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