Opinião
Lágrimas de um perverso
Lágrimas de um perverso
De Laurez Cerqueira*
O abandono é a pior coisa que pode acontecer a um perverso. Ele se desestrutura, vai à lona. O perverso é filho do abandono.
No delírio de poder, ele se convence de que o mundo gira em torno dele. Não se sente igual a ninguém, mas acima dos mortais.
Ele perdeu a eleição, os militares não bancaram o golpe, a Michelle gostou da mídia na campanha eleitoral, quer mais câmeras, e Neymar não fez o coraçãozinho com as mãos para ele quando fez gol.
Chorou diante dos militares fardados e enfileirados, que batem continência para ele e riam por dentro.
Quando chega no Palácio da Alvorada, desce do carro, vai até as emas. Elas viram as costas para ele, como se ele fosse um ex ou que iria lhes oferecer cloroquina.
Cuida da erisipela sozinho. Espera a noite chegar, sem Michelle por perto. Nem sabe ao certo por onde ela anda. Deve estar na casa das amigas.
Acordado do sonho imprevisto em sua vida, conta o compasso do tempo até o dia de cruzar a guarita do Palácio pela última vez e pegar o caminho do ostracismo, morada dos abandonados pelo que fez de mal aos outros.
Segue o Baile Brasil.
*Escritor, biógrafo e jornalista.
Foto – Marcello Casal JrAgência Brasil
As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.
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