De ADELI SELL*

Eis um homem e uma vida à espera de uma biografia: João Batista Marçal.

Ele foi conhecido no Rio Grande do Sul como radialista, jornalista e por programas de TV. Na telinha ficou gravada numa geração a estampa eloquente de quem falava de Polícia e Crime na hora do almoço.

Repórter policial em jornal, dali para o rádio foi um pulo e, como ele mesmo disse, trabalhou em todas as rádios da capital e até da Região Metropolitana. Por sinal, numa rádio de Canoas ele mesmo anunciou que os policiais estavam chegando de camburão para prendê-lo e foi o que aconteceu.

Na Capital ele foi demitido da rádio por ter lido uma nota que saíra num grande jornal local, falando de uma palestra de Dom Helder Câmara em Estocolmo. O diretor o tirou dos estúdios minutos depois. Ou ia embora ou os milicos fechavam a rádio, pois o religioso de Recife era maldito pelos militares.

Foi ele quem introduziu, já no início dos anos 70, a música rebelde latino-americana em programas de madrugada, falava do povo para o povo, pois ele lembra que os jornalistas estão muito perto do poder, dos ricos, longe do povo.

Ele sempre estava com o povo. Não apenas fazia cobertura de uma ocupação na periferia, mas estava com as pessoas pobres e humildes ajudando, organizando. Era um homem da comunicação e da ação.

Sempre identificado com o ideário da esquerda, lembro bem dele nos primórdios do PT, indo às vilas de Porto Alegre, tomando um trago num boteco no Campo da Tuca. Depois, teve militância no PSB também.

Ele foi o maior pesquisador do movimento operário, dos sindicatos, dos partidos de esquerda, da militância proletária no Rio Grande do Sul.

Devo ter todos os livros dele, usando-os para minhas pesquisas.

De Quaraí, a fronteira mais comunista do mundo, como digo sempre, veio Marçal. Deixou para a posteridade uma biblioteca e um arquivo invejável. Este é o homem da livre expressão, o homem à espera de uma biografia.

*Escritor, professor e bacharel em Direito.

Foto: Acervo particular de João Batista Marçal.

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