?>

Opinião

Herança de Bolsonaro é a barbárie

Herança de Bolsonaro é a barbárie

Artigo por RED
05/12/2022 05:00 • Atualizado em 06/12/2022 13:52
Herança de Bolsonaro é a barbárie

De EDELBERTO BEHS*

O bloqueio de rodovias e as ridículas manifestações em frente a quartéis em várias cidades brasileira não se limitam mais apenas a um tema político. Além desses “heróis da resistência” exporem o país ao ridículo, questionando a eficiências das urnas – só as do segundo turno, claro, num verdadeiro complexo de vira-lata, pois o Brasil não consegue produzir uma urna confiável – o assunto extrapola e entra no campo da desumanidade.

Talvez o caso mais emblemático ocorreu na quarta-feira, 23, na rodovia BR-364, em Sorriso, Mato Grosso, onde uma dessas barreiras criminosas impediu um pai, desesperado, de levar o seu filho de 9 anos, com cirurgia agendada, até o hospital em Cuiabá. O garoto sofreu um acidente na escola e precisava dessa segunda cirurgia para não perder o globo ocular.

“Aqui não vai passar”, berrou um ‘capitão do mato’, tosco, grosseiro, pouco se importando se o garoto ia perder o olho: “Que fique cego!” O pai do garoto é, segundo O Globo, Éder Rodrigues Boa Sorte. Ironia das ironias, eleitor de Bolsonaro! O outro filho de Éder, de 10 anos, pediu ao pai que se afastasse daquele bando de idiotas, criminosos, quando a discussão entre eles ficou mais acalorada. Foi uma autêntica cena da barbárie instalada no país. Agora, espera-se que esse dono da rodovia seja identificado e se defronte com as barras da Justiça, quiçá com as barras de uma cadeia.

Essa a herança que Bolsonaro e suas investidas de apoio à aquisição de armas deixou ao país. Desde candidato, mostrou desprezo a negros, pobres, indígenas, trabalhadores, favelados. Tripudiou doentes afetados pela covid. Foi um administrador relapso ao não adquirir a vacina de combate à pandemia em tempo hábil levando, assim, à morte de pelo menos 400 mil brasileiros e brasileiras. Bolsonaro estava incorporado naquele “capitão de mato”, dono da rodovia, que impediu a passagem de um pai desesperado para conduzir seu filho a uma cirurgia.

O silêncio de Bolsonaro após a derrota é corresponsável pelo clima de rebeldia que o país assiste. Assim como o presidente da República, são corresponsáveis esses generais que não acabam com essa palhaçada em frente aos quartéis, considerada área de segurança nacional, onde manifestantes “contra o comunismo” são admitidos sem qualquer represália.

Em Brasília, o mega macho Milton Baldin, de Juruena (MT), convocou caminhoneiros e portadores de armas, os CACs, a se apresentarem em Brasília, no dia 19 de dezembro, quando o presidente Lula e seu vice, Alckmin, serão empossados. “Somos 900 mil atiradores no Brasil hoje, venham aqui mostrar presença”, disse. Mostrar presença para matar?

Esse “cidadão de bem” sente-se autorizado por Bolsonaro a convocar atiradores. Afinal, ele foi motivado pelo presidente da República quando, ainda em campanha, pegou um tripé de televisão e, imitando uma arma, prometeu metralhar os 30 mil petistas do Acre. Onde estão as “otoridades” que permitem uma convocação criminosa, que fica sem consequências? Quando um candidato promete matar, sua candidatura teria que ser impugnada. Por medo ou covardia, o STE deixou o ovo da serpente se criar e hoje o país paga por essa imoralidade.

Defender a democracia, no país de Bolsonaro, é ser “comunista”, “desordeiro”, “vagabundo”, e o que mais? Se for mulher, ainda é “puta”. Esses que atravancam rodovias, se postam em frente a quartéis, portam a bandeira brasileira onde consta a insígnia “Ordem e Progresso”, são os primeiros, no entanto, a provocar, no momento, desordem e impedir o progresso. Quanta mercadoria perecível foi perdida com as tais barreiras?

Bolsonaro é um monstro, desumano, pior que lobo vestido em pele de cordeiro, que vem com belos versículos bíblicos e slogans para iludir brasileiros e brasileiras. E o pior: consegue o apoio de boa parte dos evangélicos, que embarcam aceitando mentiras, fake news, armamentismo…

Como entender a atitude desse “cristão” deixar pessoas sedentas sem acesso à água? Dai-lhes de beber, ensina o texto bíblico. O presidente que defende Deus, pátria e família cortou os recursos para o abastecimento de água potável em Estados do Nordeste, deixando cerca de 1,6 milhão de famílias sem o abastecimento necessário à condição de vida! E onde foi que o corte ocorreu! No interior do Nordeste! Será represália por Lula ter vencido por larga margem de votos a corrida presidencial nas urnas nordestinas?

A Operação Carro-Pipa, informa o Basil de Fato, é financiada com recursos do Exército em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). Essa operação vinha acontecendo há 20 anos!

Na medida em que Bolsonaro não assume formalmente a derrota e venha até a mídia, até as redes sociais, reconhecer que perdeu a corrida eleitoral, o país continuará assistindo esses atos criminosos. Com o seu silêncio, Bolsonaro incita a criminalidade.

Bolsonaro jamais pensou que perderia as eleições de tantas benesses distribuídas com recursos federais a brasileiros e brasileira, mas com prazo de vencimento. Agora tenta subterfúgios de todo tipo para melar o resultado das urnas.

Ele ainda quer “vencer” as eleições jogando fora das quatro linhas. Bom, não seria vencer, mas golpear o pleito. É crime atentar contra o Estado de Direito e isso vem sendo incentivado por um presidente da República, de um partido que teve sua bancada no Congresso aumentada nas eleições, mas denuncia falha nas urnas no segundo turno. É demais para a inteligência de qualquer ser pensante, cidadão, respeitador das leis e da ordem.

Se eu não ganhar, o jogo não vale. Esse o espírito dos “democratas” que pedem a intervenção militar, sem se darem conta que já vivemos, não faz muito tempo, sob um regime militar, autoritário, e o que representou às liberdades cidadãs. Vão estudar um pouco de história, de ética, de sociologia, de filosofia, de política, mas, principalmente, sobre comunismo, para não demonstrarem tanta ignorância em praça pública.


*Professor, teólogo e jornalista.

Imagem em Pixabay.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

Toque novamente para sair.