Opinião
Fantasmas da ditadura não podem ser desprezados
Fantasmas da ditadura não podem ser desprezados
De ALEXANDRE CRUZ*
Uma cena arrepiante e surpreendente se desenrolou nos corredores da Câmara Municipal de Porto Alegre no longínquo passado, quando um assessor parlamentar se deparou com um rosto que lhe trouxe à tona memórias terríveis de um período sombrio da história do Brasil. Diante dele, estava ninguém menos que Didi Pedalada, o torturador que havia feito parte de seus piores pesadelos.
O pânico tomou conta do assessor, que se viu paralisado diante de seu algoz, relembrando com angústia os momentos de terror e violência pelos quais havia passado. A presença de Didi naquele ambiente, como se nada tivesse acontecido, trazia à tona um misto de revolta e impotência diante da brutalidade do passado que marcara sua vida de forma indelével.
Enquanto isso no tempo presente, o desdém do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva com relação ao golpe de 1964 causou indignação e perplexidade, quando, em uma entrevista à RedeTV!, na semana passada, Lula minimizou os desdobramentos do golpe militar dizendo:
“Estou mais preocupado com o golpe de 8 de janeiro de 2023 do que com 64. Eu tinha 17 anos de idade, estava dentro da metalúrgica Independência quando aconteceu o golpe de 64. Isso já faz parte da história. Já causou o sofrimento que causou. O povo já conquistou o direito de democratizar esse país. Os generais que estão hoje no poder eram crianças naquele tempo. Alguns acho que não tinham nem nascido ainda naquele tempo. O que eu não posso é não saber tocar a história para frente, ficar remoendo sempre, remoendo sempre, ou seja, é uma parte da história do Brasil que a gente ainda não tem todas as informações, porque tem gente desaparecida ainda, porque tem gente que pode se apurar. Mas eu, sinceramente, eu não vou ficar remoendo e eu vou tentar tocar esse país pra frente”.
A fala em questão causou reações inflamadas entre aqueles que ainda carregam as cicatrizes da repressão e da violência daquela época.
Diante desses eventos chocantes e emocionantes, somos confrontados com a brutalidade e as consequências de um passado que insiste em manter sua presença viva em nossas vidas. A confrontação entre vítima e algoz, o desdém diante de feridas ainda abertas, tudo isso nos lembra da importância de reconhecer e confrontar os traumas do passado para construir um futuro mais justo e humanitário.
Que esses episódios sirvam como uma reflexão de que a memória e a justiça nunca devem ser esquecidas, e que a busca pela verdade e pela reparação das injustiças do passado é essencial para a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática e igualitária. Que cada confrontação nos faça refletir sobre o que realmente importa e nos inspire a lutar por um mundo melhor, onde o respeito, a dignidade e a compaixão sejam os pilares de nossa convivência.
*Jornalista.
Imagem em Pixabay.
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