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ão, ão… Abecedário da Economia Contemporânea

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ão, ão… Abecedário da Economia Contemporânea
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De FERNANDO NOGUEIRA DA COSTA* Bordão é uma frase ou expressão do gosto popular. Chavão é frase  feita com o lugar-comum do “clichê”. Jargão uma expressão utilizada  por um grupo fechado de pessoas como uma corporação profissional.   Algumas palavras e expressões utilizadas por economistas podem  excluir pessoas sem conhecimento do vocabulário deles. Pensei,  então, em um pequeno Abecedário da Economia Contemporânea com  “palavrinhas-mágicas” do jargão terminadas com o sufixo “ão”:   A – Ação: torna seu possuidor um proprietário de certa fração de  determinada empresa aberta para fazer negócios lucrativos,  permitindo participação na propriedade e nos lucros (ou eventuais  prejuízos) da empresa; quando o controlador majoritário consegue  sócios, para obter capital e implementar sua inovação disruptiva,  mantém a gestão e uma maior participação acionária na divisão de  lucros / prejuízos; a abertura de capital, via IPO de parte minoritária,  permite sua cotação ser atribuída por mercado de ações e sua  valorização garantir tomar dinheiro emprestado para fusões e  aquisições com consequente elevação do valor de mercado das ações  e enriquecimento pessoal dos sócios-fundadores.   B – Bancarização: significa acesso aos direitos da cidadania  financeira, usufruindo das três funções-chaves do sistema bancário  do qual todos (Pessoas Físicas e Pessoas Jurídicas) somos partes ou  clientes: concessão de crédito, para financiar a expansão de  capacidade produtiva, a produção (capital de giro), o consumo, a  habitação, a especulação (compra de ativos baratos para vender  caro) etc., e aumentar a oferta de empregos; gestão de dinheiro,  para aproveitar os investimentos financeiros, proteger o poder  aquisitivo das reservas e seus rendimentos financeiros substituírem a  renda do trabalho na aposentadoria; dar acesso popular ao sistema  de pagamentos escriturais (eletrônicos ou digitais) para oferecer  segurança e facilidade prática a todos os “bancarizados”.   C – Centralização, Concentração e Competição: em oposição às  economias ditas socialistas, distintas pela propriedade estatal dos  meios de produção e pela planificação centralizada da economia  nacional, a descentralização caracteriza as economias capitalistas de  mercado, porém, o Capitalismo do Estado ou Socialismo de Mercado  chinês é muito bem-sucedido ao incentivar a concorrência entre as  empresas, garantindo pela regulação seu sistema econômico não ser  limitado pela ação dos monopólios e/ou por uma intervenção estatal  inadequada.   D – Desindustrialização: efeito da desregulação, diversificação e  digitalização, em um processo de transformação estrutural da  economia, redirecionada para atividades com elevado nível de  produtividade e complexidade tecnológica como os serviços  intensivos em conhecimento, com redução da participação da  indústria no PIB, mas sem uma redução absoluta do seu valor  adicionado; a estratégia de estabilização de preços adotada no Brasil  com juros disparatados se associaram a um modelo anti-produção e  pró-importação, devido à desnacionalização da estrutura produtiva e  à reorganização empresarial, com desverticalização e integração  internacional importadora.   E – Exportação: na divisão internacional do trabalho, os países  tendem a especializar-se na produção dos bens para os quais têm  maior disponibilidade de fatores produtivos, garantindo um excedente  exportável; por exemplo, o Brasil (“fazenda do mundo”) exporta  petróleo, minério e soja para a China (“fábrica do mundo”), de modo  a cobrir suas importações de produtos industriais e diminuir o déficit  no balanço de transações correntes com a remessa de lucros, juros  do crédito inter companhias, royalties etc. das multinacionais aqui  instaladas, inclusive para serem exportadoras das citadas  commodities.   