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Opinião

Lula sequestrado: Partido Militar faz de bobo patriotas da frente dos quartéis e, como o Centrão, garante sua perigosa mamata

Lula sequestrado: Partido Militar faz de bobo patriotas da frente dos quartéis e, como o Centrão, garante sua perigosa mamata

Artigo por RED
05/12/2022 22:10 • Atualizado em 05/12/2022 22:11
Lula sequestrado: Partido Militar faz de bobo patriotas da frente dos quartéis e, como o Centrão, garante sua perigosa mamata

De RAFAEL MARTINELLI*

A escolha de José “bem recebido pelos militares” Múcio como ministro da Defesa do futuro governo Lula evidencia que o Partido Militar tem, além das armas, tanta ou mais habilidade política do que o Centrão para sequestrar governos e seus cargos e orçamentos.

Reputo, civil de nascença, uma lamentável capitulação; um ovo da serpente que logo vai picar a democracia brasileira.

A bucha de canhão são os patriotas que, ao pedir golpe militar na frente dos quartéis, cometem crimes que podem render até 28 anos de prisão, como já expliquei em Bombeiro, vereador mais votado de Gravataí, seja corajoso e conte o porquê foi às ‘manifestações’: acredita em fraude nas urnas, contesta a eleição de Lula, quer intervenção militar ou foi passear?.

Fato é que a área militar é de responsabilidade das Forças Armadas. Se de lá não foram tirados aqueles que alguns já chamam de ‘patriotários’, pelos memes que rendem, ou se não foram presos e punidos militares tresloucados que ameaçam até a vida de Lula, é porque são uteis ao Partido Militar, que ao manter a sensação de um golpe “nas próximas 72h” negocia com o futuro governo.

A escolha de Múcio, ex-deputado federal e ex-presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), um político profissional, se parece uma grande jogada de Lula, parece-me mais um sequestro. O golpe, sem apoio dos EUA, como em 64, sempre foi infactível e apenas uma arma na ‘guerra híbrida’; mas o eleito com 60 milhões de votos, e uma frente de ampla que vai da esquerda à direita, preferiu não pagar para ver.

Não esperem a exoneração dos mais de 5 mil militares em cargos no governo, nem a despolitização das Forças Armadas. Preparem-se para uma anistia, mesmo que apenas de fato, informal, já que duvido termos transparência para processar militares que, o mínimo que fizeram, foi corromper a Constituição.

Já haveria acordo entre Lula e as Forças Armadas para endossar o critério de antiguidade para nomeação dos chefes de Exército, Marinha e Aeronáutica – sejam ou não golpistas.

“Pacificação” é a ‘ordem do dia’, enquanto gente que deveria honrar suas funções de Estado invade a democracia, usando o estudo e formação que nós, civis, demos, a ameaça das armas que nós, civis, pagamos, e a boa vida que nós, civis, proporcionamos no decorrer de suas carreiras.

Como bem alerta o antropólogo Piero Leirner, um dos maiores pesquisadores brasileiros sobre a ‘guerra híbrida’, o Partido Militar usa da malandragem para fazer parecer que a escolha do ministro da Defesa é de Lula.

“Generais escolheram e fizeram escolha parecer como sendo do Lula. Logo, a versão que fica é a inversa: Lula estaria despolitizando FFAA. Na real, elas estão militarizando”, tuitou, listando manchetes de sites da grande mídia, em reportagens com militares falando sob condição de anonimato, e elogiando Lula ter “desatado o nó” ao indicar Múcio para o Ministério da Defesa.

“Lula adora Múcio”, foi frase disseminada para o colunismo, para permitir um tom de amizade entre os dois, verossimilhança garantida pelo político ter sido secretário de Relações Institucionais em governo do petista.

O vice-presidente da República e senador eleito, general Hamilton Mourão (PL) – que já encenou cinema mudo para as câmeras, no último encontro com Bolsonaro, mandando o deprimente da República dizer aos formandos nas Agulhas Negras que “acabou o jogo” – foi o porta-voz em on do Partido Militar, ao dizer que Múcio “é um nome positivo para o cargo” e enviar o ‘código-fonte’: “Lula foi eleito e tem que governar”.

Inegável é que a caserna não quer largar a mamata da política. O coronel da reserva Marcelo Pimentel é didático sobre o avanço do Partido Militar, que denuncia há quatro anos.

“Só existe política na porta do quartel porque a política está dentro do quartel; só existe manifestante em área militar porque os responsáveis pela área militar permitiram ou, de algum modo, incentivaram; só existe gente pedindo golpe e inconformada com a vontade soberana do povo (resultado de eleição), achando que é “democrático”, na porta de quartel porque o quartel rememora o Golpe e a Ditadura em ordens do dia, chamando-os de “marcos para a democracia” e “movimento”; só existe política no quartel porque cúpulas hierárquicas Forças Armadas, até na ativa, foram em massa – às vezes de forma indevida (descumprindo impunemente normas da Lei 6.880) – para a política e governos” – tuitou aquele que considero um “militar de Estado”,e associo-me no alerta:

– Já passou da hora de despolitização dos quartéis: do portão para dentro e do portão para fora. Quando a política entra no quartel por uma porta, a disciplina e a coesão saem pela outra, mais cedo ou mais tarde. Quando o quartel invade os palácios, os governos tendem à tirania e ao autoritarismo, mais cedo ou mais tarde. Já passou da hora: a palavra convence, o exemplo arrasta.

Ao fim, estreio a crítica a Lula, antes de assumir. Permitiu-se sequestrar pelo Partido Militar. Genio da política é. Mas talvez não seja suficiente para impedir mais quatro anos de empoderamento militar.

Civil de nascença, entendo um risco para a democracia.

De meme em meme protagonizado por ridículas vivandeiras, desinformados por informados do mal que instigam seus mais primitivos instintos e frustrações, o Partido Militar avança no estado profundo e monta uma caserna no governo civil.

Sob o cadáver da democracia os vermes guardam até os mesmos sobrenomes.


*Jornalista.

Artigo publicado originalmente em Seguinte:.

Imagem – reprodução da internet.

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