Opinião
Gilda, esquecida
Gilda, esquecida
De ADELI SELL*
Não falarei do filme Gilda, da Rita Hayworth, de 1946. Falarei da pelotense Gilda Marinho (1906-1984). Lembrei-me que ela já estava aqui, pois chegou em 1930. Quem fez referência dela com o filme foi o jornalista Paulo César Teixeira em recente artigo na ZH.
Reconheço nele, como nos jornalistas Márcio Pinheiro, Marcello Campos e outros poucos, aqueles que fazem resgates e buscam focar as luzes em personalidades e fatos importantes de nosso passado que somem de (quase) tudo.
Quando se lê sobre Gilda Marinho os estereótipos aparecem: deslumbrante, à frente de seu tempo e frequentadora das altas rodas.
Gilda Marinho era múltipla: jornalista, fez crônicas sociais muito além das amenidades, tradutora. Trabalhou na Revista do Globo e em vários periódicos da chamada “grande mídia”, em rádios, como colaborou com publicações sindicais e operárias e da luta das mulheres. Foi bibliotecária na Faculdade de Belas Artes.
Era próxima (sem ser filiada) ao PCB, espaço onde nunca foi valorizada; foi se distanciando até chegar ao PSB e ao PTB, sendo defensora da posse de Jango, o que lhe custou muito caro.
Pouco se sabe sobre sua vida privada, porque ela mesma só “dava bandeira” na rua, nas vestes, com sua piteira e seu cigarro, o copo de uísque noutra mão, os jogos no Clube do Comércio em cujo prédio morava.
Por que é tão esquecida?
Porque não se enquadrava nos ditames machistas e conservadores do nosso Estado. No partidão não teria a mínima chance de exposição, ainda mais que foi largando o partido aos poucos. Vejam o que aconteceu com Lila Ripoll dos quadros do partidão? O que aconteceu com Jurema Finamour, não só desdenhada pelo partido, mas hostilizada por criticar o comunista Pablo Neruda. Finalmente é bom lembrar-se de Laura Brandão morta no exílio soviético. Desta falarei em breve.
Gilda Marinho nos 20 anos de sua morte recebeu uma placa numa micro praça no Bairro Chácara das Pedras.
Já na Exposição de Motivos liam-se os chavões: “Gilda, mulher, pioneira, espírito, humor, brilho, inteligência vivaz”. A proposta foi do então vereador Cláudio Sebenelo. A placa por si explica tudo o que acabamos de falar. E para completar, o chavão está na placa: “charme e talento do jornalismo social”.
O século XX ainda foi um tempo de poucas chances para as mulheres, e quando furavam bloqueios familiares ou sociais eram sempre lembradas como “diferentes”, menos pelo que fizeram, menos pelo que escreveram.
Vamos, aos poucos, resgatando essas pessoas, em especial as mulheres.
*Escritor, professor e bacharel em Direito.
Imagem – reprodução da internet.
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