F – Financeirização: é um bordão para “a denúncia de um  capitalismo”, cujo capital-dinheiro sempre teve o papel crucial; a  dominância dos critérios financeiros para as tomadas de decisões  sobre aplicações das sobras dos fluxos de renda em estoques de  ativos financeiros permite a mobilidade social com o enriquecimento  de t rabalhado re s p ro fi s sionalmen te bem capa ci tado s; a  “financeirização” não deveria sofrer a demonização habitual porque  permite esses trabalhadores acumularem riqueza financeira para manter o padrão de vida na aposentadoria sem Previdência Social,  quando os rendimentos de juros e dividendos substituirão a renda do  trabalho – e virarão “rentistas”..   G – Globalização: não houve o anunciado fim das economias  nacionais, apesar das desnacionalizações com a integração cada vez  maior dos mercados, em especial do financeiro (via ações e títulos),  dos meios de comunicação e dos transportes; as Cadeias Globais de  Valor permitem o abastecimento de uma empresa por meio de  fornecedores encontrados nas proximidades, nos continentes do norte  do mundo, cada um produzindo e oferecendo as melhores condições  de preço e qualidade naqueles produtos com maiores vantagens  comparativas; a tendência atual é de fragmentação da economia  global com o protecionismo, inclusive dos Estados Unidos com sua  prioridade colocada na segurança nacional e na busca de liderança  em semicondutores, energia limpa e biotecnologia para esse objetivo.   H – Hiperinflação: caso especial de inflação descontrolada, na qual os  preços aumentam porque as pessoas não querem reter a moeda  nacional, em razão da rapidez da queda de seu poder de compra,  mas sim buscam a moeda estrangeira como reserva de valor e  acabam usando-a como unidade de conta; diante da desvalorização  contínua do meio de pagamento oficial, quando se converte a moeda  estrangeira em nacional, os preços são elevados descontroladamente.   I – Inflação: de 2001 a 2023, a média anual de inflação no Brasil de  6,27% aa com desvio padrão de 2,44% caracteriza uma inflação  inercial – quando os agentes econômicos buscam, periodicamente,  recompor seu preço ou remuneração pelo pico prévio, levando os  pagadores ao piso da renda real –, e apesar de não ser uma inflação  de demanda, o Banco Central do Brasil busca a controlar com uma  taxa de juro (Selic) média de 12,01% aa, resultante em juro real  médio anual de 5,4%, no século XXI, e levando à estagdesigualdade:  estagnação do fluxo de renda e concentração do estoque de riqueza  financeira.   J – Judicialização do Juro: a judicialização da política de juros seria  um fenômeno jurídico entendido como o aumento do impacto de  decisões judiciais em causa econômica com efeitos políticos e sociais,  onde os conflitos distributivos seriam levados ao Judiciário para uma  resolução; por exemplo, anatocismo é um termo próprio do Direito para definir a cobrança de juros sobre juros devidos, em uma  situação de inadimplência, conduta vetada pela lei brasileira, mas é  uma prática necessária por juro ser a remuneração do custo de  oportunidade de quem cede seu dinheiro para outro lucrar com ele –  e não uma usura.   K – Keyneszação: abuso do argumento de autoridade com citações,  inclusive de ideias equivocadas como preferência por liquidez em uma  economia com rede bancária capaz de captar os depósitos à vista  para lastrear sua carteira de títulos de dívida; diante da estagflação,  isto é, inflação acentuada acompanhada de recessão, a abordagem  keynesiana enfraqueceu, porque tinha como um dos principais pilares  de sustentação a ideia do desemprego recessivo derrubar a inflação,  além de defender o intervencionismo estatal, para a expansão da  renda e do emprego com gastos públicos substitutos de gastos  privados, mesmo com a geração de déficits fiscais, não só quando os  gastos privados retraíssem por causa de uma armadilha de liquidez durante uma Grande Depressão Deflacionária.   L – Liquidação: é busca da conversão de estoques ou ativos de uma  empresa em dinheiro, caso a empresa esteja com problemas de  liquidez (falta de dinheiro em caixa); promove uma liquidação com  preços de promoção, tanto para comprar matéria-prima, quanto para  pagar dívidas; isto para evitar a liquidação total da empresa, com  consequente fechamento da firma.   