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Opinião

Fragmentação da sociedade brasileira: reflexões a partir do bolsonarismo e do filme “The Collini Case”

Fragmentação da sociedade brasileira: reflexões a partir do bolsonarismo e do filme “The Collini Case”

Vazio por RED
09/08/2023 05:25 • Atualizado em 10/08/2023 08:07
Fragmentação da sociedade brasileira: reflexões a partir do bolsonarismo e do filme “The Collini Case”

De ALEXANDRE CRUZ*

Na madrugada de domingo surge a insônia. Escolho um filme alemão: “O Caso Collini”. Sabe-se pouco sobre esse longa-metragem… Poucas pistas sobre esta obra audiovisual, mas não houve arrependimento, pois nos convida à reflexão. A sociedade é um caleidoscópio complexo de ideias, valores e vozes. No entanto, em tempos modernos, essa tapeçaria colorida muitas vezes é rasgada pelo ódio que gera fragmentação. Do cenário político brasileiro à tela do streaming, observamos reflexos intrigantes desse fenômeno… O bolsonarismo e o filme “The Collini Case” assombram e iluminam, cada um à sua maneira, as fissuras que desafiam a coesão social.

O bolsonarismo, com seu slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, construiu uma narrativa vigorosa de nacionalismo (que os fatos comprovam ser mais um entreguismo ao capital internacional), religião e convicções morais – ou por que não afirmarmos, amorais? Essa retórica incendiária alimentou o tecido social brasileiro, dividindo a sociedade. Esse tecido nacional se desgasta quando costurado com linhas de ódio que fere o código civilizatório. Enquanto isso, “The Collini Case” nos transporta para a tela do notebook, mergulhando-nos em um mundo de justiça, moralidade e história. O filme destaca que eventos passados não se dissipam facilmente; suas sombras podem ecoar através das décadas, afetando gerações presentes. A história é um fio que costura passado e presente, tecendo uma tapeçaria complexa de responsabilidade e reconciliação.

Entre os dois contextos, emerge um tema unificador: a herança maldita. No Brasil, as cicatrizes da ditadura militar, somadas à continuidade dos ratos que saíram dos porões dos anos de chumbo para a presidência de Jair Bolsonaro e às desigualdades históricas, influenciam o presente, moldando opiniões e perspectivas. Em “The Collini Case”, a herança de uma execução do passado revela-se como uma chama ardente que ilumina a escuridão do presente. Ambos os cenários são lembranças de que o passado não é um capítulo encerrado, mas sim um impacto duradouro. E cabe a pergunta: quando iremos sentir com mais intensidade o impacto nefasto da gestão Bolsonaro?

A identidade nacional e a justiça são conceitos centrais que os dois contextos nos instigam a considerar. O bolsonarismo nos faz questionar o que significa ser brasileiro em meio a tamanha fragmentação. Qual é o nosso valor? Generosos, cordiais, com fome de cultura, ou cruéis, racistas, misóginos, homofóbicos e com total desprezo pelas vidas? Enquanto isso, “The Collini Case” nos coloca diante do espelho da justiça, nos fazendo questionar se os sistemas jurídicos são capazes de enfrentar a herança maldita do passado.

O bolsonarismo e o filme são dois lados de uma moeda que lançam luz sobre as complexidades da sociedade contemporânea. Ambos nos convidam a refletir sobre nossas próprias posições, a questionar a cadeia de comando, da qual a Hannah Arendt escreveu tão bem na obra “Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a Banalidade do Mal”.

Em um mundo em que as narrativas se entrelaçam e as ideias divergentes muitas vezes se chocam, somos desafiados a costurar novamente o tecido social, talvez com linhas de empatia, compreensão e um anseio por uma unidade que seja acolhedora, não excludente. Isso será possível sem punição? O obstáculo é grande, mas é através desse desafio que podemos moldar um futuro onde a pluralidade seja a força que nos une e a fragmentação seja superada pelo diálogo, mas sem anistia, com erradicação do bolsonarismo que se associa ao ódio.


*Jornalista.

Imagem em Pixabay.

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