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Hacker diz que Bolsonaro grampeou Alexandre de Moraes e pediu para que ele “assumisse a autoria”; depoimento também cita invasão a urna eletrônica e proposta de indulto
Hacker diz que Bolsonaro grampeou Alexandre de Moraes e pediu para que ele “assumisse a autoria”; depoimento também cita invasão a urna eletrônica e proposta de indulto
O hacker Walter Delgatti Neto afirmou em depoimento a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas que se encontrou com o então presidente Jair Bolsonaro, em 2022. Na conversa, Bolsonaro teria relatado que o governo conseguiu grampear o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Delgatti afirma que Bolsonaro sugeriu que ele “assumisse a autoria” do grampo, já que o hacker assumiu a Vaza Jato – conversas entre autoridades ligadas à operação Lava Jato que foram acessadas e vazadas. Segundo ele, não haveria questionamentos “da esquerda” nesta estratégia.
O hacker ainda ouviu na conversa que o grampo foi feito por estrangeiros. Porém, ele não acessou os conteúdos nem sabe se realmente existem. O encontro entre os dois aconteceu no Palácio da Alvorada, em Brasília, e foi intermediada pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
Invasão das urnas eletrônicas
Além do grampo no ministro do STF Alexandre de Moraes, que também é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o esquema envolvia a invasão das urnas eletrônicas. Delgatti afirma que o ex-presidente perguntou se ele conseguia invadir as urnas para testar a lisura dos aparelhos.
“A ideia era falar sobre as urnas e sobre a eleição, e sobre a lisura das urnas. E a conversa, ela foi bem técnica, até que o presidente me disse. Falou assim: ‘Olha, a parte técnica eu não entendo, eu irei enviá-lo ao Ministério da Defesa e lá, com os técnicos, você explica tudo isso'”, disse em depoimento na CPMI.
O hacker foi levado ao Ministério da Defesa pelo general Marcelo Câmara, assessor de Bolsonaro. Na reunião, o general teria discordado da ideia, mas Bolsonaro mandou cumprir a ordem.
Delgatti relatou que a ideia inicial era inspecionar o código-fonte das urnas eletrônicas. No entanto, o código fica no TSE e somente os servidores possuíam acesso. Assim, os servidores do Ministério da Defesa iam ao TSE e repassavam a ele o que viam, mas não podiam levar a íntegra do código até o hacker.
Em outubro de 2022, em uma reunião com assessores de campanha de Bolsonaro, Delgatti foi aconselhado a criar um “código-fonte falso” para sugerir as urnas eletrônicas são vulneráveis e passíveis de fraude. A proposta teria sido feita pelo marqueteiro Duda Lima.
O hacker ainda descreveu um plano B: “A segunda ideia era no dia 7 de setembro, eles pegarem uma urna emprestada da OAB, acredito. E que eu colocasse um aplicativo meu lá e mostrasse à população que é possível apertar um voto e sair outro”.
“O código-fonte da urna, eu faria o meu, não o do TSE. Só mostrando, a população vendo que é possível apertar um voto e imprimir outro. Era essa a ideia”, completou.
Relatório da Defesa
Além de assumir a autoria do grampo e invadir as urnas eletrônicas, o hacker Walter Delgatti também afirmou ter orientado o relatório do Ministério da Defesa sobre as urnas eletrônicas entregue ao TSE em novembro de 2022, após as eleições.
O documento não apontou qualquer indício de fraude, mas sugeriu “ajustes” no sistema e que não era possível comprovar a “isenção das urnas”. O posicionamento do ministério foi o único, entre os demais feitos por autoridades nacionais e internacionais, a colocar dúvida sobre as urnas.
Delgatti disse que não escreveu o texto, mas que chegou as conclusões após receber parte do código-fonte dos servidores que foram ao TSE. Elas foram transmitidas aos técnicos do Ministério da Defesa. “Eu posso dizer hoje que, de forma integral, aquele relatório tem exatamente o que eu disse, não tem nada menos e nada mais”, declarou.
Indulto
Ainda na reunião na Alvorada, Delgatti disse à CPMI que Bolsonaro lhe prometeu indulto caso fosse preso ou condenado por participação no esquema.
“Sim, recebi. Inclusive, a ideia ali era que eu receberia um indulto do presidente. Ele havia concedido um indulto a um deputado federal. E como eu estava com o processo da Spoofing à época, e com as cautelares que me proibiam de acessar a internet e trabalhar, eu visava a esse indulto. E foi oferecido no dia.”
Assista ao depoimento:
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado.
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