M – Monetização e Maxidesvalorização: a economia mundial adota a  predominância do dólar, moeda norte-americana, como reserva de  valor e unidade de conta do comércio exterior, exigindo a conversão  das moedas nacionais para esta estrangeira como meio de  pagamentos; dada essa dolarização, a maxidesvalorização cambial,  como faz a China, mantendo sempre sua moeda depreciada, visa  baratear os preços dos produtos nacionais no mercado internacional e  obter megassuperávits no balanço comercial, por meio do aumento  das exportações e redução das importações, ampliando suas reservas  cambiais; no Brasil, a maxivalorização da moeda nacional combate a  inflação importada.   N – Neoliberalização: doutrina ideológica em busca de desincrustar  uma pressuposta economia de livre-mercado da tutela da sociedade,  restringindo-a aos princípios apenas do liberalismo econômico, como a vida econômica fosse regida por uma ordem natural, emergida a  partir das livres decisões individuais, e cuja mola-mestra para a  alocação de capital seria o sistema dos preços relativos.   O – Obrigação: título de dívida direta emitido por empresas  (debênture) ou título de dívida pública emitido pelo poder público  com rendimentos de juros e representativo de um empréstimo feito  ao emitente; no caso recente brasileiro, os neoliberais afirmam o  crescimento das emissões das debêntures ter ocorrido pelo  retraimento do BNDES, mas na verdade foi devido à queda da Selic,  quando empresas não-financeiras, em processo de desalavancagem  financeira, trocaram dívida cara por barata, em prazo maior, além de  fazerem recomposição de caixa em vez de investimentos, seja em  infraestrutura, seja em aquisição de participação societária.   P – Privatização ou Planificação: a privatização de uma empresa  estatal ocorre, em geral, quando ela passa a apresentar lucros  consistentes, após a maturação do investimento pioneiro feito pelo  Estado, tornando-se então um empreendimento atraente para uma  empresa privada, ou depois de um saneamento feito pelo Estado,  quando se trata de empresa falida, absorvida pelo poder público; pior  é quando o Estado pró-livre mercado se abstém de qualquer  planificação, como ocorre nas Economias de Comando, para a  regulação do mercado via elaboração de planos de produção  rigorosos e com objetivos precisos para todos os setores econômicos;  em vez de o órgão estatal encarregado do planejamento determinar  os objetivos globais de cada unidade de produção e fixar as cotas de  produção de cada uma, levando em conta a disponibilidade de  recursos, a capacidade produtiva e as relações entre os diversos  setores da economia, O Mercado cuida de sua autorregulação.   Q – Qualificação e Quitação: trabalhadores sem a qualificação exigida  perante a oferta de empregos em queda apelam para o  endividamento e só se liberam de sua obrigação quando há  declaração por escrito do credor de ter recebido do devedor  determinada quantia relativa a seu crédito para quitação; o  empréstimo deve ser um recurso em última instância, inclusive no  caso de crédito estudantil, para a qualificação em Educação Superior,  pagar as dívidas e acumular capital financeiro.  R – Regulação: a 4ª. Revolução Tecnológica implica em  transformação radical no âmbito das forças produtivas, modificando  profundamente o modo de existência de toda a sociedade; a  Indústria 4.0 engloba tecnologias para automação e troca de dados e  utiliza conceitos de Sistemas Cibernéticos, Internet das Coisas e  Computação em Nuvem; seu foco seria a melhoria da eficiência e  produtividade dos processos, mas sem regulação o desemprego  tecnológico tende a disparar.   S – Servicirização: as atividades terciárias se desenvolvem,  predominantemente, nos centros urbanos e geram ocupações (muitas  precárias em termos de direitos trabalhistas) para os desempregados  por causa das novas tecnologias empregadas nas atividades  industriais e agropecuárias; serviços como o varejo (o processo de  venda de um produto ou serviço feito por uma empresa ou  microempreendedor diretamente ao seu cliente), os serviços de  cuidados e outros serviços pessoais passam a ser o principal motor  da criação de empregos, mesmo com baixa produtividade, porque se  definem como o encontro direto do produtor/vendedor com  consumidor.   