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Opinião

Homenagem ao Jayme Caetano Braun

Homenagem ao Jayme Caetano Braun

Artigo por RED
01/02/2024 05:30 • Atualizado em 03/02/2024 23:52
Homenagem ao Jayme Caetano Braun

De JORGE ALBERTO BENITZ*

Em uma visita a Santo Ângelo, minha cidade natal, fui, com meu saudoso irmão, Carlos, e seu filho, Alan, a um dos “saleiros”, Bar Continental, que ficava na rua Marechal Floriano, uma quadra da Igreja Matriz. Saleiro é o nome que ele dava para um dos muitos bares em que frequentava. Sentados bebendo, naquela conversa desatada e faceira citamos o nome de Jayme Caetano Braun. De pé, encostado no balcão, bebendo cerveja, estava, a julgar pelas vestimentas rotas, um sujeito que parecia um peão de estância, figura meio estranha para a cidade que abriga mais granjeiros plantadores de soja do que fazendeiros.

Assim que ouviu o nome de Jayme Caetano Braun, começou a declamar uma poesia dele. Infelizmente, não lembro qual a poesia. Declamou com garbo a poesia inteira. Ficamos fascinados com aquela inusitada mostra de arte por uma pessoa sensível, capaz de guardar de memória um poema longo de um poeta já falecido e esquecido, graças a esta desmemoriada que é a mídia voltada para o mercado.  Aplaudimos e agradecemos pelo espetáculo que ele nos propiciou. Ele, meio sestroso, pareceu encabular com nosso agradecimento. Acho que não estava acostumado a gestos elogiosos. Era apenas mais um da legião dos invisíveis sociais que foi atingido pela mensagem da poesia chucra do grande pajador. Um vestígio que ilustra a força da cultura oral resistindo a tudo que ocorreu até hoje no Estado, país e mundo.

Esta cena remeteu-me a crítica ao que li ao Jayme Caetano Braun no artigo “Origem e Função dos CTGs”, de José Hildebrando Dacanal no excelente livro “Nós, os gaúchos”, Editora da Universidade, organizado por Sergius Gonzaga e Luís Augusto Fischer. Reli o artigo dele e percebi que, ao contrário do que pensava, ele não o critica. A impressão errônea que tive se deve ao fato de que ele inicia o artigo dizendo que iria responder ao Jayme Caetano Braun que o atacou por desprezar a cultura gaúcha. Sua crítica é dirigida a oligarquia pecuarista rural gaúcha que usa os símbolos tradicionalistas de um passado idealizado para tentar recuperar o poder que começou a perder com o Castilhismo e perdeu em definitivo com a revolução de 1930 de Vargas. Fui atrás do Dacanal de hoje e me deparei com o analista primoroso, já com o estilo enfant terrible, que ainda não tinha se tornado o midiático direitoso, useiro e vezeiro de frases de impacto para demonstrar seu ódio à esquerda e ganhar IBOPE. Agora estamos enrascados com o “Ogronegócio” bolsonarista, mas isso é outra história…


*Engenheiro, escritor e poeta.

Foto do monumento a Jayme Caetano Braun, construído pelo escultor Vinícius Ribeiro no trevo da CESA, junto à BR 285, onde foi construída uma Praça que possui um traçado em J e B Iniciais do seu nome – Prefeitura Municipal de São Luiz Gonzaga.

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