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Opinião

Lembrando é que se aprende a não esquecer

Lembrando é que se aprende a não esquecer

Artigo por RED
21/11/2022 05:00 • Atualizado em 22/11/2022 10:06
Lembrando é que se aprende a não esquecer

De ADELI SELL*

Quando li esta pergunta/título de um artigo – “Como educar uma geração digital com tanta dificuldade para se concentrar?” – resolvi retomar o tema dos “Apagamentos na História”, o desdém da modernidade com o resgate, a falta de ações contra o esquecimento. Fato é fato, mas alguns buscam o “direito ao esquecimento”?

Como esquecer os fatos acontecidos com as pessoas no caso “Escola Base”? Não, o repórter envolvido no infortúnio teve a grandeza de se expor, reconhecer o erro, surgindo dali um documentário que não pode ser esquecido. Uma novela tenta resgatar uma “fake news” que levou à morte de uma mulher falsamente acusada de rapto de criança.

E não estamos tratando aqui do “bas fond” (submundo) das futilidades.

A lembrança, a memória, o ato de “lembrar”, resgatar vale para o ambiente ou grupo social considerado inferior ou marginal como para qualquer fato social e histórico.

Lembrar que Assis Brasil foi a pessoa que mais contribuiu para a Agricultura no Rio Grande do Sul é um dever ético, ademais porque grupos atuais fazem o contrário do que ele pregava em nome da Agricultura. Pior, no Parque de Exposições que leva seu nome, fazem-se louvações que são a antítese de seu pensamento.

Lembrar os negros de Porto Alegre é mais que um deve ético, é um dever moral, íntimo de cada um de nós, se quisermos combater o racismo estrutural.

Voltando – ”como educar uma geração digital com tanta dificuldade para se concentrar?” – é preciso encarar a modernidade líquida.

As gerações Z (entre 10 e 24 anos) e alpha (até 9 anos) nasceram em um mundo onde os algoritmos os mantem clicando e navegando em um ritmo frenético.

Eles sabem quem são os MCs do momento, mas não tem tempo nem estímulos para saber quem foi João Gilberto. Nem o filho de Gal Costa – 17 anos – tinha a dimensão do valor artístico- cultural da mãe que fez mudar cabeças de tantos jovens nos anos 70 em diante.

Na TV – será que esta gurizada está ligada em novelas? – quem se lembra da Sandra Bréa que morreu de AIDS? Muito menos vão saber que ela foi casada por 5 anos com Arthur Guarisse, aqui em Porto Alegre. Mesmo que elas estejam morando no Bairro Tristeza. Será que conhecem o livro do ACésar Veiga – “Gente do Bairro”? Será que em algum dia vão ler o livro da Hilda Flores, “Tristeza E Padre Réus”?

Juristas mais antigos vão se lembrar de que Raymundo Faoro foi presidente da OAB, que escreveu Os Donos do Poder ainda jovem. Mas só agora vamos saber por um estudo do pesquisador Paulo Augusto Franco dos cadernos/diários que ele escreveu muito jovem, chegando a Porto Alegre, ver nossa capital pelo seu olhar, podendo não ser o mesmo de outros cronistas, pois o meio e a formação modelam a mente das pessoas.

Neste mundo perturbado, de “atos” anticivilizatórios que acontecem no país, alguém vai entrar no Museu da Brigada Militar, do Comando Militar do Sul, na Igreja das Dores que agora é Basílica?

As pessoas passam desabaladamente pelo Largo Gênio Peres chegando dos bairros para o trabalho ou indo na corrida pegar seu coletivo para a volta à comunidade, acabam não vendo o Chalé da Praça XV, muito menos vão entrar no Mercado Público e conhecer os primores do seu interior.

Muitas coisas estão ao ar livre, outras estão fechadas. Algumas igrejas e santuários de Porto Alegre primam pela clausura. Quem conhece o Santuário São Rafael na Riachuelo, aos fundos da Igreja das Dores?

Já me referi e mostrei fotos da Gruta Nossa Senhora de Lourdes, em plena Avenida Vigário José Inácio, impactando moradores do entorno e do Centro Histórico de nossa capital.

Por isso, não podemos nos cansar de “lembrar” para que nada seja esquecido, é a luta contra o esquecimento que faz os laços da Civilização se manter firmes.


*Escritor, professor e bacharel em Direito.

Imagem interna do Santuário São Rafael – divulgação.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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