T – Tecnologização: tem enorme impacto no mundo do trabalho  contemporâneo, resultando em várias transmutações: automação do  processo produtivo; digitalização de muitos aspectos do trabalho  (como comunicação, produção e gerenciamento de dados);  flexibilização com home office; exigência de nova capacitação  profissional; desemprego tecnológico e desigualdade social.   U – Usuralização: cobrança de taxas de juros consideradas  exorbitantes, nos cartões de crédito distribuídos sem avaliação dos  perfis de risco dos beneficiados, segundo a prática dominante no  modelo brasileiro: em cada dois usuários de crédito rotativo, um é  inadimplente e paga um juro extorsivo para compensar a perda com  o outro, porque bancos trabalham com recursos de terceiros – e não  podem os perder.   V – Valorização: as ações da Petrobras valorizaram, desde a vitória  eleitoral do Lula até 24/04/24, mais de 155%, de R$ 16,20 para R$  41,24; apenas os valores de mercado de 10 ações concentram 50%  do total negociado na bolsa de valores brasileira de R$ 4,469 trilhões;  as valorizações e desvalorizações de ações na economia global determinam as oscilações da riqueza mundial, porque são cerca da  metade dos ativos financeiros e estes são mais da metade dela.   W – Wall Streetização: a capitalização das bolsas NYSE (US$ 25  trilhões) e NASDAQ (US$ 22 trilhões), com cerca de 5 mil empresas  listadas é mais de 47 vezes a da B3 com apenas 445 Sociedades  Anônimas; entre 2013 e 2022, a capitalização total de todas as  bolsas de valores aumentou de US$ 65 trilhões para US$ 105 trilhões  (US$ 120 trilhões em 2021); 58% da população norte-americana  (145 milhões pessoas) investem em ações, mas só 15% diretamente,  os demais em Fundos de Ações; os 10% investidores mais ricos são  donos de quase 90% das ações lá em circulação, inclusive os  investidores institucionais alocadores de capital em empresas  transnacionais da economia global “Wall-Streetificada”.  X – Xzação: obsessão de bilionários em usar X em suas marcas para  multiplicar seu dinheiro: Eike Batista usou EBX, MMX, CCX, IMX,  OGX, LLX, REX, NRX, JPX, MPX, OSX, AUX... e xfudeu; Elon Musk  fundou a X.com (futura PayPal), SpaceX, xAI, fechou o capital e  mudou a razão social de Twitter Inc. para X Corp. Xiii, vai xfu...   Y – Yuppiezação: “yuppie” é uma derivação da sigla-abreviatura de  Young Urban Professional, termo anglófono cunhado na Era Neoliberal  para designar um Jovem Profissional Urbano ganancioso, seja em  Wall Street, seja na Faria Lima ou no Leblon.   Z - Zangão: apelido de operador e/ou investidor na bolsa de valores  sem habilitação credenciada: investe todo o dinheiro em ações; não  suporta variações de renda variável; diversifica ingenuamente o  portfólio em ações das exportadoras de commodities; faz day trade freneticamente para se antecipar diante o Market-to-Market, isto é, o  processo pelo qual se define o preço de liquidação oficial de um ativo  futuro e ajusta as posições; não faz análise fundamentalista e  equivoca-se na análise técnica ou grafista; não reinveste os  dividendos; abandona a meta de melhor qualificação em sua  profissão, com a qual poderia obter maior renda, por causa da  ganância de enriquecimento rápido e fácil... *Professor Titular do Instituto de Economia da UNICAMP. Ex vice-presidente da Caixa Econômica Federal (2003-2007). Obras (Quase) Completas em livros digitais para download gratuito em: https://fernandonogueiracosta.wordpress.com/. Imagem em Pixabay. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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Cheia no Guaíba é iminente e será de grandes proporções

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Cheia no Guaíba é iminente e será de grandes proporções
