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Guerra e revolução
Guerra e revolução
Por CELSO JAPIASSÚ*
Alguns historiadores costumam afirmar, num aparente paradoxo, que o Século XX foi o mais breve da História porque começou em 1918 e encerrou-se em 1989. São realmente duas datas simbólicas e marcantes. Pois 1918 assinala o término da Primeira Guerra Mundial, que destruiu e reconstruiu a Europa existente até então. Em 1989 houve a derrubada do muro de Berlim e o fim da União Soviética, refazendo mais uma vez a configuração do mundo.
Mas é indiscutível que a Revolução Comunista, que ocorrera em 1917, foi o mais importante marco do século que se iniciava, pois exerceu forte influência sobre todos os países, especialmente os da Europa. Foi quando começou realmente o Século XX e as suas transformações políticas sob as quais até hoje estamos vivendo. Foi um século à sombra de duas guerras mundiais e de uma angustiante e ameaçadora Guerra Fria. E foi a presença soviética – e reconhecido sacrifício – que garantiu a vitória dos Aliados na Segunda Guerra.
Os partidos comunistas nacionais tiveram importante participação na resistência ao nazismo, durante a Segunda Guerra, e fortaleceram-se na luta operária que se seguiu. As reformas no aparato das leis do capitalismo, que o teriam “humanizado” em benefício dos trabalhadores, foram feitas diante da pressão dos partidos comunistas e da ameaça de revoluções operárias inspiradas na Revolução Russa.
A debacle da União Soviética, que alguns, referenciando-se em Hegel e num artigo do estadunidense Francis Fukuyama, viram como “o fim da história”, afetou profundamente os partidos comunistas europeus. Alguns desapareceram na onda do anticomunismo ou reformularam-se profundamente, outros mudaram seus nomes. Muitos, como o fizeram durante a agressão nazista, passaram para a resistência, desta vez sem precisarem se refugiar na clandestinidade.
Um complô
O PCI-Partido Comunista Italiano surgiu em 1943, sucedendo o Partido Comunista da Itália, e durou até 1991. Foi tido como o maior partido comunista do Ocidente. Chegou a obter 35 por cento dos votos nas eleições de 1976. A partir daí negociou um pacto com a Democracia Cristã para uma coligação que se vislumbrava imbatível. Seria a primeira participação do PCI no governo italiano se não tivesse sido derrotado antecipadamente por um complô que, hoje se conhece em pormenores, foi planejado e executado pela Agência Central de Inteligência americana, a CIA. Agentes infiltrados nas Brigadas Vermelhas planejaram e executaram o sequestro e o assassinato de Aldo Moro, líder da Democracia Cristã, que patrocinava os entendimentos com o PCI. O crime traumatizou o país e inviabilizou o acordo. Era o objetivo da CIA com o sequestro de Moro.
O PCI foi dissolvido em 1991 para dele surgir o Partido Democrata de Esquerda-Partito Democratico della Sinistra-PDS, que depois adotou o nome de Democratas de Esquerda-Democratici di Sinistra–DS. Adotou os pressupostos da Democracia Cristã depois de realizar a fusão com outros partidos de centro esquerda e passar a chamar-se Partido Democrático-PD. Tem internamente diversas alas e diferentes tendências ideológicas. Um “partido pega-tudo”, como dizem os italianos.
A dissolução do PCI deu ainda origem a outros dois outros partidos que se autodenominam seus legítimos continuadores: o Partido da Refundação Comunista (PRC) e o Partido dos Comunistas Italianos (PdCI).
PCF, o declínio
O PCF foi um dos grandes partidos franceses. Seu prestígio e influência vieram da luta contra a invasão nazista, pois foi ele quem liderou toda a luta clandestina de resistência. Nas primeiras eleições após a guerra teve mais de 26 por cento dos votos. Passou a participar dos governos da França, mas, com a Guerra Fria e a fundação da OTAN, foi alijado do poder pelos socialistas e democratas-cristãos. As campanhas anticomunistas o mantiveram afastado do governo embora tenha mantido sempre forte influência na política francesa. Voltou a participar do poder nos primeiros anos da presidência de François Miterrand, mas esta coligação com o Partido Socialista veio, no entanto, a esvaziá-lo eleitoralmente. Os socialistas ocuparam o seu espaço.
A crise pela qual passou o Partido Comunista Francês e o seu aparente declínio foram parcialmente recuperados com a criação da Frente de Esquerda – Front de Gauche em 2008 e as campanhas de Jean Luc Mélenchon, mas o partido ainda procura situar-se para recuperar a sua tradicional importância no palco político do país.
PCP, a resistência em Portugal
Fundado em 1921 e curtido na ilegalidade durante toda a ditadura salazarista, que durou de 1932 até a Revolução dos Cravos, em 1974, o Partido Comunista Português-PCP é um dos mais antigos da Europa. Nunca abandonou uma ativa militância mesmo quando seus líderes se encontravam exilados ou na clandestinidade para escapar da PIDE, a sinistra polícia política, e não serem torturados ou mortos. Mantem-se marxista-leninista em seus fundamentos ideológicos e continua em intensa atividade na cena política portuguesa. Controla vários municípios, possui deputados na Assembleia da República e no Parlamento Europeu e representa considerável força eleitoral.
O combativo Bloco de Esquerda (https://www.bloco.org/) tem entre seus fundadores a União Democrática Popular (marxista), o Partido Socialista Revolucionário (trotskista) e a Política XXI, todos com origem no PCP.
Centenas de partidos e movimentos comunistas espalham-se pelo mundo. Alguns no poder, como é o caso da China, onde o PCC governa o país desde 1949 e o de Cuba, fundado por Fidel Castro, além do Vietnam, que venceu uma guerra contra o país mais poderoso do mundo. Outros continuam na luta em busca de maior espaço político.
A queda do muro de Berlim é vista como a vitória do capitalismo com o fim da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética. Mais de 30 anos depois, no entanto, a resistência dos partidos comunistas em todo o mundo vem lembrar que ainda se canta a Internacional e a utopia continua viva.
*Celso Japiassú é poeta, articulista, jornalista e publicitário. Trabalhou no Diário de Minas como repórter, na Última Hora como chefe de reportagem e no Correio de Minas como Chefe de Redação antes de se transferir para a publicidade, área em que se dedicou ao planejamento e criação de campanhas publicitárias. Colaborou com artigos em Carta Maior e atualmente em Fórum 21. Mora hoje no Porto, Portugal.
Foto da capa: Lenin discursando no Congresso dos Soviéticos em novembro de 1917. Reprodução.
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