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Lula e Oliver Stone em Cannes
Lula e Oliver Stone em Cannes
De LÉA MARIA AARÃO REIS*
Em um momento em que a direita tradicional se assanha teleguiada por uma Minas Gerais recauchutada em cirurgias plásticas e em conluio com o neofascismo da extrema-direita deste país, o filme de Oliver Stone, intitulado Lula, a biografia do presidente Lula, é utilizado em mais uma tentativa de desvitalizar as esquerdas progressistas brasileiras.
É o que se vê em algumas ‘análises‘ intempestivas do documentário de autoria de um dos cineastas norte-americanos mais importantes do nosso tempo vindas do Festival de Cannes atualmente em curso e onde o doc acaba de estrear com grande sucesso de público. Espectadores estadunidenses, europeus, além de centenas de brasileiros o aplaudiram, de pé, ao final da sessão, presentes na platéia da festa da Croisette. Conferir nas imagens enviadas por diversas agências de notícias estrangeiras, assim como a emoção incontida de Oliver Stone ao fim da sessão.
Para quem não lembra: Stone, cineasta independente, está com 77 anos, estudou em Yale e na Universidade de Nova Iorque, serviu na guerra do Vietnã, é diretor e roteirista de clássicos como JFK (em colaboração com Rob Wilson, com quem fez Lula), Platoon e Nascido em Quatro de Julho* – esses dois últimos, Oscars de Melhor Diretor. Coleciona prêmios em festivais de respeito como os de Berlim e o do Bafta.
No seu doc que acabou virando série, As Entrevistas com Putin**, de 2017, porém somente apresentado no Brasil em 2020, com cerca de doze encontros para as entrevistas, Stone teve um acesso excepcional ao presidente da Rússia. O doc é tido como o mais minucioso retrato do líder russo já realizado por cineasta ocidental e ainda hoje, diante dos acontecimentos atuais, é considerado trabalho de referência sobre o pensamento político de Putin.
Esta semana, algumas das resenhas se escandalizaram com a falta de “espaço para a oposição” na cinebiografia de Lula realizada pelo americano. Não conhecem a diferença entre uma reportagem honesta sobre alguém ou algum tema que, completa, expõe vários lados e diversas opiniões, e uma cinebiografia, filme documentário sobre alguém que, quer queiram ou não, é um ícone para muitos.
Nas centenas de comentários sobre aquela opinião nas redes sociais um internauta lembra: “Para a oposição, o que não falta é espaço: basta querer ler, ver ou ouvir”. Espaço oferecido pelas corporações.
O filme retrata a vida do presidente focalizando sua prisão entre 2018/2019 e a sua eleição. O doc de Stone traz entrevistas inéditas com o presidente e seus conselheiros, mas a principal entrevista é concedida durante a campanha eleitoral de 2022.
A influência dos Estados Unidos na política brasileira é subtema de Stone lembrando a interferência norte-americana na destituição de Dilma Rousseff e na prisão de Lula. Depoimentos de Glenn Greenwald e Walter Delgatti Neto, o “hacker da Vaza Jato”, reforçam essa tese, criticando a atuação do judiciário e da mídia brasileira.
“Lula é um dos poucos líderes que veio da classe trabalhadora, que aprendeu a ler tarde, na escola, e que luta intensamente por suas opiniões”, afirmou o cineasta, no seu pequeno discurso, no palco de Cannes.
Uma fala que está sendo, até agora, dias depois, divulgada nos quatro cantos do mundo e com a qual Stone expressa profunda admiração pelo Presidente e onde registra o que o seu documentário oferece: “Uma visão apaixonada e crítica sobre o presidente”.
Antes da exibição, Stone comentou: “Este documentário é sobre uma pessoa especial no mundo de hoje, um líder único”. E mencionou alguns fatos marcantes da vida o presidente brasileiro, acrescentando: “Admiro profundamente esse homem”.
O moribundo político da direita mineira que vem oferecendo inesperados pitacos à mídia corporativa, e não apenas sobre a cinebiografia de Lula como também sobre a tragédia das enchentes do Rio Grande do Sul, deve estar bastante incomodado com o entusiasmo de Oliver Stone.
*Nascido a 4 de Julho e Platoon no Google Play Movies, Apple TV, Amazon Prime Video.
**Entrevistas com Putin: no Youtube
***Imagem em destaque: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
*Jornalista carioca. Foi editora e redatora em programas da TV Globo e assessora de Comunicação da mesma emissora e da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Foi também colaboradora de Carta Maior e atualmente escreve para o Fórum 21 sobre Cinema, Livros, faz eventuais entrevistas. É autora de vários livros, entre eles Novos velhos: Viver e envelhecer bem (2011), Manual Prático de Assessoria de Imprensa (Coautora Claudia Carvalho, 2008), Maturidade – Manual De Sobrevivência Da Mulher De Meia-Idade (2001), entre outros.
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