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Guaíba entrou em cheia ainda na tarde desta quarta-feira (1º) e subirá muito nos próximos dias com grande inundação nas ilhas A MetSul Meteorologia alerta que uma cheia do Guaíba em Porto Alegre é iminente e que deve ser de grandes proporções, rivalizando com algumas das maiores da história nos últimos 80 anos. A população das ilhas de Porto Alegre e do Delta do Jacuí deve iniciar imediatamente os preparativos para remoção de objetos pessoais e preservar o seu patrimônio. O nível do Guaíba na régua do Cais Mauá, no Centro, que ontem estava em 1,40 metro nas primeiras horas da tarde, no começo da tarde desta quarta-feira estava em 1,97 metro e, assim, praticamente na cota de cheia de 2,00 metros. A tendência é que o nível siga subindo rápida e acentuadamente. As águas dos rios contribuintes (Jacuí, Taquari, Caí, Gravataí e Sinos) tardam até 48 horas para alcançar o Delta do Jacuí, na área de Porto Alegre, mas choveu demais na parte final desta bacias e a água recém começa a chegar. Quase toda a vazão da chuva já ocorrida ainda não chegou e tem mais chuva extrema para cair nos rios contribuintes, assim o pior da cheia deve ocorrer no final desta semana e na semana que vem na área do Guaíba. Não é possível estimar a altura exata que o Guaíba possa chegar, uma vez que o evento de instabilidade está distante do fim e o que vai chover ainda é previsão e não um dado real observado que possa permitir melhor avaliação, mas com o que já se sabe pelo que choveu e onde choveu é possível alertar que uma grande cheia é altamente provável. Considerando os picos históricos das últimas horas do Rio Taquari (27 metros no Porto de Estrela), a cheia enorme do Rio Caí (16,5 metros em São Sebastião do Caí) e a imensa quantidade de águe que caiu no Jacuí no Centro e no Norte do estado (300 mm a 500 mm), e ainda a tendência de chover mais nestas bacias, o Guaíba se encaminha para ter uma das maiores cheias dos últimos 80 anos, desde 1941. É factível que o Guaíba possa se aproximar ou atingir a cota de extravasamento de 3,00 metros no Centro, mas é cedo ainda para se afirmar que alcançará tal marca e quando. Neste época do ano, no último século, o Guaíba só atingiu 3,00 metros na enchente de abril e maio de 1941. Nas outras vezes em que transbordou com 3,00 metros, as enchentes se deram no fim do inverno e na primavera com 3,11 metros (setembro de 1967), 3,18 metros (setembro de 2023) e 3,46 metros (novembro de 2023). Informações da METSUL - Meteorologia.

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O Brasil é do senhor jesus

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O Brasil é do senhor jesus
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De EDELBERTO BEHS* Em mais uma manifestação conclamada pelo inelegível, a ex-primeira-dama aparece no caminhão do som, no domingo, 21/04, em Copacabana, no Rio, vestindo a “tradicional” camisete verde/amarela com os dizeres: “O Brasil é do Senhor Jesus”. Ou seja, o Brasil voltará a ser do senhor jesus (vamos colocar em minúsculas porque o Jesus do Novo Testamento não se presta a tal manipulação) quando a turma dela, com Malafaia na garupa, retomar as rédeas da nação. Em quatro anos, o país viu o que significa o senhor “mandando” no Brasil. Com toda a certeza, Cristo se envergonhou e se envergonha desse apoderamento de sua mensagem para fins eleitoreiros. Nos quatro anos em que o Brasil “esteve” com o senhor jesus, um ministro, Milton Ribeiro, também pastor, negociava com os pastores Gilmar Santos e Arilton Moreira a liberação de verbas federais para prefeituras, sob o pagamento de propina. Lembram? Que vergonha para a grei evangélica! Jesus se entristeceu. Teve outro ministro, Ricardo Salles, do Meio Ambiente, que em pleno período da pandemia sugeriu ao governo fazer uma “baciada” de mudanças nas regras ligadas às áreas da proteção ambiental e da agricultura, enquanto a nação e a imprensa se “distraiam” com os casos de covid-19. Era para “passar a boiada” sem chamar a atenção. Lembram? Jesus se entristeceu. Tem uma senadora, ex-ministra, eleita pelo Partido Republicano no Distrito Federal, também pastora, que “ouviu” dizer que na Ilha do Marajó crianças de três, quatro anos, têm os dentes arrancados para fazer sexo oral. Jesus adora fofoca? O messias tripudiou de pessoas acamadas pela covid, imitando-as com falta de ar, dizendo que não era coveiro, menosprezando a vacinação, propondo medicamento não apropriado, sugerindo que a população deixasse de ser maricas. Lembram? Jesus, que curou tantos enfermos na sua vida terrena, ficou perplexo. Mais perplexo ainda ficou quando o messias afrouxou as regras para a aquisição de armas e munição. Era importante “armar a população”. Jesus, que pregou o amor, não entendeu nada, mais confuso ainda ficou quando leu na camiseta da primeira-dama que o Brasil pertencia ao senhor jesus. Com as armas? O senhor jesus passou o maior vexame quando o messias que entendia representá-lo na cadeira presidencial, tentou trazer joias do Oriente Médio por baixo dos panos, tentando ludibriar policiais da aduana do seu próprio governo. Ou seja, presidente fazendo contrabando. Lembram? Ah, tem ainda aquele episódio com jovens venezuelanas da comunidade de São Sebastião, em Brasília, quando “pintou um clima” e o messias pediu para entrar na casa delas. Lembram? O governo do senhor jesus aprontou essas e outras mais. Por fim, nos estertores do seu mandato, na busca de impedir a posse de um capeta, o messias tentou aplicar um golpe, que deixou manifestantes na fogueira, alguns estão presos, enquanto ele se recolhia aos Estados Unidos e olhava de longe os acontecimentos na linha de baixo do Equador. Com muita coragem, claro! Esse foi um trailer de quatro anos do governo do senhor jesus. Repleto de mentiras, divulgação de fake news, agressões a jornalistas, a opositores, porque o messias batia e arrebentava (os mais fracos) e garantia que não teria eleições se o voto não fosse impresso. Perdeu. Jesus se sentiu aliviado por não ter mais que “emprestar” seu nome, tomado em vão, para os senhores da enganação. *Professor, teólogo e jornalista. Imagem em Pixabay. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia. 

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Legado do MDB gaúcho nas tragédias de Santa Maria e Porto Alegre

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Legado do MDB gaúcho nas tragédias de Santa Maria e Porto Alegre
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De ALEXANDRE CRUZ* Como jornalista político, é meu dever não apenas relatar os fatos, mas também analisar as consequências das decisões políticas sobre a vida dos cidadãos. E é com pesar que devo afirmar que, mais uma vez, vemos o triste resultado da negligência e da falta de responsabilidade por parte da gestão municipal. Recordemos a tragédia que assolou Santa Maria na fatídica noite na boate Kiss, um evento que não apenas ceifou centenas de vidas, mas também deixou cicatrizes indeléveis na alma da cidade e do país. Naquela época, o prefeito responsável era César Schirmer, cuja administração foi marcada por um dos piores desastres em solo gaúcho, gerando uma repercussão internacional. E agora, como um déja-vu macabro, somos confrontados com outra tragédia sob a gestão do MDB gaúcho. A Pousada Garoa, em Porto Alegre, tornou-se o palco de uma nova catástrofe, onde a negligência e a ganância custaram a vida de dez pessoas. É alarmante constatar que, mais uma vez, a inépcia administrativa tem um preço medido em vidas humanas. A evidência é clara: a prefeitura comprava vagas na pousada, pagando fortunas aos seus donos, mesmo sabendo que o estabelecimento não possuía alvará de funcionamento. Esta é uma falha grave que não pode ser ignorada, pois revela um desrespeito flagrante às normas de segurança e uma priorização questionável de interesses financeiros sobre a vida dos cidadãos. Ao ser confrontado com a magnitude da tragédia, o prefeito Sebastião Melo optou por uma resposta indignante: "não vamos politizar". Não se trata de politizar, mas sim de responsabilizar. É inadmissível que um gestor público tente se esquivar de sua responsabilidade diante de uma tragédia de tamanha proporção. O prefeito Melo tem, sim, toda a responsabilidade sobre o que ocorreu. Suas mãos estão manchadas de sangue daqueles que pereceram devido à sua negligência e à sua conivência com a falta de fiscalização. Mas esta não é uma tragédia isolada. Ela é apenas mais um capítulo em uma narrativa mais ampla de descaso com a segurança pública e de uma política que coloca em risco a vida dos cidadãos em prol de interesses particulares.  A Lei Econômica e os decretos de Sebastião Melo permitem que estabelecimentos funcionem sem alvará, apenas com autodeclaração. Isso é mais do que um erro administrativo, é um crime contra a vida e a segurança da população. O prefeito Melo, com sua ideologia que coloca o lucro acima da segurança, tem sim responsabilidade sobre a morte dessas pessoas. Não podemos aceitar que vidas humanas sejam tratadas como meros números em uma planilha de custos. É hora de cobrar responsabilidade dos nossos líderes políticos e exigir que a segurança e o bem-estar dos cidadãos sejam colocados em primeiro lugar. A memória daqueles que perderam suas vidas nessas tragédias merece justiça, e cabe a nós, como sociedade, garantir que essas tragédias não se repitam. *Jornalista político. Imagem: reprodução redes sociais. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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Por que temos que salvar a política?

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Por que temos que salvar a política?
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De ELIS RADMANN* Como pesquisadora que estuda o comportamento da sociedade, tenho visto se ampliar a descrença e a negação da política. Esse fenômeno ocorre associado ao aumento do individualismo e da intolerância, motivado pela influência da tecnologia em nosso cotidiano. Tenho destacado o quanto a política é fundamental para guiar nossa vida em sociedade. A política define as leis (o que podemos ou não fazer) e define a gestão dos serviços públicos (como será o atendimento da saúde, qual será a forma utilizada para combater a violência, se a educação será a prioridade e até o que será ensinado nas escolas). A política define o tamanho do Estado, de uma cidade e influência nos rumos da economia. E também é a política que diz a quantidade de impostos e tributos que devemos pagar e o que será feito com esse dinheiro. A política pode diminuir a tendência ao individualismo e ampliar o sentimento de comunidade. Com a política somos parte, somos inclusos, ela traz o sentimento de pertencimento. A política é a arte do diálogo, da negociação, da capacidade de transformar tese e antítese em uma síntese, de fazer com que o conjunto A e o conjunto B formem uma intersecção. A política fomenta o estabelecimento de regras, a harmonia do convívio social e transforma moral em ética. A política é responsável pelo contrato social entre as pessoas, entre as instituições e entre os governos. A política nos faz evoluir como seres humanos e sociais. Nos faz ver que precisamos uns dos outros, que o direito de um acaba quando começa o do outro. A política nos ensina que somos diferentes e podemos pensar de forma diferente, mas temos que lidar com a diferença de forma respeitosa e fazer isso com tolerância e empatia. Com a política podemos transformar sonhos em realidade. Mas, para que a política seja tudo o que ela se propõe, temos que ter consciência de que o jeitinho brasileiro está impregnado em nossa cultura e que temos que fazer a nossa parte. Que não adianta reclamar dos políticos e continuar praticando o jeitinho ou ficar omisso diante de pessoas que praticam o jeitinho. Temos a missão de salvar a política. Mas para salvar a política temos que ajudar a resgatar e ressignificar a política. E para fazer isso, temos que rever o nosso comportamento e o nosso envolvimento com a política. Se cada um de nós fizer um pouquinho em prol do bem comum, estaremos salvando a política e o resultado dessa ação irá repercutir e influenciar no comportamento e nas práticas dos partidos e dos políticos. *Cientista social e política. Fundadora do IPO – Instituto Pesquisas de Opinião. Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Imagem em Pixabay. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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